Passos Coelho, o sofista, afirmou ontem na Assembleia da República que o desemprego baixou, apesar deste ter aumentado entre os jovens.
Por outras palavras, quem nunca teve emprego está a ter mais dificuldade em o conseguir e baixou o número de inscritos nos centros de emprego entre aqueles que já alguma vez trabalharam, já que esta é a definição de desemprego para fins estatísticos. Esta última situação acontece por várias razões:
- O desempregado atingiu a duração máxima da atribuição do subsídio de desemprego, nada o obrigando a fazer os diversos rituais que o manteriam inscrito no centro de emprego (apresentação quinzenal, por exemplo), assim vendo a sua inscrição cancelada pelos serviços.
- O desempregado foi colocado num estágio profissional ou numa acção de formação, ambas de aceitação compulsiva, sob pena de perda do subsídio de desemprego, assim deixando de contar para a estatística do desemprego. Tem sido exemplo disto os estágios na administração pública e a prática da chamada requalificação.
- O desempregado emigrou, tal como o fizeram centenas de milhares de portugueses nestes últimos 4 anos, tendo deixado de contar para os números do desemprego, seja porque comunicaram ao centro de emprego que emigraram, seja porque faltaram a duas apresentações quinzenais.
- O desempregado encontrou emprego. É pública a enorme dificuldade que desempregados com mais de 50 anos têm em conseguir emprego, a tal ponto que até se inventou o conceito da pré-reforma. Entre os 25 e os 35 anos, muitos emigraram, à procura do el dourado enquanto a força da juventude ainda brilha. É conhecida essa bolsa de emprego precário em sectores como restauração, serviços e comércio, pelo que haverá desempregados a encontrar emprego nestas áreas. Tal como haverá empregados a irem para o desemprego ao não virem renovado o contrato que os tornaria efectivos na empresa – prática frequente nestes sectores.
- O INE tem mudado algumas vezes (2011, 2014) a metodologia de contabilização do desemprego, o que, só por si, deveria impedir qualquer primeiro-ministro honesto de fazer comparações directas de números.
As notícias de novas falências têm sido abundantes, ao contrário daquelas sobre o início de novas actividades, sendo legítimo perguntar como é que é possível o desemprego baixar sem criação de emprego. E a resposta é que o desemprego não baixou. Baixou, isso sim, o número de inscritos no centro de emprego, o que nada tem a ver com baixar o desemprego, devido às regras de inscrição nestes centros.
As empresas gostam de contratar jovens por várias razões. Por um lado, estes estão dispostos a ganhar menos e a trabalhar mais para compensarem a sua falta de experiência. Por outro, as empresas que pretendem ter quadros estáveis apreciam a capacidade de aprendizagem dos jovens, encarando a contratação de jovens como um investimento. Já empresas que funcionam com quadros precários de pessoal aproveitam-se das menores responsabilidades familiares dos jovens para lhes retirarem maior rendimento.
É inequívoco, havendo geração de emprego, cresce a contratação entre os jovens. Se a economia estivesse a gerar emprego, tal como pretende Passos Coelho, os jovens estariam a encontrar emprego mas não é isso que está a acontecer.
A falácia do primeiro-ministro consiste em não dizer que as estatísticas do desemprego melhoraram devido a engenharia política. Pegar na estatística do INE, que como vimos não representa a realidade, e que contém dados provisórios e alterados por diferentes metodologias, como se pode ler mais abaixo, é uma tentativa de demonstrar que o rumo político escolhido é o correcto, já que, supostamente estaria a produzir resultados desejáveis. Mas a propaganda tem pés de barro e estes quebram-se pela demonstração dos efeitos da emigração e das regras de inscrição nos centros de emprego sobre o número de inscritos nesses centros, a par com a evidenciação da mudança de metodologia do INE para o cálculo da taxa de desemprego.
Ler também:
- Subsídio de Desemprego: Questões Fundamentais
- Quem tem medo do salário mínimo mau?
