Sacrificou-se um tubarão. Para quando o resto do cardume?

Depois de Armando Vara e Maria de Lurdes Rodrigues, chegou a vez de Sócrates prestar contas à justiça portuguesa. É um dia feliz, é um dia histórico, mas é mais uma prova da treta que é a justiça portuguesa, como o Ricardo explicou de forma simples e objectiva: enquanto tens poder estás acima dela, quando deixas de o ter cais. E isto é um facto incontornável. A justiça portuguesa, no que toca aos verdadeiramente poderosos, temporariamente ou não, é fraca, anedótica e, salvo raras excepções, inútil.

A comunicação social está a cozinhar o ex-primeiro-ministro em banho-Maria, dissecando o nada que é até agora este caso, sobre o qual pouco ou nada se sabe ainda, repetindo até à exaustão as mesmas imagens, de Sócrates detido e desfocado dentro do carro descaracterizado da PJ até ao Sócrates primeiro-ministro aos saltinhos em cima de uma maquineta qualquer. Sócrates, o motorista de Sócrates, o testa-de-ferro Carlos Santos Silva (prevê-se que seja ele a desempenhar o papel do sucateiro que apanha 17 anos de prisão) o Grupo Lena e até António Costa que parece ser já arguido e está a ser estrategicamente arrastado pelo vendaval. Um acaso conveniente para um governo debaixo de enorme pressão.

Enquanto assistimos a esta novela, sem saber qual dos casos que envolvem o antigo primeiro-ministro estará em cima da mesa (se é que se trata de algum dos que nós temos conhecimento), o governo aproveita para se sentar um pouco e recuperar o fôlego. Depois da Tecnoforma, depois dos submarinos, depois do BES e da recente trapalhada das subvenções vitalícias, dossier que cronistas e comentadores afectos à direita se têm esforçado de remeter em exclusivo para os seus companheiros socialistas, apesar de, para além de Couto dos Santos, também o governo, através do ministro Marques Guedes, ter dado luz verde para aprovação da proposta o quê, como o jornal Público refere, partiu do próprio governo e reflecte a sua intenção, as tropas de Passos Coelho estavam a precisar de um tempo de desconto. Não admira a timidez das reacções do PSD e CDS-PP ao acontecimento do momento. Até porque, como sabemos, os telhados de vidro já estão todos partidos.

Será que os soldadinhos de chumbo deste governo continuarão a soltar “aleluias” no eventual dia em que figuras como Agostinho Branquinho ou Marco António Costa forem prestar contas à justiça sobre o escândalo da WeBrand, sobre o qual praticamente ninguém abriu a boca até agora? Também pedirão que se sentem no banco dos réus sem que nada esteja ainda provado, apesar dos indícios? E sobre este envolvimento directo do governo na questão das subvenções, reportado pelo Público, onde está a revolta dos deputados da jota que nem uma palavra sobre isto tiveram a coragem de dizer?

Há muito quem hoje diga que os tempos estão a mudar. Boa. Já só devem faltar uns 10 mil corruptos, entre administração local e central, passando pelas direcções dos partidos políticos e conselhos de administração de empresas públicas. Se mantivermos o ritmo dos últimos dias, pode ser que em 35/40 anos consigamos limpar o entulho. Mas para isso precisamos de uns 200 clones do juiz Carlos Alexandre. Há que ter fé. Se este governo cair em 2015, como é expectável apesar da propaganda que ainda convence muitos, pode ser que daqui por dois anitos sejamos surpreendidos com dias de êxtase televisivo com a detenção, num qualquer aeroporto deste país, da malta das Tecnoformas, dos BPN’s, dos Submarinos, das Webrands ou de qualquer um dos outros esquemas com assinatura laranja e/ou azul. Mas se os tempos estão mesmo a mudar, se calhar está na hora da sociedade portuguesa dar o seu contributo e parar de confiar nos mesmos bandalhos over and over again.

P.S. O silêncio impera na Câmara Corporativa. Alguém viu a princesa socrática por ai? Vá lá que ainda há socialistas corajosos para defender o querido líder