Ser ou não ser (um populista)?

Rui Rio, o amordaçado líder da oposição

Quando confrontado com a expressão “democracia amordaçada”, utilizada recentemente pelo mesmo Cavaco que tentou amordaçar a arte de Saramago, Rui Rio afirmou que “não iria por aí”. Mas foi bom senso de pouca dura. É que, imediatamente a seguir, num acto de calimerismo político que não é novo, Rio queixou-se da falta de comentadores afectos ao PSD, indo mais longe e afirmando “Identifiquem-nos já comentadores que não sejam afetos ao PS”, transportando a discussão para o patamar da demagogia barata.

Em 2019, um trabalho jornalístico de Paulo Pena revelava já que, apesar da maioria de esquerda existente no parlamento, a representatividade dos partidos de direita no comentário televisivo era bastante superior à dos partidos de esquerda. Era, no fundo, desproporcional à sua representação parlamentar, sendo que, nessa óptica, o CDS surgia como o partido mais beneficiado, sendo o PCP o mais prejudicado. A tal comunicação social controlada por comunistas.

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Gastão era perfeito

Gastão era perfeito, como o da canção. Ainda hoje lembra, com prazer, o jubiloso dia em que descobriu as redes sociais e a possibilidade de nelas exercer e espalhar por toda a parte a sua perfeição. Adrede criou três perfis no facebook e um blog, tratando de se munir de heterónimos vários para intervir nos blogs e perfis alheios. Eles iam ver!
Abastecido destes recursos, Gastão não perdeu tempo a dar-lhes uso. E quanto mais os usava, mais omnisciente se sentia. E bom. Muito bom. Gastão sentia-se a pedra de fecho da abóbada universal da bondade e da correcção política. É verdade que, por vezes, perdia um pouco a cabeça ao comentar, usando pseudónimos indecifráveis, alguns blogs que visitava, mas temos de compreender, Gastão não era Deus. E, lembremos, até os deuses, por vezes, perdem a paciência. [Read more…]

Telemissão

Nestes dias, os vários canais de televisão fazem uma espécie de sprint de contra-informação que, prevê-se, se irá ainda acentuando até à próxima semana. Todos os caminhos argumentativos servem, mesmo aqueles que ofendem a inteligência de qualquer pessoa de bom senso. É que eles não procuram o bom senso nem a reflexão séria. Procuram a confusão, o melodrama reles. Atiram como pedras todas as calúnias e fantasmas que mobilizem imbecis. Qual discussão democrática, qual ponderação de ideias, qual quê. São jogadores que apostam a cave e esperam ganhar com batota. Custe o que custar, custe a quem custar. A direita mais golpista acantona-se nas televisões e prepara-se para fazer delas a sua trincheira de vigarice política. Sente-se em missão.
Hoje, quem ainda tinha alguma consideração – em muitos casos residual, eu sei – por gente como Luís Amado, Luís Delgado, Gomes Ferreira, Nicolau Santos – para citar só os que vi nesta hora e sem referir protagonistas partidários, porque não é sobretudo por estes que passa a jogada – espero que tenha ficado esclarecido.  [Read more…]

O marau

Ganhar 10.000 por mês para fazer na tv a sua própria campanha eleitoral e a da direita, rezar pela bipolarização – a bem ou a mal, se necessário – do país, queimar em lume brando adversários políticos, promover a proliferação de candidatos – da esquerda e da direita – à presidência da República para que o seu nome vá inchando, é obra só ao alcance de um marau espertalhão. Tem impacto popular? Tem. Como os programas da tarde, os anúncios de calcitrim, as telenovelas, a música pimba (não estou a fazer juízos de valor, estou a comparar estatísticas). Marcelo, repimpado e bem pago, vai fazendo pela vida. Cada vez mais rasteiro, é verdade, cada vez mais demagogo, é verdade, mas fazendo o seu caminho – movido a combustível caro – para Belém com a diligência de uma formiguinha e a elevação moral de uma minhoca.

