Le peuple des pauvres (JF Favre 2008)
Algo novo cresce, posso senti-lo – outro mundo, os filósofos dizem-nos grávidos dele. Apesar disso, em Portugal ainda não se acabaram os ecos sobre a brandura nacional, que a ser verdade percorreria as veias do sangue do povo português, fazendo dele a negação daquela “brava gente” afinal frouxa, que come pouco e cala muito, e se não está bem muda-se lá para fora, por onde de qualquer modo está habituada a andar. Abstêm-se? É porque não merecem mais do que o país que têm. Baixam a bola e entregam os pontos? É porque são cobardes, medrosos, habituados a ser subjugados e a uma vida de revolta – já nem saberiam viver doutra forma. Não querem saber? É porque são burros que nem portas, unidades absortas da manada, gente nascida para ser dirigida, que ainda não largou o século XIX. E essa ideia, de raízes disseminadas, constantemente evocada por toda a gente ao mínimo revés ou mais pequena visão da fraqueza, é o retrato de uma auto-representação politicamente proveitosa, que faz das vítimas os culpados. Como se o subdesenvolvimento do País (e não estou a falar de infra-estruturas nem de tecnologia) não fosse o resultado da acção das elites dirigentes, que em vez de terem enfrentado as grandes missões políticas para que foram eleitas – e, à cabeça, a Educação e a Cultura, únicos motores de mobilidade social, caminhos certos para o desenvolvimento -, andaram a servir-se dos poderes para servir as suas clientelas particulares, comprometendo-se com todos menos com o povo. As reformas dos Estados na UE, no exacto momento em que os modelos liberalíssimos de “desenvolvimento” se deslocam para outras paragens do Mundo, redefinindo o que será a Europa, vão chamar os povos a agir, exigindo novas qualidades das lideranças políticas. Em Portugal também.
[…] Continue Lendo via Aventar […]