Como saberá, até ao fim do mês é tempo para entregar o IRS, pelo que passei pelo portal do governo onde encontrei um simulador com o título “Para onde vão os seus impostos?” e com um sub-título a dizer “Saiba para onde vai cada cêntimo dos seus impostos”. Naturalmente que logo fui experimentar.
Os resultados surpreenderam-me, apesar da advertência constante no site e que diz “Simulação com valores aproximados, apenas para fins pedagógicos, válida até um rendimento anual bruto de 500.000€ para o estado civil casado e até 250.000€ nos restantes casos”. Experimentei para três valores de rendimento bruto anual (10 mil euros, 20 mil euros e 100 mil euros) e, acreditando na pedagogia do governo, concluo que até 20 mil euros ninguém paga impostos e que a partir daí a distribuição de impostos é exactamente igual.
Acontece que esta conclusão é errada. Pretende dar a ideia de que impostos é IRS mas há que não esquecer que IVA, ISP, taxas, portagens, IMI, IMT, outros impostos municipais, etc., etc., também são impostos e que, até quem ganha menos destes 20 mil brutos, os paga. E os cortes dos subsídios cabem onde? Duas falácias, portanto.
Mas há mais. Para quem promete dizer para onde vai cada cêntimo dos seus impostos, junta num saco azul 25.62% dos impostos nas categorias “Serviços Gerais da administração pública” e “Assuntos económicos”. Se bem que até se consegue ter uma ideia vaga do que é a primeira, já a segunda é o quê? Será que 10% do IRS cobrado vai para os famosos incentivos às empresas e que, como se sabe, consiste em despejar dinheiro nelas e seja o que deus quiser? Ou será o dinheiro que se está a estoirar na banca com o BPN, resgates e tal?
Muito fraco. Eu gostava que o estado realmente tivesse a clareza de dizer onde gasta o dinheiro. Claro que isso implicaria primeiro que o estado soubesse onde ele mesmo o gasta. Por exemplo, o estado sabe quanto dinheiro transfere para as autarquias e para os governos regionais mas não faz ideia do destino desse dinheiro. Veja-se, a título de exemplo, que ainda há um ou dois meses estava na berlinda a guerra das câmaras não estarem a reportar as dívidas que têm. E que não se sabe, de forma consolidada, quem trabalha nas autarquias e nas empresas municiais.
Finalmente, outra coisa que notei no portal do governo foi o novo grafismo com um logótipo baseado na bandeira. E eu a pensar que ultrajar os símbolos nacionais era crime. É certo que eu e muitos fazem bonecadas com a bandeira mas, convenhamos, não somos o Governo de Portugal.
E também não existe quem tenha rendimentos abaixo dos 10.000… Abençoado país!
Claro que sim. Para este exemplo, qualquer valor entre 1 e 19999 serve.
É curioso descobrir que nem um cêntimo dos meus impostos vai para o serviço da dívida.
Bem visto. Se calhar é de concluir que a dívida não está a ser paga.
Cada vez que tento aceder ao Portal do Governo o meu Firefox “plasma” uma tela com este aviso:
“ESTA LIGAÇÃO NÃO E DE CONFIANÇA”.
Confesso que não entendo!
Essa coisa do “serviço da dívida” de que se falou num comentário anterior… não será o item “Operações de dívida pública” (dentro de “Serviços gerais da administração pública”)?
O meu “firefox” não plasma – coitadinho ele “PASMA”