Vitalidades

Num blog chamado “causa nostra”, publica-se um texto assinado por um tipo com o nome igualzinho ao do Vital Moreira.

Se fosse o Vital original, jamais falaria em “boicotes arruaceiros de discursos ministeriais” e “acção directa de bandos mais ou menos anarquistas” que impedem a liberdade de palavra a “ministros que integram um órgão de soberania legitimado pelo voto dos portugueses”. O Vital que conheci sabe dos limites que esta legitimidade comporta e conhece o que a Constituição da Republica diz sobre os direitos dos que resistem.

É que a ideia de os pobres ministros – e do Relvas, em particular – não terem liberdade de palavra – eles, que a detêm em absoluto e dela fazem o uso lamentável que está à vista de todos – é peregrina e ofende o mais singelo senso comum. E os supostos “arruaceiros” não protestaram gratuitamente. Fizeram-no em contextos precisos e quando tiveram essa estreita e rara oportunidade: Relvas falava no encerramento de um colóquio sobre o futuro de uma comunicação social que tanto se tem empenhado em destruir e, noutra ocasião, no clube de pensadores (!), actividade em que, se produziu algo de relevante, deve mantê-la acessível apenas a selectos escolhidos como o Vital Moreira que assina a nota em causa.

Que o autor remata sublinhando que o poder “ não pode ser achincalhado”. Ouviste, Bordalo Pinheiro? Ouviram humoristas do meu país? Ouviram, meus queridos colegas que interrompestes, há muitos anos, o discurso do Cabeça de Abóbora (ops, perdão, o venerando presidente da republica almirante américo thomas – em minúsculas, para achincalhar) .

Finalmente, ó possível Vital, se achas que manifestamos uma “shadenfreund” (ena, gáudio pelas desgraças alheias, fica sempre bem este toque erudito), que isso não te inquiete. A ameaça que fazes de um radicalismo futuro se virar contra o suposto radicalismo actual, não mete medo, já que nada disto é muito importante – que diabo, como escrevi noutro lugar, os homens não atiraram o Relvas pela janela, só lhe cantaram a Grândola – e, se um dia eu estivesse na situação do Relvas e tu te levantasses para cantar – não sei que cantiga, talvez o “fado das iscas”- o único achincalhado seria o bom gosto. Por mim, ria-me. E jamais permitiria que um bando de fiéis serventuários fizesse disto um ridículo casus belli. Ai que se Vital Moreira que eu conheci lesse o que escreveste…

Comments

  1. Aqui vai uma breve informação, retirada do referido blogue (que não aceita comentários), e que é pública:
    vital.moreira@ci.uc.pt

  2. nightwishpt says:

    “A ameaça que fazes de um radicalismo futuro se virar contra o suposto radicalismo actual, ”

    Quando o radicalismo aparecer, de facto, para responder a este radicalismo fanático que nos desgoverna, parece-me que ele não precisará, ou terá, uma coluna.

  3. Maria João Castro says:

    Também não me parece o que conheci.
    Se for está Desvitalizado.
    MJ

  4. Pois o Vital Moreira que eu conheci, como todo o ex-comunista em geral, está mesmo ao seu nível habitual, ultra-ultra-reaccionário.

    De falso comunista a lambe-botas dos capitalistas, é o percurso natural dos que enriquecem com a política.

  5. A fazer o jeitinho aos seus camaradas que esperam calados pelo poder que lhes cairá no colo. Mais não seria de esperar de um grupo de pessoas em que só lhes falta serem anarquistas para perfilharem todas as ideologias…quem sabe numa outra vida.

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