Angélico e o valor da vida… e da morte

 

 

 

 

 

 

 

Em conversa com um amigo, este desvalorizava a morte de Angélico em comparação com outras mortes de figuras públicas ocorridas recentemente. Na sua opinião, Angélico não era ninguém e, por isso, o seu desaparecimento é coisa de somenos, até porque a culpa da morte foi dele.
Esta conversa fez-me pensar no valor que tem a vida e a morte de alguém. Uma vida não tem preço e nenhuma vida vale mais do que outra, sobretudo quando colocamos na equação os nossos preconceitos e os nossos julgamentos pré-fabricados.
É por isso que me custa a aceitar que a morte de um seja coisa de somenos em comparação com a morte de outro. E é também por isso que me custa aceitar esta verdade: pensando em todas as circunstâncias envolvidas, há mortes que são mais de lamentar do que outras. A morte de um Angélico, por exemplo, é muito mais triste e lamentável do que a morte de um António Feio.
O meu amigo não é dessa opinião. Para ele, António Feio tinha muito mais valor, era bom no que fazia e Angélico era sofrível. Ainda segundo ele, Angélico ficou famoso apenas por ser muito bonito, enquanto que António Feio, apesar de ser feio, chegou onde chegou. Para além disso, Angélico morreu por culpa própria, enquanto que António Feio nada pôde fazer contra o cancro que o vitimou.
Não reconheço nenhum destes argumentos. Acusar um morto de ter sido o responsável pela sua morte parece-me de mau gosto. Alguém que contrai SIDA por não usar preservativo, cancro do pulmão por fumar muito, ou cancro do fígado por beber demais, ainda tem de passar por um julgamento moral? Neste caso concreto, até parece que o rapaz não teve qualquer culpa. Excesso de velocidade? Quem atira a primeira pedra?
Quanto ao facto de um ser bom na sua profissão e o outro ser mau, é tudo muito relativo. Se perguntassemos a uma das miúdas do Santo António, elas não diriam que Angélico era mau, pelo contrário. Nunca vi ou ouvi nada de Angélico, e vi muita coisa deliciosa de António Feio, um actor excepcional, mas atrever-me-ia a dizer que, se calhar, o primeiro fez mais pessoas felizes do que o segundo. Quanto à utilização do corpo para singrar, são os falsos moralismos a falar mais alto. Os preconceitos de quem acha que um rapaz bonito tem de ser burro.
Nada disto, pois, me impressiona. A não ser algo que distingue e muito os dois casos: António Feio teve a felicidade de viver mais 30 anos do que Angélico. E por muito que não concordem, choca-me muito mais a morte de uma pessoa com 28 anos do que a morte de uma pessoa com 56. Como me chocaria muito mais a morte de António Feio em comparação com a morte de Manuel de Oliveira, se um dia ela vier a ocorrer. Como me chocou, muito mais do que a morte de Angélico, a morte da criança de 4 anos que se fechou no carro do pai, ou da criança de 2 anos vitimada por um incêndio no próprio quarto por causa de uma ventoinha.
Se a vida fosse justa, ninguém morreria sem ter vivido. E nenhuma criança morreria. E nenhum pai e nenhuma mãe veria o seu filho partir. Até por isto, a morte de Angélico é profundamente lamentável.

Comments


  1. Morte,é morte!
    Conheci o António de miúda o angélico não me duzia nada , morreu, eu estive entre a vida e a morte!
    Paz às suas almas!!!,

