Isto é o que se chama gastar demasiada cera com tão ruim defunto

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Começou por ser Ministra da Educação. Durante o seu mandato, acabou com o leite grátis para as crianças dos 7 aos 11 anos e limitou-o a um terço de um copo às crianças mais pequenas. Para além disso, fechou mais de 3 mil escolas especializadas em determinado tipo de ensino, transformando-as em escolas de ensino regular. Acabou com todo o tipo de regulamentação das ementas escolares, abrindo caminho à fast food e ao tipo de alimentação que hoje domina as escolas inglesas.
Num acto de traição e deslealdade para quem a nomeara, Edward Heath, chegou ao poder do Partido Conservador. Ao mesmo tempo que frequentava o Instituto de Assuntos Económicos, ia formando um conjunto de ideias de clara oposição ao Estado Social, ideias essas que não tardou a pôr em prática quando se tornou primeira-ministra em 1979. Uma eleição que ganhou porque, entre outros factores, conseguiu captar um número maciço de votos provenientes da Frente Nacional Britânica, Partido racista de extrema-direita que, a partir daí, praticamente se diluíu no Partido Conservador, passando de 190 mil votos em 1979 para 23 mil em 1983.
Não por acaso, 2 meses depois de ser eleita começava a pôr em causa aquilo que via como o excesso de imigrantes asiáticos em Inglaterra. Como principais medidas dos seus Governos, temos  a desregulamentação do sistema financeiro, a quem passou a ser permitido o tipo de práticas que provocaram a crise económica em que vivemos; a eliminação da maior parte dos serviços sociais (entre os quais se conta a tentativa de acabar com o Serviço Nacional de Saúde e com a Educação gratuita, o que provocou grande contestação dentro do próprio Partido Conservador, e a forma como ostensivamente degradou a imagem pública das assistentes sociais e dos professores); a flexibilização do mercado de trabalho, praticamente abolindo o salário mínimo, reduzindo o poder dos chamados Conselhos de Salários, limitando o direito à greve e reprimindo selvaticamente as manifestações de trabalhadores (como a dos mineiros do carvão em 1985, na qual contou com o apoio de uma Polícia feroz que ela própria protegera com base em mentiras na sequência da tragédia de Hillsborough – os mineiros chegaram a ser perseguidos em suas próprias casas);  a privatização de inúmeras empresas estatais, a maioria ligada à Siderurgia, aos Transportes, à Electricidade e Águas, à Educação e à Solidariedade Social; e o claro proteccionismo às classes mais abastadas através da Poll Tax, imposto regressivo que criou em 1989 e no qual os ricos pagavam, proporcionalmente, menos do que os pobres. Uma versão de Robin Hood ao contrário – roubava aos pobres para dar aos ricos, ao mesmo tempo que era implacável perante os primeiros e submissa perante os segundos (a sua imagem de séria e inflexível esboroa-se quando analisamos a sua postura perante o tabaco: completamente anti-tabagista antes de ser Primeira-Ministra, acabou como consultora da Philips Morris pouco tempo depois de sair do Governo, com verbas que incluíam 750 mil libras por ano).
Os resultados económicos e sociais da sua política foram desastrosos: Diminuição da produção industrial, com consequente aumento do desemprego, das falências e das importações; aumento da inflação (que chegou quase ao dobro durante os seus mandatos); alargamento do fosso entre ricos e pobres, com 10% dos mais ricos (sendo 50% antes) a acumularem 97% da riqueza produzida no país); e aumento da mendicidade e da criminalidade para o dobro.
No plano internacional, estabeleceu relações privilegiadas com o Presidente Reagan, dos Estados Unidos, e com o ditador chileno Augusto Pinochet. Numa clara afirmação do que era a sua visão do mundo, acusou Nelson Mandela de ser um terrorista.
Vinda de uma família humilde, morreu aos 87 anos com uma fortuna calculada em 16 milhões de dólares. O seu filho, que enriqueceu em 1984 por intervenção directa da mãe junto do sultão de Omã, tem actualmente uma fortuna avaliada em 100 milhões de dólares.
Hoje gastam-se 10 milhões de euros para celebrar a sua morte. A morte de uma das mais sinistras personalidades políticas europeias do séc. XX.

Comments

  1. nightwishpt says:

    Mais um filho da puta que morreu demasiado tarde.

  2. António Fernando Nabais says:

    Belíssima lição. A mulher ainda era pior do que eu pensava.

  3. joao figueira says:

    pior k o descrito, parece-me haver por cá quem queira efectuar trabalho similiar. será? poderá?

  4. Gulliver says:

    Tivesse o terrorista de massama maioria absoluta parlamentar e iriamos ver este país seguir exactamente o mesmo caminho.

  5. “(…) alargamento do fosso entre ricos e pobres, com 10% dos mais ricos (sendo 50% antes) a acumularem 97% da riqueza produzida no país (…)”

    Fonte? Com invenções destas é fácil criticar.

    Na verdade, os 10 % mais ricos no Reino Unido detêm 31% do rendimento total (apenas 66 p.p a menos do que indica): http://www.poverty.org.uk/09/index.shtml#g3

    O coeficiente de Gini do Reino Unido também está perfeitamente dentro da média dos países ditos “desenvolvidos” e é inferior ao nosso:
    http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_income_equality

  6. Miguel says:

    Muito bom. Parabéns.

  7. celesteramos.36@gmail.com says:

    A senhora que foi elevada a baronesa fez escola e tem descendência espalhada pela europa e como passou a sua lua-de-mel por aqui em Lisboa não deixou de compensar (e ser compensada) pela boa recepção que lhe foi dada – teria aqui deixado algum descendente directo que está no governo actual ?’ Algum primo ou sobrinho ?’ Parece – lá escola fez senão não teria passado de senhora dona para baronesa

  8. António says:

    o mal são os seus discípulos…

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