Retrovisores analíticos

A rodada geral de debates e comentários dos programas televisivos de ontem foi bizarra. A maioria dos comentadores do auto-designado “arco da governação”, sobretudo os da direita reinante (com as duas excepções conhecidas), encheram as velas com o que pensam ser os ventos de feição e aí vai disto. Esmeraram-se nos adjectivos e atacaram forte e feio.

Notem que não duvido da complexidade da situação da Grécia, da seriedade dos problemas que ela encerra e do interesse em os discutir. Mas permito-me chamar a atenção para o que tem sido uma tónica destes ataques: tenta-se atribuir ao governo agora eleito todos os alegados vícios de que o país enferma e todos os erros cometidos nos anos anteriores como acontece nas tragédias clássicas gregas, em que os sucessores são amaldiçoados com os pecados dos antepassados, numa trama que se dirige ao fatal desenlace sem que nada o possa impedir. Ora, quem governou a Grécia nos anos anteriores foram os “partidos irmãos” dos partidos dos nossos assanhados comentadores! A Grécia afundou-se na má governação, vigarices e e expedientes dos seus partidos de direita e de centro-direita, assistidos pelo Goldman Sachs. E, frequentemente, com a tolerância silenciosa ou mesmo cumplicidade dos que agora tanto se agitam.
Passaram quatro dias sobre a eleição e já há quem pergunte se o governo delas saído já resolveu todos os problemas da Grécia.
Corja de seráficos hipócritas, galinhas que cacarejam histéricas cada vez que uma ave quer voar alto.

Sede uns senhores, carago!

jose-gomes-ferreira
É extraordinário o ódio que despertam entre os escrevinhadores e comentadores oficiais homens que pensam, falam e agem coerentemente com as convicções que (se) constroem. A adoração pelas alforrecas morais e os invertebrados cívicos e políticos continua a ser uma toxina incurável herdada dos 48 anos malditos de infecção das consciências. E não faltam arautos bem pagos e apaparicados para manter tal doença crónica. Como eles gostavam de ter um bastonário da Ordem dos Médicos ( e de outras ordens profissionais) de cerviz caída, fazendo vénias ao poder e frequentando o clube do croquete. Como lhes era grato ter um dirigente da Fenprof calado, obediente e beijando a mão ao governo. Mas não têm nada disso. Os senhores doutores em geral e de todos os graus – veja-se bem! – portam-se mal. Parece não se importarem que os considerem “trabalhadores” (bbrrrrr…), prescindindo das fidalguias com que os tentam seduzir. E, para cúmulo, não só defendem os seus interesses como parecem preocupados com os de todos nós! Abusadores! Assumi o vosso ilustre estatuto e portai-vos como os senhores que deveríeis ser. Afinal tendes – todos! – mais habilitações académicas que os membros do governo. Se continuardes a fazer ondas, sereis execrados por todas as pessoas finas da elite – desde o Relvas à Lili Caneças! E, assim, é bem feito que continueis merecer os exorcismos comentatórios dos senhores José Manuel Fernandes, José Gomes Ferreira, Marques Mendes e outros répteis

Vai Seguro e não Maduro

Pois é, Tozé, antes de te meteres em sarilhos, devias lembrar-te que “eles” têm mais comentadores televisivos e jornalistas a soldo do que tu. Agora, no jogo perverso e infantil do “a culpa foi daquele menino”, estás a levar um banho.

Desde a fala-barato-de-café Clara Ferreira Alves (que os ingénuos pensam representar na SIC e no Canal Q a área de opinião do PS), até ao gelatinoso Marques Mendes, que te tratou especialmente mal, passando pelo Carlos Abreu Amorim que regressa à TV quando a tarefa é particularmente lambe-botas e pela nata do capital e chupistas sortidos que se agitam nervosamente.