  2. Alguém que não percebe muito das coisas says:

    A morte de um ser humano, seja ele quem fôr, tenha sido ou não boa pessoa, tenha feito algum bem ou mal à sociedade, é sempre de lamentar. E sim podemos comparar as mortes. A morte de uma pessoa atacada por um mal que a venceu apesar da luta é muito mais chocante que a morte de uma pessoa, em que ela própria foi interveniente na causa. Não estamos a falar de velocidade, nem se calhar da falta de cinto de segurança, ou do que possa ou não ter ingerido. Falamos sim da responsabilidade que não existiu no caso do Angélico. Pessoas famosas têm responsabilidades acrescidas perante a sociedade. São muitas vezes consideradas modelos a seguir e como tal, não devem pensar só no próprio umbigo, mas também naqueles que lhes dão a fama.
    É claro que a morte de um jovem é sempre chocante, apesar de no caso presente, a causa ter sido a mesma que levou à morte centenas de jovens nos últimos anos. O António Feio também morreu de morte já considerada comum, tal como a sua irmã, tal como tantos outros portugueses que lutaram numa batalha para a qual não estavam preparados. É essa a grande diferença. A diferença entre uma pessoa que se atira ao abismo e de uma que foi atingida por um raio.

  3. Artur says:

    Posso compreender que se chore a morte das pessoas que nos são queridas; posso comprender que se lamente a morte das pessoas que significram algo para nós, seja porque nos divertiram ou porque nos ensinaram alguma coisa; não posso compreender é que continuemos a ser chocados pela morte. A morte já nos acompanha desde há milhões de anos, já deveriamos por esta altura estar melhor preparados para a receber; é o destino natural de todos os seres vivos; morrer ultrapassa os conceitos humanos de justo ou injusto. Mais tarde ou mais cedo ela vai chegar para todos nós.Tudo isto está mais do que sabido, contudo todos procuram fugir à constatação desta verdade, como se isso lhes permitisse obter mais tempo de vida. Quando alguém que me é próximo morre, costumo pensar: viveu bem, foi feliz, vai-me fazer falta. Agora chocado? De maneira nenhuma. Qualquer dia sou eu.Qualquer dias são vocês. Vivamos o melhor que podermos até lá.

  4. jão says:

    Plenamente de acordo.J.C.


  5. Todos os dias morrem dezenas (centenas?) de jovens a quem poderia atribuir-se, pelo menos, uma valia igual à do dito Angélico.
    Transformar a morte de alguém numa notícia nacional é que é uma grande porcaria. Explorar até ao tutano os sentimentos dos (das) fãs do rapaz é das formas mais reles de “jornalismo” que se fazem actualmente. (mas v€nd€m-s€ muitos jornais e ating€m-s€ elevadas audiências…)

  6. Desafiar a morte da nisso... says:

    Meu Caro, acho uma afronta estares a comparar a vida e obra do António Feio com um rapazito que fez e brincou com a vida! Não à comparação possível! Mas já que parece que dizes que lamentas mais um jovem de 28 anos nos deixar do que um que tenha 56, faço-te uma pergunta. E um que tenha 25 anos não é mais de lamentar do que quem tenha 28?? Lembraste de um rapaz chamado Hélio Filipe ,já ouvistes falar?? Pois é ninguém se dignou em falar dele, porque será…
    Em relação ao Angélico, só digo isto, “cada um colhe o que semeia”… Quem desafia tanto a MORTE como ele fazia a conduzir e atenção não me refiro apenas no dia do acidente, mas sim no dia a dia deste rapaz na condução, mais cedo ou mais tarde a morte lhe bateria à porta.
    Não tenho pena dele, tenho isso sim da família, principalmente os Pais, porque é muito triste os Pais verem os seus filhos irem à sua frente, contra a lei da vida em condições normais.

    Os meus pesamos à família de Angélico

  7. Rodrigo Costa says:

    … Bem, eu poderia começar por dizer que, quanto a ser artista, no sentido da palavra, o António Feio, dos dois, era o único que era. Que isso bastaria para ser poupado à morte?… Nem adiantr discutir, porque está visto que não bastou.

    Por que é que há-de chocar mais a morte de um jovem do que a de um menos jovem?… Porque é que não poderíamos partir do principio de que, morrendo alguem mais idoso, morre alguém mais experiente, com mais sabedoria, que poderia ser mais útil?… É um bocadinho como quem perguntase, a um miúdo, quem é que ele quereria que moresse, se tivesse que ser, o pai ou a mãe?… Há questões que não fazem sentido, muito mais quando todos dizem querer combater a discriminação.

