Contributos para os futuros acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo

marteloTendo em conta a recente decisão do Supremo Tribunal Administrativo (STA), é fácil adivinhar o espírito dos futuros acórdãos desta prestigiada instituição.

Antes de mais, e sempre que estiver em causa algum cidadão com mais de cinquenta anos, os juízes usarão como referência o provérbio “Quem já andou não tem para andar”. Bastará substituir o verbo “andar” por outro qualquer que se possa relacionar com o caso que estiver a se julgado.

Para além disso, os juízes do STA continuarão a encarar perdas ou amputações com o mesmo espírito de abertura que usaram para considerar que não é grave estar impedido de ter relações sexuais a partir dos cinquenta anos. Continuamos sem ter a certeza se há vida para além da morte, mas, graças aos juízes, ficamos a saber que não há vida sexual para lá dos cinquenta.

Vale a pena, ainda assim, descer a alguns pormenores, antecipando futuros acórdãos.

No que se refere a amputações, a perda de um braço, por exemplo, não trará problemas aos cinquentões, porque ainda lhe sobrará outro. Aos que quiserem inventar problemas como o da necessidade de manusear faca e garfo, os juízes responderão que um braço chega para a colher, porque, a partir de uma certa idade, uma sopinha é mais do que suficiente.

A perda de um pé também não será considerada grave, uma vez que ninguém irá iniciar uma carreira de futebolista ao atingir a meia centena de anos. Para além disso, evitará que as pessoas mais violentas se dediquem a distribuir pontapés pela humanidade.

A própria decapitação será vista, por contraditório que pareça, como a melhor maneira de nunca mais perder a cabeça. De qualquer modo, já toda a gente ouviu a um idoso a frase “A minha cabeça já não é o que era.”

Perder a própria visão acaba por ser positivo, pois sabe-se, desde tempos imemoriais, que não há nada de novo debaixo do céu, pelo não haverá nada para ver que já não tenha sido visto.

Os próprios juízes estarão a pensar em encarar a violação sexual sob outro prisma. Se a vítima – doravante designada como “feliz contemplada” – for uma mulher ainda fértil, o violador poderá estar a prestar um serviço patriótico, tendo em conta a baixa da natalidade; se a feliz contemplada tiver mais de cinquenta e/ou for infértil, já não tem idade para andar na rua e deverá ser condenada por desperdício de esperma.

Comments


  1. Será que estas decisões terão alguma coisa a ver com as praxes a que estes juízes terão sido sujeitos na juventude?! Ou será consumo inadequado de alcóol e quejandos?!

  2. Francisco Costa says:

    Falta de assunto
    Que chatice, isto parece a silly season, dizia um jornalista do Público para uma jornalista do Correio da Manha – é que não há assunto !
    O País está óptimo, o orçamento geral do estado é consensual, a dívida pública está baixa, os juros da dita estão baixíssimos, o povo está feliz, o Passos acabou com as roubalheiras, o Crato meteu os professores na ordem, a da justiça diz que o Citius já foi ao sítio, o ébola já era, a Europa está rejubilante com a retoma económica, a Grécia está cada vez mais próspera, os islamitas do exército dos loucos foram submetidos pelos curdos, a faixa de gaza é um exemplo de sã convivência, gaita que não há assunto !
    Olha, procura aí na base de dados dos tribunais – com sorte ainda apanhas algum juiz a dizer que o sexo das mulheres murcha a partir dos 50 !

    • António Fernando Nabais says:

      Ó Francisco, não seja bruto, homem!

      • Francisco Costa says:

        Antes Bruto que estúpido…

        • António Fernando Nabais says:

          Ser bruto e ser estúpido não são características incompatíveis. Pode haver quem consiga acumular, porque não configurará uma ilegalidade. Um estúpido pode, por exemplo, desvalorizar a vida de uma pessoa, limitando-se a declarar que há assuntos mais importantes, como se não houvesse sempre pelo menos um assunto mais importante do que aquele que está a ser tratado num dado momento. Um bruto será sempre insensível à situação de alguém que viu desvalorizado o que resta da sua dignidade. Mas estúpidos são os outros. Um bom dia também para ti, bruto.