Em Bruxelas como em Bagdad, em Paris como em Cabul

TERRORISMO

Madrid, Londres, Burgas, Paris, Ancara, novamente Paris e agora Bruxelas. O terror em larga escala, com a assinatura dos fundamentalistas islâmicos, insiste fazer parte do quotidiano do Velho Continente.

Não existe desculpa possível para a barbárie. Argumentações exclusivamente baseadas no imperialismo norte-americano ou no apetite voraz do capitalismo selvagem não chegam para explicar o fenómeno, apesar de desempenharem o seu papel. Afinal de contas, por onde circulam os milhões que financiam o terrorismo? Quem vende as armas? Quem lhes compra o petróleo e as obras de arte que não são destruídas para a fotografia como vimos em Palmira? E onde estão os mecanismos para controlar os terroristas de fato e gravata? Existem? Serão eles tão eficientes como a paranóia securitária exportada pelos terroristas de Estado norte-americanos, que parece crescer na exacta mesma medida que o terror?

Importa recordar que os muçulmanos não são todos iguais e que ninguém mais do que eles tem sofrido com o terror cobarde que não bate à porta antes de a mandar abaixo. E para isso basta pensar no número de atentados que aconteceram no último ano em países como o Iraque, numa frequência quase diária. Mas a verdade é que há por aquelas bandas uns quantos políticos corruptos, disfarçados de califas ou fazendo-se passar por profetas, que têm sabido cavalgar a onda do medo e converter milhares de almas perdidas ou sem nada a perder à doutrina da violência. E com tantas invasões, tantos golpes de Estado financiados pelo exterior, tantos bombardeamentos que destroem escolas, hospitais e as casas de milhões, a fila do exército do terror só pode crescer e crescer.

Mas nada disto pode ser feito sem dinheiro e é aí que entram os príncipes sauditas e os xeques de um emirado qualquer, que de manhã investem na City ou em Wall Street e à tarde transferem milhões para as Al-Qaedas e Daeshs desta vida. E o que tem feito o Ocidente para conter os padrinhos destas máfias? Rigorosamente nada. Pior: trata muitos destes criminosos com as mais altas honras de Estado. Porque no final do dia, uma religião congrega a todos: o dinheiro. E enquanto o dinheiro falar mais alto do que a vida humana, o terror continuará e mais inocentes pagarão a factura, em Bruxelas como em Bagdad, em Paris como em Cabul.

Comments

  1. Carvalho says:

    João Mendes: 200% de acordo.
    Registo aqui que este é, na minha opinião, o melhor texto que este blogue publicou nos últimos meses. O mais lúcido, o mais certeiro. Parabéns.

  2. Ana A. says:

    Batemos sempre contra a mesma parede!
    Qual será a fórmula para “criar” seres humanos sem o perfil de predadores? Receio bem que o endeusamento do dinheiro e do Ter, irá perdurar por muitos e muitos anos. Por isso, só cada um no seu pequeno nicho familiar e de proximidade poderá combater essa tendência e esperar que essa semente germine e se multiplique.

  3. Victor says:

    Muçulmanos extremistas são terroristas, cometem suicídio para matar dezenas de pessoas. Têm a ambição de submeter países inteiros à Lei da Sharia (ex.: Sharia4Belgium, Sharia4Holland)
    Muçulmanos moderados – tratam mal as mulheres, matam apóstatas, matam dissidentes, matam homossexuais, matam mulheres adúlteras [sim, está inscrito na Lei dos respectivos países!]
    Alguém conhece algum Muçulmano ligeiro?


    • Mais outro “Gajo de Alfama”! Esse sketch dos Gato Fedorento nunca perde actualidade.. Eu tenho bons amigos muçulmanos, bastantes até, e que eu saiba, felizmente nunca mataram ninguém nem deram com o chicote à mulher. Agora é evidente para as pessoas que têm a visão do mundo reduzida à tasca que frequentam para ler o Correio da Manhã e A Bola, é um bocado complicado estar a explicar isto..

      • Victor says:

        Meu caro, que me importa que conheça bons muçulmanos, se os governos nos quais a maioria se sente representada têm Leis barbáricas


        • Aí é? Tudo bárbaros portanto. Então e os países ocidentais que invadem e destroem tudo o que cheire a petróleo, levando casas e hospitais pela frente? Também pagamos todos por isso? Enfim…


    • Claro que conheço. Como conheço uns quantos cristãos radicais. A diferença entre a sua visão e a minha é que opto por não entrar em generalizações abusivas baseadas no preconceito.

  4. Afonso Valverde says:

    Ó Fernando, eu também tenho “amigos” pretos com quem convivo muito bem à volta de um copo de cerveja. Quando se trata de falar de “tribo” = princípios-história, visão, direitos humanos, ficamos reduzidos ao umbigo. Aí a conversa termina para ficarmos “amigos”. Com alguns deles partilhei casa e mesa. Quando a coisa fica profunda subsiste o misticismo deles e a minha falta de entender esse misticismo porque já não estou na idade média. Que fazer? Prosseguir com a convivência até que seja possível termos uma visão do mundo para além do misticismo. E olhe que mutos deles frequentaram universidades católicas, mas continuam marcados pelo misticismo. Conhecer implica ver para além da fachada.
    Não hostilizo, mas não defendo o tal multiculturalismo. É algo delirante.

  5. Afonso Valverde says:

    Nota: O texto é muito bom. Muito claro e ideologicamente desvinculado do campos do poder, focado nos princípios do humanismo.