Quiseste dar-te de ares e fazer o número do patriota dialogante que se retira com um adorno depois de fazer uma “chinquelina” ao inimigo. Esqueceste-te da gente rasca com que te ias meter, sobrevalorizaste as tuas possibilidades e, agora, os prejuízos serão socializados, como sempre acontece por cá. E, afinal, tudo o que tinhas de fazer era sorrir para e do Cavaco, mandá-lo amanhar-se com as suas próprias armadilhas e esperar que as contradições do outro lado fizessem o seu trabalho, já que aqueles que realmente lutam já tinham feito o seu. Ninguém te explicou?

A Puta da Semântica

Desculpem, Esquerdóides, mas estou cansado dos vossos anúncios do fim do mundo e da vossa boca cheia de mortos: «o Governo está morto»; «o Presidente matou a esperança». Ide matar o caralho! Maldita semântica. De repente, os vossos comentadores descobrem que vão nus. Após a surpresa pelo discurso presidencial do dez de Julho, vêm os cromos Adão e Silva e os insuportáveis Pedro Marques Lopes, sempre os mesmos, sempre a mesma merda, encher de cínico e sonso ou de falsete e risonha histeria os ecrãs das TV, mostrando um desprezo pelas instituições lá, onde o Supremo Corrupto mereceu mesuras e deferência. Contra os ventos e marés da actual popularidade maravilhosa do Partido Socialista, o Presidente da República ousa não convocar eleições?! Toda a socialistice e a esquerdice dão tau-tau ao Presidente. Chamam-lhe Múmia, Estarola, Esfinge. O Presidente tem inimigos. Sócrates é inimigo mortal e mortífero do Presidente. O Presidente tenta sacudir a maledicência dos socratistas com a vingança de um aperto no torno de um dilema: respaldar ou não o caminho sob o Memorando até, pelo menos, Junho de 2014. [Read more…]

Mentir rende bem

Comentadores pagos a peso de ouro. O crime recompensa.

TV à portuguesa: a política comentada por políticos

TVConcluo que, na ilustração da imagem, de mútuas acusações, a razão é  capaz de estar mais do lado da ‘televisão’, quando acusa: “Telespectador idiota…”.

Se olharmos as grelhas de programações, desde o boçal Fernando Mendes aos meninos dos ‘Morangos Sem Açúcar’, dificilmente se inferirá que a “Televisão é Burra” – errará episodicamente aqui ou ali, mas “burra” de todo não é.

No comentário político, por exemplo, as TV’s nacionais ocupam um lugar de destaque de originalidade mundial. Do Marcelo ao Mendes, do Assis ao Ramalho, do Bernardino à Odete, do Fazenda à Drago, todos os partidos com assento parlamentar têm tido lugar cativo, no dito pequeno écran, a horas de consideráveis audiências.

Nenhum dos canais – há estações com vários – poderá negar a participação no pérfido jogo de colocar os cidadãos, ao pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar, a saborearem o comentário político feito por políticos – a minha vizinha do 3.º esquerdo confessou-me há tempos que jamais conseguiria dormir tranquila de Domingo para 2.ª Feira, se não saboreasse os comentários do Prof. Marcelo e as provocações, risos e sorrisos da Judite. Ao Domingo ficou mesmo dispensada de tomar ‘Xanax”. [Read more…]

Iraque, 10 anos depois: onde andam os criminosos?

É normal aqueles que defenderam a invasão do Iraque andarem por aí, impávidos e serenos, prosseguindo a sua carreira de comentadores políticos, analistas eméritos e mentirosos compulsivos? gente que vendeu uma treta óbvia, que diz ter acreditado em mentirosos compulsivos como um Bush, um Blair ou um Aznar,  e como tal é moralmente responsável pela mais criminosa guerra dos últimos tempos?

É. Chama-se manipulação ideológica da informação. Coisa velha e que funciona ao contrário da meritocracia: os medíocres tem sucesso, os que avisaram são escorraçados.

Uma boa listagem dos canalhas de que falo neste texto.

