Dicas para Cipriotizar e Italianizar Portugal

Ontem, o PS resolveu fazer a triste figura de ruptura dúbia com este Memorando. Um Memorando desactualizado, evolutivo, agravado, mal ajustado aos dados e variáveis do presente? Não importa. É o que há. A palavra foi dada. A versão inicial foi negociada e subscrita por ele. Na verdade, o PS é, ele mesmo, tal como o Governo, um problema nacional e não atina no caminho, sobretudo agora que António José Seguro, acossado pela facção devorista, parisiense, pentelhista, se viu compelido a derramar palavras de capitulação e desistência do compromisso assumido sob a forma de uma emoção de censura muito mal armadilhada, talhada para paradoxalmente fortalecer o Executivo.

Objectivo? Eleições. Ser Governo. Ser Governo imediatamente. Ser Governo para piorar tudo, cipriotizando Portugal, deitando a perder o que de aproveitável teve o caminho percorrido no sentido do saneamento integral das contas públicas. Claro que a componente social deste Ajustamento é uma merda. Porém, até isso estava no papel. Nunca seria um mar de rosas. O Governo garantiu que fosse um mar de espinhos para além dos espinhos e abrolhos da Troyka.

Foi ontem assumido que este PS quer renegociar tudo. Tirando os partidos utópicos e fantasistas da Esquerda Com Medo de Governar, quem o acompanha neste desiderato? Que outro País intervencionado aparece a falar igualmente grosso e igualmente a cantar de galo? A Grécia? Chipre? Irlanda? Pratica Hollande o que prometera antes de ser eleito, ou pelo contrario, austeritariza ele ao máximo toda a sua margem de decisão política?

O PS é terrível com números. Coisas assim atiradas ao vento, hesitantes por carta para Troyka ler, assumidas às claras no Circo Parlamentar, como renegociar metas, renegociar prazos e renegociar a dívida pública têm [ou teriam], do lado de lá troykista da negociação, que acolhimento ou beneplácito? Abaixo de zero, creio. O labirinto renegocionista do PS parece tão mau ou pior que o labirinto recessivo por onde caminha o zeloso Governo capataz dos credores, porque sem alternativa. Nestas coisas, à parte fraca não convém dar parte de fraco. E o PS fraqueja, demagogiza, joga o piroso jogo do pão circense das facilidades impossíveis.

Mas está aí a luta por um Memorando II por parte do PS. Pode esse desejo e disposição ir a votos em breve? Poder, pode. Seria uma imbecilidade, uma perda de tempo, italianizar o espectro político-partidário representado no Parlamento, recomeçar a reaprendizagem dos dossiês, começar tudo de novo, sabe Deus quando. De resto, não é nada líquido que a Troyka sintonizasse pelo desejo de renegociação do Memorando Novo em que o secretário-geral do PS labora: com outro documento, arrostaríamos mais do mesmo ou até pior, não fosse Chipre o exemplo mais drástico e profiláctico. Já não imaginamos o que se passa na cabeça da trágica Europa.

Comments

  1. joao riqueto says:

    Trocado por miúdos; eles os que, estão posicionados lá em cima, precisam de PIIGS, ou de outros que tais, quantos mais melhor, encafuados cá em baixo, na base da pirâmide por forma a garantir que esta não caia. Somos nós que mantemos a pirâmide de pé, somos nós que os alimentamos.
    Esta pirâmide tem um nome; é o esquema Ponzi, é o modelo que nos governa.

  2. Amadeu says:

    Eis a faceta conformista do palavreado real-situacionista de um outro Miguel Gonçalves de serviço no Aventar.

    Memorando ? É o que há. Esquerda do PS ? Fantasista e utópica (adoro o palavreado pós anti comunista). Alternativas ? É tudo para pior.

    Não há pachorra para o discurso cobardola do convêm não dar parte de fraco, o medo omnipresente do papão cipriota ou grego. Reaprender e repensar, nem pensar.

    Criatividade, alternativas, novas formas de democracia, aposta estratégica económica no que somos diferentes, alternativas à ditadura financeira … Nem pensar.

    NÂO PENSEM !!!

    • palavrossavrvs says:

      Amadeu, brinca como quiseres com a tua vida. Queres experimentar acrobacias com dez milhões? Tens dinheiro para isso? Força.

  3. fernando says:

    julgava eu que a teoria da inevitabilidade já era narrativa (lol, começou a estar em voga) ultrapassada, afinal não.

    este texto dá vontade de rir, “esquerda utópica, fantasista, com medo de governar” e há mais “deitando a perder o que de aproveitável teve o caminho percorrido no sentido do saneamento integral das contas públicas”. se a situação do país não fosse tão má diria mesmo que é hilariante.

    o caminho percorrido até agora, este governo tem batido todos os recordes:

    país mais pobre, desemprego, empresas arruinadas e a fechar em catadupa, investimento nulo, divida a aumentar, grandes reformas no trabalho, maior precariedade e maior lucro nas grandes empesas, enfim são só recordes e o sr. sabe bem.

    mas tudo isto é mau, mas o caminho tem que ser continuado para bem do país, grandes estadistas estes nossos governantes mentirosos.

    deixemos governar, mas só depois do tribunal constitucional der a sua decisão, pois ainda hoje o porta voz destes srs, afirmam que não há plano B, caso se verifique o óbvio.

    deixemos esta europa sem rumo seguir este caminho e vamos ver onde vamos parar, pois as pessoas aguentam, aguentam mas não sempre.

  4. Ah! Destino cruel, este!

    Oh! Destino fatal!

    É o fim! É o fim!

    Plof!!

  5. fernando says:

    que plocalia este tlibunal !!!

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