Leituras

Sinceramente, não compreeendo como é que se pode andar por aí a saudar as decisões das agências de notação, mesmo que seja por oportunismo. O movimento recente de melhoria da notação da República dá jeito, eu bem sei. Note-se, no entanto,  que quem não tem memória e quem aceita as estruturas financeiras por reformar, até pode ganhar alguma coisa no curto prazo, mas perde também sempre qualquer coisa no curto prazo e tudo no médio e no longo.

Note-se que estamos a falar de instituições que tiveram responsabilidades pela crise financeira, iniciada em 2007-2008, validando todo o lixo financeiro que a ganância sem trelas regulatórias relevantes conseguiu inventar até aí. Esta crise tramsmutou-se na zona euro em crise da dívida que não era, e que continua a não ser, soberana, dado que está denominada em moeda estrangeira. Neste caso, as agências validaram toda a especulação contra os elos periféricos mais fracos. [João Rodrigues;  continua no Ladrões de Bicicletas]

Os ventos nos últimos 3 anos têm-nos sido favoráveis. Juros baixos, melhorias de notação financeira e melhoria dos indicadores que a UE tem usado para nos apertar. Mas olhemos para nós mesmos e constate-se que o país continua essencialmente igual. Não houve transformação alguma que justifique a mudança, sendo o actual estado das coisas circunstancial.

Bom, mudou num aspecto, mas para nos fragilizar mais. O trabalho passou a ser mais precário e a malha do Estado está quebrada, mergulhada num mar de falta de meios, à mistura com ineficiência e desorganização. Mas estas agências  dizem que agora estamos melhor. Não estamos. Apenas vivemos um desafogo, graças ao garrote menos apertado. Dão-nos melhor nota depois da destruição causada pelo sector financeiro, esse mesmo no qual essas agências de notação validaram todo o lixo como se se tratasse de ouro.

Comments

  1. JgMenos says:

    «depois da destruição causada pelo sector financeiro»
    Que consolo!
    Julguei que foi a cretinice socratiana em cima da idiotice abrilesca, mas afinal foi o sector financeiro que lhes meteu dinheiro pelas goelas abaixo e depois parou com a receita.


    • Acontece que V. Ex.a não é conhecido pela acuidade do julgamento.

    • ZE LOPES says:

      É! Foi por culpa do Sócrates que faliu o Lehmann Brothers. Foi quando pediu ao Carlos Silva duas fotocópias para dar a uma pobrezinha quando, por cretina inconsciência desequilibrou instantâneamente o balanço de uma instituição que, até à altura, estava classificada AAA (depois corrigida para Ah!Ah!Ah!) pelas agências de rating.

      Já a falência do BPP e do BES e do BANIF foi produto da abrilice idiotesca. Realmente, foi idiota confiar em gajos que chegaram ao desplante de deixar velhinhos na miséria, embora cheios de papel comercial. Que, ainda por cima é virtual. Se fosse como antigamente, ao menos estariam servidos no WC até ao fim das suas vidas e das duas gerações seguintes.

      • ZE LOPES says:

        Corrijo: no BPP não houve papel comercial. Só sobraram aqueles anúncios de páginas inteiras na revista do “Expresso” e 24.756 exemplares do livro “Testemunho de um Banqueiro”, da autoria do CEO conhecido como João Falideiro.

