Governo recomenda tratamentos a pessoas saudáveis

Vamos imaginar que uma pessoa está saudável. Percebe-se que lhe seja passada uma receita ou recomendado um tratamento? O leitor imagina-se, estando são e viçoso, a receber um vale para usar numa farmácia a fim de recolher, gratuitamente, medicamentos para curar doenças que não tem?

Uma das últimas invenções do Ministério da Educação vai no mesmo sentido: segundo percebi, as escolas que obtiverem melhores resultados nos exames poderão obter mais horas de crédito, que poderão, por exemplo, utilizar para mais aulas de apoio. Por outro lado, as escolas cujos alunos obtenham piores resultados não terão direito a crédito. Leia-se, a propósito, a opinião do Paulo Guinote.

Mesmo sabendo que o mundo está cheio de piores cegos, vou, mais uma vez, relembrar que o sucesso dos alunos está dependente, em grande parte, de factores exteriores à escola. Assim, os alunos com bons resultados pertencem, normalmente, a estratos socioeconómicos ou socioculturais elevados e contam com diversos tipos de vantagens, como explicações ou apoio dos pais.

A ter de escolher, como se torna evidente, as escolas merecedoras de crédito deveriam ser aquelas em que os alunos obtenham piores resultados.

Na verdade, penso que nenhum aluno deve ser privado do maior apoio possível, independentemente do estatuto social em que se encontre, uma ideia talvez estranha que, estranhamente, entronca na ideia constitucional – e tão generosa que parece cristã, imagine-se! – de que não pode haver discriminação.

É claro que ideias como esta de dar uma espécie de prémios de produtividade a escolas só pode nascer das cabecinhas cheias de economês marialva que confundem o olho do cu com a Feira de Beja e que, portanto, pensam que uma escola é a mesma coisa que uma empresa.

No fundo, é uma questão de coerência, uma vez que está empiricamente demonstrado que o Ministério da Educação só existe para atrapalhar a vida das escolas, tal como os governos servem para agravar os problemas sociais.

Comments

  1. Daniel Damaia says:

    Porventura é essa a filosofia na base: não sejam doentes, não se tornem doentes nunca tenham estado doentes…

  2. MAGRIÇO says:

    É evidente para qualquer pessoa normal, portanto, que não faça parte deste governo, que as escolas onde se verifica uma maior incidência de alunos “difíceis” devem ser mais apoiadas, não só porque é onde se concentra uma maior parte de jovens carenciados (de alimento para o estômago mas, principalmente, para a alma) como também onde se consomem mais energias e mais recursos. Mas estes tecnocratas da nova geração não têm sensibilidade para entender isto.

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