A instrumentalização de Pedrógão, a promiscuidade autárquica e aquele senhor dos suicídios que não aconteceram

Foto: Município de Pedrógão Grande

Leio a posta do Jorge e não fico nada chocado, ainda que numa situação normal devesse. O emaranhado autárquico é nebuloso, feito de arranjos partidários que servem interesses que não o da generalidade dos munícipes, saturado de esquemas de corrupção, clientelismo e tráfico de influências e apinhado de oportunistas sem escrúpulos. Sabemos o que a casa gasta, pelo que não surpreenderá a possibilidade de que recursos doados pelos portugueses acabem por ser usados em prol das mui nobres campanhas eleitorais de quem se conseguir fazer à vida.

É, portanto, possível que a distribuição destes recursos coincida fortuitamente com a ocasional agenda política de quem, por mera casualidade, estiver no sítio certo à hora certa. E quem parece estar em alta, no que a estar no sítio certo à hora certa diz respeito, é o candidato do PSD à CM de Pedrógão Grande. Caso o nome João Marques lhe soe estranho, caro leitor, trata-se daquele indivíduo que, durante o clímax da tragédia que se abateu sobre aquele concelho, com o oportunismo político a atingir níveis estratosféricos, saltou para a ribalta quando, alegadamente, informou Pedro Passos Coelho sobre suicídios que não aconteceram, reportado por testemunhas e familiares que nada viram, e que o líder do PSD usou como arma de arremesso, acabando humilhado e sem outra alternativa que não fosse pedir desculpa aos portugueses.

Acontece que este militante laranja, que esteve 16 anos no poder (1997-2013) em Pedrógão, afastado posteriormente pela lei da limitação de mandatos, saltou dos paços do concelho para a Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, onde ainda exerce as funções de provedor, ao mesmo tempo que se passeia pelas ruas do concelho em pré-campanha eleitoral. Quatro mandatos à frente da autarquia, quatro anos no topo da hierarquia da filial local de uma das mais poderosas instituições deste país, a possibilidade de influenciar a distribuição de milhões de euros de ajuda, entre outros bens, tudo isto num cenário de instabilidade emocional, parece-me um terreno muito inclinado para um combate político justo e equilibrado. Para além de tresandar a incompatibilidades por todo o lado, como o Jorge sublinhou.

Com as Autárquicas à porta, a queda de Passos Coelho está a ser acompanhada por fenómenos que não dignificam a história de um partido que é maior de que estes anos de afastamento do centro. Em Lisboa temos uma candidata imposta pelo aparelho nacional, acusada de se recusar a dialogar com a concelhia, no Porto um candidato que vê comunistas em todo o lado, em Loures um indivíduo a fazer declarações xenófobas, a quem até o CDS-PP retirou o apoio, e em Pedrógão Grande este senhor que cria factos alternativos e que aparentemente terá uma palavra a dizer sobre o destino dados a milhões de donativos, que tanta falta fazem a pessoas totalmente desesperadas, que dentro de pouco mais de três meses irão às urnas. As sondagens são o espelho deste declínio que não augura nada de bom para o PSD e para a sua actual liderança. Até lá, como alguém disse, e muito bem, continuará a ser o melhor seguro de vida da Geringonça.

Foto: Expresso

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    A preocupação tem que existir, pois estamos perante gente e uma máquina partidária sem escrúpulos.
    Por outro lado, o provedor vai ficar sujeito a um escrutínio para as eleições. Se perder, dir-se-á que é tudo lógico … Mas não me acredito, sinceramente, pois a Imprensa fará o trabalho sujo.
    Mas coloco a pergunta: E se ganhar (para mim é o mais certo)?
    Que raio de democracia é esta, onde os malfeitores que inventam suicídios e guardam o dinheiro para “melhores oportunidades”, ganham eleições?
    Pergunto: Se ganhar, que raio de povo é este que depois de desbastado por um incêndio, ainda por cima agradece as malfeitorias?


    • É o nacional-sadomasoquismo, caro Ernesto. Isso, a já referida falta de escrúpulos e a ignorância que reina.

    • Joaquim Marques says:

      Se o dito cujo fosse do PS já não falavas assim.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Era bom que o Sr. Joaquim Marques falasse do que soubesse em vez de se por a mandar bocas características de “franco atirador”.
        Compreendo que quem não tem nada para dizer e queira “aparecer” abra a boca para dizer que está vivo. Quer discutir ideias? Vamos a isso. Quer mandar umas bocas para evitar que entre mosca? Não tenho disposição para o aturar.
        Fique bem.

  2. Ausente52 says:

    Toda a classe politica é um autentico monte de esterco.
    Infelizmente há quem se dê bem no meio do esterco. Eu não!

  3. A. Cabral says:

    Esterco sim é a palavra certa na boca feita de esterco….


  4. Já não há paciência para assistira “a certo tipo de luta política”.
    Depois admiram-se do desinvestimento social nos actos eleitorais e outros.!