- Banco de Portugal desvenda mistério da queda do desemprego, notícia de Dezembro de 2014
- Taxa de desemprego jovem chega aos 42%, notícia de Maio de 2013
- O Desemprego Jovem em Portugal, Vânia Catarina Neves de Sá, Fac. Economia U. C., Jan. 2014
- Desemprego jovem voltou a aumentar em Portugal, notícia de Janeiro de 2015
- Nota de Apresentação da Divulgação Mensal de Estimativas do Inquérito ao Emprego, INE, Nov. 2014
- Passos diz que austeridade perde relevância e prioridade é o crescimento, notícia de 30 de Janeiro 2015
Extractos da tese O Desemprego Jovem em Portugal:
“(…)foi possível verificar que o desemprego jovem tem apresentado um crescimento algo exponencial, sobretudo a partir de 2008, ano em que Portugal foi atingido pela atual crise económica e financeira, registando quase 40% de jovens desempregados, em 2012. Esta situação parece assim refletir a estagnação económica que o nosso país está a atravessar (…)”
Extractos de Desemprego jovem voltou a aumentar em Portugal:
O Instituto Nacional de Estatística (INE), que divulgou nesta quinta-feira, 29 de Janeiro, as estimativas mensais de emprego e desemprego de Dezembro, dá conta de 127 mil jovens dos 15 aos 24 anos sem emprego. Trata-se de um aumento de 4100 pessoas face a Novembro e é preciso recuar a Junho de 2013 para encontrar um aumento semelhante.
(…)
A melhoria da taxa de desemprego está relacionada, realça o instituto na nota divulgada à imprensa, com o decréscimo da população empregada e com o aumento do emprego.
João Cerejeira, economista e professor na Universidade do Minho, alerta que os dados mensais devem ser lidos com cautela, por se tratar de uma sub-amostra da amostra utilizada pelo INE no inquérito trimestral. Mas ainda assim, confessa que ficou “surpreendido” com o aumento do desemprego jovem, numa altura em que o emprego cresce mais do que o desemprego desce. “É preciso esperar pelos dados trimestrais para percebermos melhor as causas”, refere.
(…)
Os dados apresentados pelo INE nesta quinta-feira foram sujeitos a uma revisão, o que influencia os números de Novembro (que tinham sido tornados públicos no início de Janeiro). Embora a tendência identificada anteriormente pelo INE se mantenha, a taxa de desemprego foi revista de 13,9% para 13,5%. Também a população empregada sofreu um ajustamento que leva a que a redução do emprego tenha sido menor do que o estimado. Nos dados apresentados inicialmente, apontava-se para uma redução de 28.200 postos de trabalho entre Setembro e Novembro. Afinal, foi de 24.300 empregos. (P)
Extracto de Passos diz que austeridade perde relevância e prioridade é o crescimento:
Relativamente à taxa de desemprego, assinalou que o Instituto Nacional de Estatística “corrigiu as suas previsões estatísticas” em meio ponto percetual. “É uma diferença assinalável e que mostra que até hoje, tirando um dado isolado mensal, não se registou qualquer evolução de tendência e que, portanto, nós continuamos a manter uma trajetória descendente do desemprego e a evidenciar um aumento do emprego”, acrescentou.
O primeiro-ministro referiu, no entanto, que se registou um “agravamento ligeiro” do desemprego dos jovens.
Este número circense do desemprego faz lembrar o esforço de um ilusionista de 2.ª categoria em fim de carreira. Tenta iludir o povo com dados falaciosos, insultando-o na sua inteligência. Senhor primeiro ministro, isso tem um nome: o irrevogável canto do cisne.
Nota: onde se lê “irrevogável”, leia-se “definitivo”, só para que fique claro.
Alguém que aumenta a taxa de desemprego de ex-ministros e secretários de estado, fáz-favor.
Reblogged this on O Retiro do Sossego.