    Há, de facto, uma hipótese de critério, absurdo, que acabei por construir, a partir da realidade da vida que vivemos; e montei-o na altura em que morreu o filho do Onassis, em desastre de avião. Nessa altura, pensei que era um desperdício a morte de alguém que tinha tudo para viver feliz ou, pelo menos, sem limitações económicas; e pensei, então, que seria melhor que morressem os pobres. E que, mais, as doenças prolongadas fossem para os ricos, porque dispõem de capacidade económica para suportar os tratamentos; e que as mortes súbitas fossem para os pobres, porque não têm como pagar o sofrimento…

    Não há, meus caros, a “cidade perfeita”; há o que tem que ser. E talvez a nossa moderação comece na interiorização disso mesmo. Estou com o Artur. Eu até diria que o “choque”, neste como noutros âmbitos, faz parte de uma certa forma de percepção da Vida. A tristeza não, faz falta para o recolhimento, para a reflexão.

  8. Konigvs says:

    Sobre a morte deste sujeito só tenho a dizer que, as que as pessoas quando metem alguém no seu carro devem ser responsáveis por elas, e ele nunca atitude de total desrespeito e irresponsabilidade matou uma pessoa e deixou outra às portas da morte.

    Na mesma semana morreu um senhor, um exemplo para todos de iniciativa, alguém que com a 4a classe construiu um império industrial, o funeral nem apareceu nas televisões, enquanto isso preferem especular diariamente sobre um ilustre desconhecido se levava cinto, se o pneu rebentou, e mais um rol de imagens sensacionalistas de alguém que irresponsavelmente se despeitou num acidente de automóvel completamente estúpido.

    Daqui por um mês, ninguém se lembrará desse sujeito ex morangos, enquanto que daqui por cem anos toda a gente lembrará Salvador Caetano, o homem que veio do nada e trouxe a Toyota para Portugal. Mas em Portugal só vende o cor-de-rosa, os bons exemplos esses não vendem jornais nem dão audiências.


  9. Não gosto muito destes temas … Digamos q estamos face à incomensurabilidade do valor da vida de cada um.

    Mas vou fazer de conta que quer o António Feio quer o Sandro [Angélico Vieira] estão vivos y que até me podem ler …
    Ao António Feio digo: Epá … Cria fama Y deita-te na Cama … ainda sou do tempo em que todo o teu trabalho me provocava bocejo Y mesmo qd era bem pequenina me questionava o que fazia um gajo tão FEIO numa novela … nem graça tinha … Y, ao longo da vida, vida fora mudava de canal … mas com o tempo mudamos … Y se não gostava do trabalho – Nunca gostei … nem nada de extraordinário me parece – a pessoa António Feio foi ganhando 1 espaço y uma atenção … Eras um gajo bem Porreiro Pá! Bem fixe. Tão fixe que bem q podias ter um trabalho que até foi melhorando ( tornando-se mais suportável ) … Mas bom … Aqui penso no Javier bardem … Um Gajo espanhol bem feio ( feio-bonito pq abusa no charme!!) … Sim. Tive pena qd te foste embora, fiquei trite como todos … mas, o teu trabalho nunca gostei dele – Mudava sempre de canal, tentei mts vezes ver … É como aqueles livros q nos forçamos a ler Y desistimos sempre … Mas Morreste comigo a gostar da tua Pessoa … A curtir-te como pessoa … Pfff o Trabalho??? Cada um faz o que pode!!! ( Y o que lhe deixam fazer … etc. etc. etc por aí )

