País governado por filhos de conúbios ilegais

Parti em muitas, muitas ocasiões. Corri Ceca e Meca. Voltei sempre. Nos tempos da ‘outra senhora’, com frequência repeli a tentação de não regressar.

Era jovem. Visitava cidades africanas, Londres e Paris com regularidade, na aurora da actividade profissional. Poderia ter escolhido a cidade-luz e casado com determinada Brigitte. No universo dos nomes, também existem modas – moda é a tradição do instantâneo, na sublime definição de Augustina Bessa Luís. A avalancha de ‘Brigittes’ em terras francesas, ao tempo, era fenómeno de mimetismo materno-paternal. Inúmeras mamãs e papás, no baptismo das meninas, inspiravam-se no nome do símbolo sexual da época, Brigitte Bardot.

No fundo, por cobardia, patriotismo ou alguma causa abscôndita, jamais reneguei o solo pátrio, onde nasci e sempre vivi. Um país típico, de percurso histórico multifacetado no último século – como outros, certamente. Mas, esta terra, nas últimas quatro décadas e meia, serviu de cenário a profundas e múltiplas transformações políticas, territoriais, de relações externas, económicas e sociais.

Entretanto, ao correr dos tempos, foram-se fabricando núcleos de políticos impreparados, tecnocratas, incultos e refractários em relação a sérios ideais éticos, morais, políticos, de solidariedade e de sensibilidade social.

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Da série ai aguenta, aguenta (3)

Taxa de desemprego em Portugal sobe para os 16,3%

Marco António Costa, o secretário da sensibilidade social

É refrescante saber que há políticos que dizem a verdade: Marco António Costa reconhece que este Governo “não aceita lições sobre sensibilidade social”. Efectivamente, este é o governo que quer resolver o problema da dívida privada (ou contraída por gente privada de seriedade, usando dinheiros públicos) custe o que custar, apresentando a factura aos que não contraíram a dívida, retirando-lhes direitos, cortando-lhes salários e aumentando preços.

Marco António é Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, o que constitui um outro exemplo de sinceridade, porque da designação do cargo transparece que está solidário com os interesses privados e que é seguro que, em termos sociais, a diferença entre ricos e pobres continuará a aumentar.

TDT: Tirar Dinheiro a Todos

Em Alcácer, muitos perderam a companhia da televisão e um reformado de Setúbal considera um roubo a obrigação de comprar um descodificador.

Num ano em que os preços sobem, em que os salários continuam a diminuir, em que o desemprego aumenta, enfim, num ano em que os cidadãos vêem as despesas a aumentar e as receitas a diminuir, acrescentar a tudo isso a necessidade de comprar um descodificador para poder ver televisão é só mais um sinal da insensibilidade que caracteriza mais um governo que se limita a fazer o que lhe manda o poder económico. Seja como for, a decisão de não adiar a implantação da TDT, obrigando os cidadãos a pagar mais e garantindo lucros a empresas, é uma afirmação de coerência. Estranho seria que gente sinistra como Passos Coelho ou Miguel Relvas começasse, agora, a preocupar-se com os portugueses.

Sócrates sempre a malhar nos ricaços!

Em consequência de medidas tomadas pelo governo, os estagiários, essa nova espécie de milionários, passarão a receber menos 257 € por mês. Trata-se de estágios aprovados pelo IEFP, para licenciados, mestres ou doutores.

Esta medida enquadra-se, obviamente, na defesa do Estado Social e outra coisa não seria de esperar de um governo apoiado por um partido de centro-esquerda, submergido em preocupações sociais e obcecado pela ajuda aos mais necessitados, um partido sempre firme na exigência de obrigar os mais favorecidos a contribuir para o bem comum.

Na realidade, só uma pessoa muito bem paga pode acrescentar aos descontos que já fazia um valor como aquele, dir-se-ia. Decerto será gente que ganha acima dos três mil euros, pensará um leitor desprevenido. Todavia, esses estagiários recebiam, até aqui, caso fossem solteiros e não tivessem filhos, 838,44 €; passam a receber 581,13 €.

É claro que o conceito de milionário, de acordo com o governo, passou a integrar qualquer pessoa que ganhe mais que o ordenado mínimo e menos que um gestor público, como já tive ocasião de notar aqui. Para que todos possam invejar a vida destes novos milionários, fica aqui um comentário à notícia publicada hoje no i:

Sou licenciada e estou num estágio do IEFP desde Julho de 2010. Ganho os ditos 834€ subsidio de alimentação, no final não chego a receber 900€ e depois ainda desconto 80€ para o IRS. Estive desempregada durante 7 meses e quando arranjei este emprego fiquei bastante feliz. Só tenho um pequenino problema, fica a 40km de casa. Ou seja, para além do dinheiro que tenho de tirar para a renda da casa e contas, tenho de tirar em média (por mês) 160€ para o gasóleo. No final se conseguir ficar com 200€ para alimentação e despesas básicas é uma sorte! Ou seja se passarem a pagar os 580€, num caso como o meu, não chega para as despesas. Mais vale ir para uma operadora telefónica perto de casa onde se ganha o mesmo e não se gasta gasóleo porque se vai a pé! E lá se vão os 4 anos de Licenciatura pelo cano abaixo! Que bom senhor Sócrates!