O discurso das Caldas de Aguiar Branco

Aguiar Branco decidiu contestar os destaques da imprensa ao seu discurso no dia do Exército, nas Caldas da Rainha, o dos comentadores das gravatas azuis e casacos cinzentos. Está no seu direito. Até acredito quer o faça por só o ter lido uma vez e em público.

O problema é que está lá literalmente escrito (ler pdf):

O nosso maior adversário é o sentimento, inegavelmente crescente, de que as Forças Armadas, num contexto de carência geral, não são necessárias
Uma visão que, infelizmente deixou de estar limitada a uns quantos idealistas mas que passou a ser defendida, também, por comentadores de fato cinzento e gravata azul. [Read more…]

A minha tv não tem comentadores assim

Pelo menos nos canais abertos. Deve ser avaria. Tenho o Medina Carreira, e aqueles rapazes todos garantindo que vivemos acima das nossas possibilidades, Não concordo com tudo  o que Gerald Celente diz, mas pelo menos não repete o discurso ideológico dos nossos comentadores habituais disfarçados de especialistas em economia, esse novo eufemismo para vendedor de banha da cobra, a que estica mas não dobra, e na austeridade curará todos os males do mundo. Amen.

Dicionário do futebolês – comentadores

Na minha juventude, ficava à espera das imagens da jornada no Domingo à noite e acabava saciado com os resumos de três minutos por jogo. Para o adolescente que ansiava por imagens de pontapé na bola, o mundo de hoje é um banquete pantagruélico que começa no Youtube e acaba na Sporttv.

Nesses tempos distantes, começou, a pouco e pouco, a insinuar-se a figura do comentador, que, para meu desespero, retardava o aparecimento do fundamental – as imagens dos jogos – com explicações para o resultado final, naquele tom de quem já sabia tudo antes de o jogo terminar. Já nesse tempo, o jogo começava a perder terreno para a conversa.

Com o aparecimento das televisões privadas, a televisão tornou-se cada vez pior, sempre pronta, até hoje, a explorar os sentimentos mais baixos e as pulsões mais rasteiras. Rapidamente foi inventado o conceito do programa sobre futebol, com comentadores ligados, normalmente, aos três grandes. Num mundo minimamente sério, a televisão poderia servir, também, para fazer um pouco de pedagogia. Na realidade, estes programas servem para levar a casa das pessoas as mesmas figuras tristes que qualquer um de nós é capaz de fazer num café, entre amigos e adversários, gritando grandes penalidades a nosso favor e chamando virilidade a agressões perpetradas pelos nossos.

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José Leite Pereira: a esquerda é sinistra e a democracia uma chatice

(…) o perigo que o país atravessa passa também por aqui: o de não se perceber ou não se aceitar a vantagem que temos em estar na Europa e com o Euro, e sermos atirados para uma deriva de esquerda que torne o país ingovernável e nos afaste dos padrões ocidentais que são os nossos. É bom recordar que a Europa apenas nos pede aquilo que lhe fomos pedindo emprestado.

José Leite Pereira, o director do JN, vive, por estes dias, inseguranças terríveis, à espera de saber para que lado penderá o poder, problema fundamental para quem tem como critério editorial ajoelhar-se. Diz o iluminado director que a Europa corre o risco de ser atirada para uma “deriva de esquerda”. Percebo que andar à deriva seja um problema, independentemente de o barco inclinar mais para estibordo ou para bombordo. A parte mais engraçada do texto do ajoelhado comunicador social surge quando afirma que, graças à possibilidade dessa deriva sinistra, se corra o risco de ficarmos com um “país ingovernável”, afastado dos “padrões ocidentais que são os nossos.” O genuflectido dirigente não se terá apercebido de que o país já está ingovernável? Tanta ajoelhação não terá permitido a esta admirável criatura verificar que essa mesma ingovernabilidade nasceu de anos de derivas, com o barco a inclinar muito ou muitíssimo para a direita? [Read more…]