É preciso contratar mais cem mil professores

A afirmação que serve de título a este texto é tão leviana como as afirmações proferidas por José Manuel Fernandes, habitual produtor de leviandades, sobretudo quando escreve sobre funcionários públicos, essa subespécie do gorgulho. [Read more…]

José Leite Pereira: a esquerda é sinistra e a democracia uma chatice

(…) o perigo que o país atravessa passa também por aqui: o de não se perceber ou não se aceitar a vantagem que temos em estar na Europa e com o Euro, e sermos atirados para uma deriva de esquerda que torne o país ingovernável e nos afaste dos padrões ocidentais que são os nossos. É bom recordar que a Europa apenas nos pede aquilo que lhe fomos pedindo emprestado.

José Leite Pereira, o director do JN, vive, por estes dias, inseguranças terríveis, à espera de saber para que lado penderá o poder, problema fundamental para quem tem como critério editorial ajoelhar-se. Diz o iluminado director que a Europa corre o risco de ser atirada para uma “deriva de esquerda”. Percebo que andar à deriva seja um problema, independentemente de o barco inclinar mais para estibordo ou para bombordo. A parte mais engraçada do texto do ajoelhado comunicador social surge quando afirma que, graças à possibilidade dessa deriva sinistra, se corra o risco de ficarmos com um “país ingovernável”, afastado dos “padrões ocidentais que são os nossos.” O genuflectido dirigente não se terá apercebido de que o país já está ingovernável? Tanta ajoelhação não terá permitido a esta admirável criatura verificar que essa mesma ingovernabilidade nasceu de anos de derivas, com o barco a inclinar muito ou muitíssimo para a direita? [Read more…]

Miguel Sousa Tavares: desculpas de mau apagador

Miguel Sousa Tavares, na sequência do que escreveu na semana passada, conseguiu reconhecer que se enganou na quantia astronómica que os professores recebiam por classificar exames. A argumentação não é convincente e, como qualquer menino birrento, não consegue reconhecer um erro sem, imediatamente, contra-atacar, acumulando mais erros.

Talvez, desta vez, tenha ido ler, finalmente, o despacho 8043/2010. Uma vez aí chegado, descobriu ou reconheceu que se tinha enganado: os professores recebiam 5 euros ilíquidos por exame. No entanto, não perde uma oportunidade para acrescentar que poderiam receber “7,5 ou 15, em casos particulares.” Mais uma vez, alguém menos informado poderia ficar a pensar que havia casos particulares na classificação dos exames. A verdade é que esses dois valores são pagos não a professores classificadores mas sim, numa fase posterior, aos que procedem a reapreciações (€7,48 ilíquidos) e aos especialistas que analisam reclamações relativas a reapreciações (€14,96 ilíquidos). [Read more…]

A escola quer-se como a sardinha

Partindo de um texto de José Matias Alves, descobri dois sites (este e este), onde se afirma que, no que se refere a escolas, o tamanho é importante: as mais pequenas são melhores. A Ministra da Educação, uma verdadeira avançada mental, deve ter lido estudos diferentes. É pena que não os divulgue. Aqui fica uma citação que não consiste, propriamente, numa defesa dos mega-agrupamentos:

The Chicago Public Schools is committed to creating and sustaining small schools as a district-wide school improvement strategy. There is almost 40 years of existing research and literature on small schools which indicates that students in small schools have higher attendance and graduation rates, fewer drop-outs, equal or better levels of academic achievement (standardized test scores, course failure rates, grade point averages), higher levels of extra-curricular participation and parent involvement, and fewer incidences of discipline and violence. The summary of research below includes data and information from this body of research, highlighting several studies for each type of measure. These studies include results from research conducted in Chicago, as well as nationally. For detailed information on these studies, please refer to the list of references included at the end of the summary.

A importância do Latim

Eles conhecem os deuses gregos e falam latim

A sociedade e a escola portuguesas têm vindo a esquecer a importância das Humanidades, o que tem contribuído para sonegar à grande maioria dos jovens um conhecimento mínimo acerca das raízes da cultura portuguesa, com tudo o que isso implica de elementos da cultura europeia, o que, por sua vez, historicamente, os obrigaria a olhar para Atenas, Roma, Jerusalém e Meca, para não tornarmos esta lista extenuante.

A propósito deste problema, seria importante referir, entre outras causas, a desvalorização da Literatura no Secundário ou da História no Básico e no Secundário. O que esta notícia vem lembrar é a importância do ensino precoce do Latim, que, nos últimos anos, tem passado de Língua aparentemente morta a disciplina em estado efectivamente comatoso.

Reler esta notícia de 2008 serve para confirmar que a Educação em Portugal tem estado entregue a inimigos do saber e do conhecimento. A propósito da diminuição de alunos a aprender Latim, dizia, então, em dialecto educonomês, Valter Lemos: “Temos professores para ensinar Latim, mas não há procura. O problema existe nas línguas clássicas no geral e até em algumas línguas modernas. Tem a ver com as expectativas e os interesses das famílias.” Não seria, então, de sujeitar a escolha do currículo a uma sondagem às famílias?

As práticas das escolas referidas na notícia merecem-me os maiores elogios e não deveriam estar dependentes de nenhuma espécie de autonomia: o ensino do Latim deveria ser obrigatório.

Professores a mais? É despedi-los, claro!

Quando os portugueses, em geral, e os políticos, em particular, perceberem que somos um país subdesenvolvido também em termos de Educação, talvez os problemas possam começar a ser resolvidos. Enquanto isso não acontecer, tudo o que anda a ser feito nem sequer pode ser comparado a cirurgia plástica: é só maquilhagem, sob a forma de diplomas e estatísticas.

Quando isso acontecer, será possível saber com rigor as necessidades das escolas em termos de recursos humanos. Sempre sem querer saber o que se passa no mundo real, o Ministério da Educação prepara-se para prescindir de milhares de professores, inventando pretextos pedagógicos ou constitucionais, quando, na realidade, o faz usando critérios exclusivamente economicistas.

Com o cinismo habitual desta gente que se tem dedicado a destruir o país, usam meias verdades, fugindo das verdadeiras questões com sorrisos de circunstância. É verdade que, legalmente, não haverá despedimentos, porque se trata de professores contratados. O outro lado da verdade é que estamos diante de uma multidão de profissionais qualificados que não poderão continuar a leccionar.

Nas declarações de Isabel Alçada, surge outra meia verdade, a de que são as escolas a indicar as necessidades. A parte que fica sempre escondida é que a indicação de necessidades está condicionada por critérios que não depende das escolas

É evidente que o sistema de ensino não deve ter mais professores que os necessários, como não faria sentido uma empresa contratar trabalhadores de que não precisasse (embora haja muitas instituições do Estado – autarquias incluídas – cheias de boys absolutamente dispensáveis). O problema é que, num país que mantém um atraso elevadíssimo, ao contrário do que dizem as estatísticas, não é possível dispensar recursos, muito menos se forem humanos e altamente qualificados.