“Há patifes por todo o lado. A situação é desesperante”

No dia em que se celebra a conquista da Liberdade e Democracia em Portugal, a organização não governamental Repórteres sem Fronteiras publica o seu relatório de “Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2018″, denunciando um sério agravamento da hostilidade contra os mídia/jornalistas no continente europeu.

Entre os países europeus, em que a liberdade de expressão e de informação está mais fortemente refém dos interesses de regimes autoritários, figuram a Hungria, Polónia, Tchetchénia, Eslováquia e, claro, Malta – o paraíso fiscal onde em Outubro do ano passado foi assassinada a corajosa jornalista Daphne Caruana Galizia, por explosão de uma bomba colocada no seu automóvel. Sabia demais sobre corrupção nos mais altos círculos governamentais. “Há patifes por todo o lado. A situação é desesperante” – foram as últimas palavras que Daphne escreveu no seu blog.

Tal como demais sabia o jornalista eslovaco Jan Kuciak, assassinado a tiro juntamente com a sua companheira em Fevereiro passado, enquanto investigava fraude fiscal e corrupção de alto nível envolvendo a máfia italiana e políticos do seu país.

O tecido de que são feitos os tão aclamados princípios europeus está a esgaçar-se por todo o lado, sob a tensão do primado do lucro e o ataque das traças neoliberais, acarinhadas por governos eleitos por povos supostamente sem alternativa, mantidos cansados e espremidos – para produzirem baratinho – e alienados por via do consumo, futebóis ou redes sociais.

Há, sim, saquinhos de cânfora ou lavanda, como o “Projecto Daphne”, e valha-nos isso.

Mas os insectos são cada vez mais vorazes e, enquanto acenam com a profusão de pechinchas que podemos comprar à custa de condições de produção e transporte degradantes e nocivas que não interessam a ninguém, transformam em farrapos as conquistas das gerações que lutaram pelos Direitos, pela Democracia.

Nota: Surpreendentemente, Portugal subiu quatro lugares na classificação e ocupa agora o 14.º lugar.
Contudo, de acordo com o relatório, divulgado desde 2002, a “atitude grosseira”, por parte dos agentes do futebol, representa um dos principais problemas para os meios de comunicação.

 

25 de Abril: de 1974 a 2018

Não tenho dúvidas. 25 de Abril de 1974 foi o dia mais importante das últimas décadas na História de Portugal.

Não mudou apenas o regime nessa data.

Para o melhor e para o pior, o país redesenhou-se, abandonou ideias imperiais, virou-se para a Europa, garantiu direitos para os cidadãos, socializou funções do Estado, combateu o analfabetismo e a pobreza extrema, aboliu bairros-de-lata, abriu fronteiras a outros povos, mas também escancarou portas a novas clientelas oportunistas e deixou que se instalassem pseudo-elites resultantes dos equilíbrios então gerados e das dinâmicas de mudança.

São estas que agora discursam no parlamento e nas celebrações. Corrompidas e demagogas, fizeram das encenações oficiais o Dia das Belas Intenções e juram nesta data aquilo que proscrevem durante o ano.

Neste 25 de Abril que já não é do povo ouve-se falar em povo. Também em justiça social, em diminuição das desigualdades, em combate à corrupção e à acumulação de riqueza não tributada, etc.

Contudo, se antes o problema era o 24 de Abril, agora o que é preciso mudar é o 26 de Abril e os dias que se lhe seguem.

O fascismo que espreita

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44 anos depois, mais do que nunca, devemos estar vigilantes. O fascismo espreita ao virar da esquina, com novas roupagens e apelos, aqui como em grande parte do continente europeu, para não falar na ascensão do novo fascismo americano.

Por cá, neste rectângulo que a resistência anti-fascista libertou, ainda existem partidos políticos com assento parlamentar com fascistas assumidos nas suas fileiras, outros com fascistas hipócritas que não se assumem, autarcas e dirigentes públicos corruptos que se comportam como pequenos tiranetes e a mesma impunidade que protegia os poderosos do passado. Não é um cenário particularmente animador. [Read more…]

Portugal é um caso de sucesso

salgueiro-maia_25_Abril[Helena Ferro de Gouveia]

Em apenas 44 anos, Portugal é um caso de sucesso.
De um país muito pobre, atávico, bafiento, pleno de beatas (os) e que cultivava a humildadezinha, passou a um país rico ( entre as nações mais ricas do mundo e da geografia confortável), onde a maioria dos jovens tem a possibilidade de estudar ( viajar, fazer Erasmus, voluntariado, estágios), bonito ( valorizou o seu património cultural e história), tornou-se assertivo (quem pensaria há uns anos ter um secretário geral da ONU português).
Temos tudo para dar ainda mais certo (falta-nos um pouco mais de inscrição e cidadania, mas também isso está a mudar para melhor, e a capacidade de aceitar críticas frontais).

Viva a Liberdade e viva Portugal.