Por via do contencioso envolvendo o governo regional dos Açores, liderado pelo PS aos estaleiros navais de Viana do Castelo, que terminaria com a falência da empresa pública então tutelada pelo governo de José Sócrates, a construção do navio Atlântida virou uma verdadeira novela. Pelo meio alguns capítulos bizarros, como a delirante venda ao governo bolivariano de Chavez, mas nunca concretizada. Prova mais que evidente da falta de vocação do Estado para construtor naval, ou qualquer outra actividade económica. Não fossem as regras apertadas de Bruxelas, lá teríamos o bolso do contribuinte a viabilizar mais uma empresa deficitária. Este filme não é assim tão diferente da TAP e outros sorvedouros de impostos…
Os novos monstros
Compreendemos o processo: quanto mais um governo esmaga, com as suas políticas, as aspirações de um povo, mais necessita de, através de medidas mais ou menos caricatas, mais ou menos repugnantes no seu cinismo, fingir que se preocupa muito com a felicidade das populações. Como aquele ladrão que nos rouba uma carteira com mil euros e nos dá uma nota de cinco para que tomemos o táxi para casa, vangloriando-se da sua generosidade. Os exemplos multiplicam-se (lembremos, pelo seu ridículo, o momento em que a ministra Cristas nos quis proteger a saúde proibindo-nos o convívio caseiro com mais de três animais domésticos). Alguns, aparecem na área da saúde que, dada a sua sensibilidade, se presta muito a estas habilidades para hipnotizar patos. Uma das preocupações que os governos gostam de ostentar é a dos malefícios do tabaco. Longe de mim contrariar este desiderato. Porém, não é difícil detectar, nesta como noutras questões, as contradições e hipocrisias que as parasitam. Mas, pensávamos muitos de nós, este tipo de circo tem limites. Haverá um momento em que as pessoas acharão que as estão a tratar como imbecis. Haverá mesmo? As novas disposições sobre as fotos a publicar nos maços de cigarros não deixarão de por à prova este ponto. Quando li num oráculo de um telejornal que tais fotos incluiriam, a cores e em grande evidência, imagens de caixões de crianças, não liguei muito. Sabemos bem o nível de disparate a que estas “bandas passantes” podem chegar. Mas fiquei a remoer a coisa; que diabo, é o governo do Passos. Capaz das idiotices mais broncas. Agora que vejo tudo confirmado; agora que tomei conhecimento das quarenta e duas (http://www.publico.pt/n1695273 ) fotos em causa; agora que sei que isto é mesmo a sério, penso na distância que vai entre um tonto e um psicopata e sei que esta vai ser uma noite mal dormida. Temam: os (novos) monstros andam aí. E dizem que vos amam extremosamente – como a aranha dizia à mosca.
Quando os animais escrevem manuais
António José Silva e Cláudia Simões escreveram o novo manual de Físico-Química para o 9º ano intitulado Zoom, publicado pela Areal Editores. Feito um zoom ao caderno de exercícios, encontra-se isto:
Na impossibilidade de largar o António José Silva da varanda, eventualmente cruzando-se com a Cláudia Simões empurrada de uma janela 2 metros abaixo, e de calcular os estragos que ambos causariam ao piso da calçada, tendo em conta a densidade de calhau rolado que ambos demonstram possuir, limito-me a sugerir que ninguém adopte este manual. É o mínimo, e manuais escritos por animais têm um bom destino: o zoológico.
Imagem roubada no Facebook a Luísa Coelho.
Adenda: a jornalista Clara Viana, com o seu habitual rigor quando se refere a assuntos denunciados no Aventar, descobriu que o exercício após a sua publicação numa página pessoal do Facebook, anónima, “foi replicado depois por uma série de blogues” e escreveu no Público sobre o assunto. A editora já pediu desculpa, o exercício será retirado, mas aos teocratas da Física (fisiocratas é outra coisa) que agora aqui vêm defender o indefensável aproveito para deixar uma citação do Carlos Fiolhais, e discutam lá a vossa ciência com ele, que por mim, assunto resolvido, acabou a pachorra, e já me falta muito pouco para começar a defender o Crato e a Maria de Lurdes Rodrigues
Em declarações ao PÚBLICO, o físico Carlos Fiolhais, que também é autor de manuais escolares, considera que o exercício “é, por razões éticas, inadmissível do ponto de vista didáctico”. “Não se devem fazer experiências desse tipo com animais, uma vez que estes têm direitos”, especifica.
Fiolhais explica que o enunciado proposto nada tem a ver com o que é descrito no problema do “gato que cai”, um clássico da física onde se tenta perceber “por que razão os gatos caem normalmente com os pés para baixo depois de darem várias voltas”. “Para a disciplina em causa e para o nível etário em causa, qualquer objecto pode servir para exemplo. Dar um exemplo de ‘lançamento de um gato’ é inteiramente inaceitável”, conclui.
Exames: a falsa independência do IAVE e a deriva intelectual de Crato
Santana Castilho *
Limpo de ruídos, o presidente do Conselho Científico do IAVE disse em Coimbra, no passado dia 16, que o Ministério da Educação e Ciência condiciona o IAVE, preordenando o resultado dos exames. E da teoria passou à prática, dando exemplos, bem claros, de como se faz. Não retomo esses exemplos porque podem ser lidos na edição do Público de 17 de Maio.
O que se passou é particularmente grave e a suspeita está aí a enlamear os exames que acabaram de começar. Não conheço os termos da “encomenda” senão por discurso indirecto. Mas conheço o que é público sobre a lastimável actuação do IAVE.
O IAVE, na proclamação falha de sentido de Nuno Crato, seria uma instituição independente da tutela do próprio ministério, a quem incumbe a avaliação externa do sistema de ensino. Ou seja, o ministro pensou que agarrando exactamente na mesma tralha que constituía o GAVE (o art.º 27º do diploma constitutivo fixa como critério de selecção do pessoal do IAVE o desempenho de funções no anterior GAVE), bastava rebaptizá-la para que nós a engolíssemos como independente. Com membros do conselho directivo designados por resolução do Conselho de Ministros, sob proposta dele próprio (art.º 9º do DL nº 102/2013). Com um Conselho Geral outra vez designado sob proposta dele (art.º 13º). Pago pelo orçamento de Estado. Sendo isto um embuste, é intolerável a desfaçatez que o refina, à vista de todos. [Read more…]
A homofobia saloia no IPST
Segundo o presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), o sexo entre homossexuais implica um risco maior do que o sexo heterossexual em que uma das partes é portadora do vírus HIV, no que a elegibilidade para dar sangue diz respeito. Por esse motivo, homens que têm sexo com outros homens estão excluídos para sempre de participar em dádivas de sangue ao passo que qualquer pessoa que tenha sexo heterossexual com portadores do HIV fica apenas suspenso por um período de 6 meses.
Causa-me estranheza que o critério deste indivíduo assente numa espécie de inevitabilidade do sexo homossexual entre homens ser condição para a existência de DST’s. Que todos os homossexuais trocam de parceiro como quem troca de meias. Que ter comportamentos de risco é inerente à sua condição. E que o preconceito de Hélder Trindade seja tão fanático que lhe permita ignorar o incentivo à manipulação dos questionários de potenciais dadores que representa e que lhe permita vender aos portugueses que o sangue de um homossexual é mais perigoso do que o de um portador do HIV. Prémio Richard Cohen para Hélder Trindade já!
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