  2. Mário Reis says:

    Os portugueses deviam compreender o quanto importante foi a Revolução de Abril, que devíamos ser os protetores da ética e valores daqueles ideais e não serventuários da escassez de recursos financeiros dos Estados, intencionalmente e organizadamente debilitados. Em vez de procurar-se construir um futuro mais integro e justo, os “governos”, este perigosamente… incluído, continuam a servir as clientelas, a produzir a ideia que se nos portamos bem podemos sair do buraco, a seguir os horizontes das seitas do passado. É corajoso e consequente o trabalho do João Rodrigues e de muitos outros que questionam como construir um bem maior e mais justo. É um incentivo à organização de vontades para que se estude este mundo cada vez mais desigual, se fomente vigilantes conscientes do logro, desmontadores das falácias e das ideologias castradoras da justiça e bem estar e funcione como grupo de pressão de uma reconstrução ética da vida com o outro. Do outro lado, ‘(…) estão os casulos que dão poder a quem neles habita. Estes conhecem antecipadamente os métodos a utilizar e os percursos a palmilhar, não têm de aprender novas técnicas e dialogar. A linha do horizonte está desenhada: Tudo depende deles, todos têm de se vergar à sua imprescindibilidade. O futuro será a continuidade do passado, mesmo que estes sejam de mais dias ou anos que o possível e necessário.’

  3. ganda nóia says:

    jgmenos – a sífilis já corroeu esse cérebro inteirinho.

  4. Carlos Almeida says:

    Boa tarde Sr jgmenos

    Quando eu era miúdo, o professor de matemática dizia que na multiplicação de dois números negativos, o resultado era um numero positivo. E para facilitar a aprendizagem dizia-se “menos por menos dá mais”.

    Infelizmente não se pode aplicar a mesma regra aos seus posts. Menos por menos dá sempre menos e quantos mais postes mais negativa é a conta.
    Estimo as melhoras. Espero que a doença não seja contagiosa.

  5. JgMenos says:

    O grande argumento dos treteiros é falsear a linha de tempo.
    Se os problemas dos bancos portugueses forem colocados antes da demissão do 44…fica o quadro mais composto.
    No final tudo acaba em culpar os Passos Coelho.
    Curioso, há tempo que não o vejo nomeado!

    • ZE LOPES says:

      É porque estamos no defeso! Está proibida a caça!

    • ZE LOPES says:

      Lá está! falou-se em banqueiros e lá vem a resposta de V. Exa. O seu amor pelos banqueiros é deveras comovente.

      Em matéria de linhas do tempo falseadas os treteiros direitolhos costumam envesgar sempre que se fala de bancos, atribuindo os seus problemas ao governo Sócrates. Ora, e passando por cima do facto de o BANIF até ser um banco dileto do PSD, versão Madeira, os problemas dos bancos começaram há muito: foi desde que os mercados financeiros foram liberalizados e a supervisão arreada, permitindo-lhes fazer todo o tipo de cavaladas com o dinheiro dos depositantes, ou seja, o meu e o seu, desde produtos financeiros “de casino” a negócios especulativos e a crédito aos amigalhaços.

      Tudo começou cá no tempo de Cavaco Silva. E nunca vi propriamente nenhum daqueles a que chama esquerdalho ser CEO de um banco…


  6. As Agências de Notação Financeiras e a Linguaruda da Minha Aldeia.
    Quem conhece os meios pequenos sabe que existe sempre uma personagem que se caracteriza pelo escárnio e mal-dizer, de tudo e todos. Esta ave não nos merece qualquer tipo de credibilidade: mente, inventa histórias, levanta boatos sobre relações, sobre dívidas, devedores e caloteiros. Ninguém está imune à língua da peça: é canhão sempre pronto a disparar; até porque munições não lhe faltam. Estava sempre presente nos bailaricos e era vê-la a observar e a registar o comportamento das pobres miúdas – no dia seguinte é que se iria ver.
    Contudo, apesar de ninguém gostar dela, toda a gente procurava estar nas suas boas graças. Presentes, convites – ai de quem não a convidasse. Pobre do/a desgraçado/a que saísse das suas boas graças ou caísse nas suas garras: tinha uma existência desgraçada. Claro que a peça às vezes tinha alguns dissabores, a mentira era por demais evidente; chegando-se à conclusão que fora ela a própria a contribuir para o agravamento da situação ou da complicação.
    Mas, como a esperta sabia que mais do que tudo as pessoas queriam sobreviver, e porque precisavam, não queriam o seu nome na lama, a linguaruda era apaparicada e vivia à grande. Esta que eu conhecia, já morreu.