    O Sandro … ( o Angélico Vieira) É garoto! … neste País ser Pobre Y bonito é como uma deficiência! Acabei de ver 1 víeo teu numa telenovela Brasileira!! Nunca tinha assistido! Hey! UAU! Mais do que BO_NI_TO & Garotão VC BRILHOU!! Fiquei Orgulhosa da sua prestação naqueles seis minutos … Superou todas as minhas expectativas!! … calha andar a ver de quando em vez uns episódios de uma Novela Brasileira em q entram uns Tugas – geração&Escola Feio!! – UAU VC no Brasil FEZ UPDATE à qualidade dos actores Tugas! Pena que neste País … não tenham visto!!! Vc fez mesmo Update – GRANDE ACTOR http://www.youtube.com/watch?v=7tU-1bLQAEM atendendo à escola Y ao self-made-man muito bem …muito bem mesmo. Vou ver o Filme do Joaquim Leitão … Melhor: vou ver-te no filme do Joaquim Leitão … Olha … Do que me lembro … quem agora te compara ao António feio … devia comparar na mesma idade o trabalho de um Y de outro … Acho que estás em vantagem. Acho que ganhas … Y não é só por seres Belo. Mas … vai contando com isso: neste País: ser Pobre & Bonito é deficiência, mas uma deficiência em que todos abertamente – quando se julgam superiores – acentuam o handicap … ao limite da Crueldade.
    Ficas desejo. Isso: Desejo. Vou viver também pensado em ti y nos desejos de imaginar como seriam os teus trabalhos se tivesses envelhecido com os que ficam ou vão ficando, Y como o Constatino Cavafis escreveu:
    “DESEJOS

    Como corpos belos dos que morrem sem ter envelhecido

    – e são guardados, em lágrimas, num mausoléu magnífico,

    com rosas na fronte e jasmins aos pés –

    assim os desejos são, desejos que esfriam

    sem serem consumados, sem que um só fruísse

    uma noite de prazer, ou uma aurora que a lua ainda ilumina.”

    Um OBRIGADA∞ Garoto

    PS.: As vidas são incomensuráveis … no espaço público das mortes não mandamos … No privado arranjamos 1 cantinho para as que nos tocam y que fazemos nossas tb. …

    PS2: … Ricardo … O Sandro, o Angélico Vieira, sempre me transmitiu serenidade Y boa-onda… Honrarei a sua memória, com serenidade, aquela que aprendi com ele – assim à distância do ecrã de 1 tv … N sei o q te dizer deste post Y comentário q d nele li. Mas respondi com o q aprendi com este garoto Boa-Onda y nada mau actor … etc…


  10. foi um grande erro o angelico morrer mas ou menos ele esta em grande paz e nos como sommos fortes vamos te-lo sempre no nosso coraçao nos tambem vamos ter que morrer uma vez

  11. ninguém says:

    Dputamadre… és igual a um calhau!

    só podes ser comparada com um calhau, porque quem diz “…devia comparar na mesma idade o trabalho de um Y de outro…”
    Meu Deus, queira-te perdoar pois não sabes o que dizes.
    Para teres uma ideia…

    Carreira de Antonio Feio até aos 27 anos:
    estreou a 6 de maio de 1966 no teatro (11 anos de idade)
    Em 1974, fez a digressão do Teatro Experimental de Cascais por Moçambique
    De novo em Lisboa, leva a cena inúmeras peças em teatros, como o S. Luiz, o Teatro Adoque, o Teatro ABC, a Casa da Comédia, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, o Teatro Aberto, o Teatro Variedades, entre outros. Começou a tornar-se conhecido do grande público devido às suas aparições televisivas: a primeira foi na série policial Zé Gato (1980). Seguiram-se papéis secundários em Sabadabadú (1981)

    Carreira de Angélico Vieira até aos 27 anos:
    estreou-se aos 21 anos de idade
    Discografia
    2008- Angélico
    2011- Eu acredito
    Televisão
    Morangos com Açúcar
    Dance Dance Dance
    Doce Fugitiva
    Feitiço de Amor
    Espírito Indomável

    Enfim… sem menosprezar a vida do rapazito Angélico, só te posso dizer que és uma ignorante, somente porque viste 6 minutos de um video e ficas encantada… quando se tirasses esse rabo de frente da televisão e fosses ver uma peça de teatro percebias a dimensão daquilo que te estou a dizer!!
    Mas estás perdoada por tamanha ignorância… realmente teatro não dá na televisão nem dá para fazer download…
    Apenas és uma pessoa de entre tantas que comem o que lhes dão sem se questionarem!!

    Enfim… vai lá ver as tuas novelas de crianças!