Bloco de Esquerda e o rabo de fora…

O Bloco de Esquerda decidiu unir-se ao Podemos (Espanha) num movimento internacional criado por este com o objectivo de evitar o envio de armas à resistência ucraniana. A primeira surpresa: ver o Bloco de Esquerda a unir-se a um partido que em Espanha tem feito e dito, sobre a invasão russa da Ucrânia aquilo que o Bloco critica ao PCP. Um cheirinho a hipocrisia, não? Então, cá dentro critica o PC e lá fora une-se com os que dizem/defendem o mesmo que o PCP. Hummm, parece que estou a ver ali no canto um rabo de fora…

(estas linhas da notícia são uma delícia: El pasado lunes, Podemos celebró que los comunistas portugueses del Bloco de Esquerda se hayan sumado a la iniciativa. Esta entente sirve a Podemos para posicionarse en el tablero internacional y ganar espacio en la política interna)

A segunda surpresa: não enviar armas para os resistentes ucranianos cujo seu país está a ser invadido pela Rússia de Putin. Entendem que o esforço deve ser todo concentrado na busca pela paz. A paz é o que todos queremos, sejamos de esquerda, de direita ou candidatos a Miss Universo. Só que, para que a paz exista é preciso que todos a desejem. Putin quer a paz? Quer, mas só depois de ter conseguido matar todos os ucranianos que desejem ser ucranianos e não russos e depois de ter destruído toda a Ucrânia. Até o conseguir, não teremos paz. E os ucranianos, querem a paz? Querem. Querem o seu país livre de forças militares ocupantes e com isso, existirá paz. É assim tão difícil perceber a realidade? Depois de os russos terem invadido a Ucrânia a paz só é possível se eles regressarem a casa. A partir do momento que entraram e começaram a matar e destruir como raio se ontem a paz sem recuarem? A paz só não a quer quem vende armas ou quem for chalupa. Todos a queremos. O problema é como a obter.

Para uns, a paz só se consegue se as tropas russas regressarem a casa e aí as partes se sentarem a negociar a dita. Para outros, não chega. Será necessário Putin ser corrido ou morto. E depois temos os líricos que entendem que a paz se obtém com a rendição dos ucranianos (não sei se pensavam o mesmo em 1939 ou na ocupação de Timor). E depois temos os sonhadores, que acreditam em unicórnios e que com músicas e corações desenhados a coisa vai lá.

Por último, temos os hipócritas. Os hipócritas estão do lado de Putin mas sabem que afirmar isso prejudica a sua imagem e o seu negócio (os votos) e então defendem coisas que não lembrariam nem aos terraplanistas: somos pela paz e por isso o caminho é não fornecer armas aos ucranianos. Ou seja, traduzido, se os ucranianos não tiverem armas a paz é garantida. Pois é. Após serem assassinados e o seu país totalmente destruído, só fica uma das partes. E assim temos paz. A paz dos agressores e a morte dos oprimidos.

O que me espanta mais é que esta esquerda sempre me habituou, no seu lado positivo, a lutar pelos oprimidos, a lutar contra o bullying e quem o pratica, a lutar pelos trabalhadores, a lutar contra a pobreza, a lutar por aqueles que precisam de todo o apoio nos momentos mais difíceis. Que se passa com essa esquerda neste momento? Que mal lhes fizeram os ucranianos? Porquê?

Termino citando o artigo de hoje daa historiadora de esquerda, Irene Pimental, no Público:

“A minha esquerda é a esquerda ocidental que apoia a esquerda dos países de leste. É a esquerda do ucraniano Taras Bilous que acusa o “anti-imperialismo de idiotas” de certa esquerda ocidental face à invasão da Ucrânia. A minha esquerda é a que luta contra todo o iliberalismo mais frequente à direita (Orbán, na Hungria, e Bubba, na Polónia), mas existente também à esquerda. A minha esquerda é aquela que diz, como Pacheco Pereira, que se deve analisar todas as cores da realidade complexa, mas, que no fim, tem de tomar uma decisão e esta é sempre a preto e branco. A minha esquerda é a que está contra a guerra criminosa da Rússia de Putin, cujas tropas, no momento em que escrevo, estão a chegar a Kiev”. Irene Pimental, Público.

Comments

  1. POIS! says:

    Pois tá bem!

    Li e…interrogo-me sobre a credibilidade da “notícia”. Não a vi em mais lado nenhum. Não tem links para nenhum facto concreto.

    Não vi nada sobre este assunto em mais lado nenhum.

    E depois de ter visto, não sei aonde, alguém que não sabia que a escrita nos jornais não violava a exclusividade dos deputados e de ter dado a Mariana Mortágua como autora de uma lei em vigor, quando, na realidade, o foi de um projeto rejeitado, temos de ser cautelosos.

    E também já não me lembro onde, mas talvez me recorde se a minha memória se lembrar, que o “Podemos” votou contra a resolução do PE a condenar a invasão da Ucrânia. Não só não votou contra, como não se absteve. Votou a favor.

    De qualquer modo, o envio de armas para a resistência ucraniana duvido que seja solução. A não ser para adiar alguma coisa, mas não vejo o objetivo.

    Não acredito que a maioria dessas armas chegue, sequer, a ser usada. O exército russo não vai ficar a ver os comboios carregados de armamento a passar na televisão. Já para não falar dos aviões da Polónia. Talvez até aterrassem na Ucrânia. Mas algum chegaria a levantar voo? Duvido.

    Aliás, essa história dos aviões foi uma boa trapalhada, que só pode ser culpa do Podemos e do Bloco de Esquerda, evidentemente.

    Como toda a gente sabe, foram eles que divulgaram que os polacos queriam entregar os aviões aos americanos. O Putin, que não sabia de nada, ficou logo à coca e a coisa ficou estragada.

    Valha-nos que a China já está do nosso lado. E vai pôr Putin a respeito!

    Pelo menos ontem, iam pôr! Hoje fizeram um intervalo, mas amanhã voltam a atacar! Podem crer!

  2. Paulo Marques says:

    Ainda bem que concordamos que a esquerda esquerda é a esquerda parlamentar.. É tudo.