Quando estala o verniz…

Não fico indiferente aos dotes futebolísticos de Cristiano Ronaldo, ainda que não seja um fã incondicional do atleta. Sou absolutamente indiferente à marca CR7 que não consumo, como também não leio imprensa cor de rosa, nem vejo reality shows. Obviamente que me estou nas tintas para os gostos de Dolores Aveiro, embora saiba que é mãe do futebolista, nunca li uma linha dos livros que publicou ou sequer ouvi 10 segundos de qualquer música cantada pela irmã do personagem. Não é a única, sei que existe Tony Carreira, mas quando estou a ver TV e passa uma música faço o mesmo que fiz na última mensagem de Natal de Cavaco Silva. Tiro o som. Poderia citar vários exemplos, mas nem sequer vêm ao caso. Como consumidor tenho direito a ver, ler, ouvir o que gosto. Mas não me passa pela cabeça que os meus gostos sejam superiores aos demais, que possa catalogar os fãs de Tony Carreira que enchem um pavilhão como imbecis, enquanto eu coloco propositadamente férias, consigo voo e bilhete para assistir ao concerto dos Radiohead sem pensar 2 vezes. Tivesse custado o dobro e lá estaria eu. 

Gostos não se discutem e cada um consome o que quer. Sempre o ouvi dizer. Abominável seria um qualquer burocrata de lápis azul decidir a forma como devem as massas ser educadas. Alguma esquerda chamada caviar, escrevo alguma porque não confundo, muita boa gente de esquerda não se revê na publicação de Raquel Varela no Facebook que abaixo transcrevo e que não deixa margem para dúvidas. Não tenho dúvidas que se esta gente algum dia fosse poder, a Liberdade e Democracia conheceriam dias sombrios. É que lhes bastaria ficarem calados e fazerem zapping. Não fosse a enormidade escrita pela personagem e nem tomaria conhecimento dos factos. Que não me interessam para nada. Mas não me passa pela cabeça proibir Raquel Varela ou Dolores Aveiro de dizerem disparates…

“Não vivo mal com um herói do futebol que joga bem. Acho até arrogante esperarem dele que fale bem português ou vista fatos Armani com jeitos de galã de cinema. Joga futebol, e pelos vistos muito bem. É mais do que a maioria dos mortais. Agora, torná-lo vanguarda da cultura de massas é uma lama que um dia destes nos atinge a todos. Depois da estátua patética – que associa força e sexualidade a um falo desmesurado, este herói retratado para a posterioridade como um “animal (só) de 4 patas”, diria Freud – temos a mãe “carcacinha” e a Casa dos Segredos a ser vista da sala VIP como sinónimo de uma noite de glamour. É uma vergonha, uma piroseira, uma monstruosidade que deforma o povo deformando os seus heróis, e um mau gosto inusitado, que se passa num país que estrangula escolas de música, manda poetas emigrar, corta salários a actores, saqueia escritores com impostos, fecha teatros e passa bons filmes às 2 da manhã.

«Dolores assistiu ao fogo com 150 euros na mão e a família terminou a noite a assistir à final da Casa dos Segredos na zona VIP da embarcação.».”

Comments

  1. Nightwish says:

    E onde é que a Raquel quer proibir o que quer que seja? Quem tem por hábito censurar o discurso hoje em dia são os seus ídolos monopolistas.

    • Nightwish says:

      Aliás, não é o António que quer censurar o discurso sobre gostos da Raquel?

      • Penso que esta afirmação o pode esclarecer: “Mas não me passa pela cabeça proibir Raquel Varela ou Dolores Aveiro de dizerem disparates…”
        Há uma diferença, por várias vezes aqui critiquei pessoas que até me estão próximas politicamente. Não tenho em qualquer assunto uma postura de clubite… Critiquei uma posição pública de Raquel Varela, que se expôs à crítica quando a difundiu no Facebook… Só isso!

        • Nightwish says:

          Criticou o facto de que gostos se discutem para fazer um ataque pessoal e a um conjunto de pessoas de que discorda.

  2. CarlosAlvi says:

    Fodasse ….tanto Beu Beu para nada de novo dizer daaaaaaaaassssssss ajuelha-te pq depois vais ter k rezar

  3. Joam Roiz says:

    Está muito enganado, António Almeida. Olhe que os gostos discutem-se. Procure e leia um livro intitulado “A Crítica do Gosto” e comprenderá que os gostos não só se discutem como têm natureza de classe. Dito de outro modo: os “gostos” da burguesia distinguem-se dos “gostos” o proletariado ou da nobreza.

  4. Joam Roiz says:

    Corrijo a parte final do meu comentário anterior, como segue: “… os “gostos” da burguesia distinguem-se dos “gostos” do proletariado ou da nobreza.”

    • Para mim, gostos respeitam-se. Não reconheço a quem quer que seja o direito de procurar condicionar os meus. Não tento modificar quem quer que seja. Quando não gosto, afasto-me… Não reclamo qualquer espécie de superioridade moral…

  5. Rui Moringa says:

    António Almeida,
    Para mim D. Dolores é a D. Dolores, fez a sua aprendizagem. Com dinheiro farto pode ter acesso a bens e outros luxos. Como grande parte da sua formação já foi realizada, não se lhe pode pedir mais…Entende.
    Quanto a Doutora Raquel Varela tem outro tipo de formação. Tem, do meu ponto de vista, mais responsabilidades sociais porque é uma académica. Mas, muitas vezes só faz opinião, como todos nós.
    Pessoalmente, pouco me importa o que fazem as duas. À Doutora Raquel Varela ouço-a mais vezes.
    Todos podem emitir uma opinião acerca de tudo. O discurso aí produzido é senso comum e às vezes polvilhado de bom senso.
    Os gostos são criticáveis. Afinal o que não é criticável?
    Refere que não aceita a interferência (condicionar) nos seus gostos!? Entendo a frase, mas olhe que mesmo inconscientemente os seus gostos são condicionados, como os de muitos de nós. É sempre muito difícil fugir a este tipo de alienação. Sim temos gostos herdades de uma sociedade e dos grupos a que pertencemos e dos grupos a que procuramos pertencer á procura de poder e prazer (felicidade?!).
    Fiquem bem, com “bons gostos”, cheios de prazer e poder.
    De memória, o último parágrafo do Elogio da Loucura de Eramos de Roterdão:
    ” Pois caros amigos iniciamos nesta loucura, comei bebei e prosperai”, ou seja, comam, bebem e coisem se puderem.

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