André Serpa Soares
Levamo-nos demasiadamente a sério em quase tudo o que dizemos ou fazemos. As nossas opiniões parecem ter sempre aquele tom profético de “verdade óbvia” que ninguém parece ainda ter visto, apesar de tão evidente.
Dependendo de nós, o mundo seria muito melhor, o problema são os outros.
Passeamos um pouco pelas redes sociais ou pela blogosfera, perdemos uns minutos a ver ou ouvir a insanidade que uiva em cada “fórum” da rádio ou TV e eis que encontramos milhões de detentores da verdade revelada e da solução para todos os males.
Pudéssemos nós mandar, e outro galo cantaria. Somos verdadeiros D. Quixotes da opinião e, bastas vezes, da solução.
Mas depois… Os defeitos e os vícios são privados. Públicas, só as supostas virtudes.
Lidamos mal com as nossas falhas e imperfeições. Sobretudo, temos graves problemas em as assumir.
Das duas, uma: ou temos um enormíssimo amor-próprio e uma autoestima inabalável, ou passamos a maior parte do nosso tempo a disfarçar o que efetivamente somos e pensamos, porque não gostamos assim tanto do que somos e pensamos.
Inclino-me mais para a última hipótese. E espanto-me. Porque procuro conviver com os defeitos que tenho, reconheço-os e lido com eles de forma natural. Nenhum de nós deve considerar-se “a última garrafa de Luso do deserto” (bem sei que o “dito” recorre normalmente a bebida mais “imperialista”, mas prefiro promover o que é nosso e é bom).
Este assumir dos defeitos – que passa primeiro por os reconhecer – tem como consequência necessária não nos levarmos tão a sério como, parece-me, a maioria dos meus compatriotas se leva.
Somos apenas um pequeníssimo grão de areia, dificilmente faremos a diferença, excepto nos círculos – familiares, de amizade ou trabalho – que nos são mais próximos.
Podemos falar sobre tudo. Podemos opinar sobre tudo. Diria até que devemos fazê-lo, desde que pensemos primeiro, com seriedade, sobre o assunto.
Mas acredito que ainda melhor que isso é saber que também nós somos, sempre, os “outros”, quando submetidos à análise alheia. Se olharmos para isto com boa disposição, se tivermos a capacidade de não nos levarmos tão a sério, aprendemos a rir de nós próprios. E o mundo, só por isso, será mais alegre, um sítio mais divertido e não este antro de sisudos e trombudos empertigados.
Entre o rir de nós próprios e a falta de amor próprio vai uma distância diminuta….. muitos riem sem graça, numa sociedade indiferente a tudo, uma sociedade muito doente!!
Bem visto. E transladando para o dia a dia é importante verificar como muitos entendem que “eles” devem fazer isto e aquilo e esquecem-se que são “nós” que temos o direito e dever de os mudar a eles de lá. Mas aí a coisa esquenta: “eu sou vitima” porque “eles” votam mal; eu não! eu voto “esclarecido” e não me deixo enganar pelas mentiras da “direita/esquerda”!!!; ou pior ainda : eu não vou votar que não vale a pena- era preciso era correr com “eles” de lá. Haja paciencia!!
” Levamo-nos demasiadamente a sério em quase tudo o que dizemos ou fazemos”
Isto parece-me uma opinião séria.