Quem quer poder mostra a fila

luismontenegro0113627bce_400x225Há homens que ficarão para a História, por feitos que os libertarão da lei da morte; outros transformar-se-ão em anedotas, a História dos mais pequeninos. Se os primeiros alcançarem algum tipo de poder, a humanidade ganhará com isso; tenham poder os segundos e será fácil perceber a política portuguesa.

Apesar de a introdução poder indicar que iria escrever sobre Duarte Marques, a verdade é que, infelizmente, há muitos que lhe disputam a palma da mediocridade e do disparate. Luís Montenegro, chefe de bancada do PSD, é um desses cómicos involuntários cujas palavras surgem no espaço público com a sensatez de uma manada de búfalos em fuga e com a delicadeza de um elefante em plena época de cio, perdoe-se-me o exagero das metáforas.

Em Fevereiro do ano passado, Luís Montenegro foi o autor involuntário de uma concepção de país que não inclui necessariamente os seus habitantes. Por isso, faz sentido ter afirmado que a vida das pessoas não estava melhor mas que o país estava muito melhor. Para folgazões como Montenegro, mais do que haver pessoas a mais, as pessoas estão sempre a mais. Se fosse guia turístico, o líder parlamentar do PSD diria aos turistas: “À vossa direita, as pessoas, que, na verdade, estão com muito mau aspecto; mas, do lado esquerdo, vejam o país, que lindo que está!”

Há pouco tempo, Luís Montenegro resolveu ilustrar as diferenças entre Portugal e a Grécia, dizendo, muito contentinho, que por cá “não temos de estar em filas para levantar dinheiro”, revelando uma estranha preocupação com as pessoas, talvez porque são gregas. A verdade é que o disse com o mesmo prazer com que os meninos que copiam os trabalhos de casa apontam o dedo aos colegas que não o fizeram, apenas com o objectivo de ficarem bem-vistos pelos professores.

Luís Montenegro quer poder e, para isso, mostra a fila dos outros. O Jorge anda, despudoradamente, a mostrar filas e filas de portugueses, como se isso tivesse alguma importância. Afinal, o que é que há nas filas? Pessoas. E Luís Montenegro já explicou que as pessoas são sítios onde não há país.

Comments

  1. Filipe says:

    Muito bom.

Trackbacks

  1. […] preocupa-se com as pessoas. Com pessoas? A besta quadrada está em vias de […]

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