Vamos falar de memória?! De traição?! A sério?!

A história não é benevolente com quem não reconhece
a sua evolução e se mantém refém do passado” (José Maria Pedroto)

Créditos: sapo.desporto.pt

Começo a estar farto dos Alvarinho, dos Koehler, dos Lobo, dos avençados haters do Facebook, ou à espera dos Rio e dos Pinto da Costa, pai ou filho, para não ir mais longe. Apadrinhar um demarcado candidato da oposição tornou-se, no meu clube de paixão, um crime de lesa memória ou de injuriosa traição. Vamos falar de memória?! De traição?! A sério?!
As redes sociais, patrocinadas e protegidas por obstinados, chegaram também às eleições do FC Porto. Do mais soez ao mais escabroso, tudo é possível dizer. E escreve-se! Estranhamente, contra um único candidato, André Villas Boas. Este tornou-se o superlativo inimigo público a combater e derrubar. Todos, entre já assumidos ou porventura prestes a assumirem, preparam o festim se ele não vencer as eleições de Abril. Porquê? Porque partiu à conquista final da verdadeira cadeira de sonho, contra o sistema (de que fazem parte os actuais detentores do poder no Dragão, mas também aqueles que se perfilam, por interesses inconfessáveis, numa tácita aliança com JNPC, à boa maneira de outros palcos alegadamente menos asseados que o desporto, contudo criadores de mimetismos peregrinos no santuário desportivo).
Chega-se ao ponto de insultarem quem, ao sabor da sua forma enviesada de ver a coisa, terá estado no Dragão, contra o Moreirense, unicamente “para apoiar os clubes da capital, ver o Porto perder para poderem dividir”.
Surreal!

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Não, isto não é sobre desporto.

 

Tenho uma experiência de muitos anos e conheço muito bem os jornalistas. Sei quais são as suas cores clubistas, ou se cortam a direito, como há vários, e como eles reagem quando a equipa da sua predilecção perde. (…).

Há ocasiões em que não passo do título. Basta-me ler o título para saber o que o jornalista escreve. Mas, por norma e por educação, não hostilizo o jornalista que, no meu entender, deturpa a verdade, sonega factos aos leitores, sobrevaloriza o secundário, deixando passar o essencial. Não o hostilizo atendendo à subjectividade da apreciação. Não posso, contudo, deixar de alertar os meus jogadores para essa subjectividade do jornalista, que é tanto mais desfavorável à equipa quanto maior é a sua predilecção pelo clube de que gosta.”

 

José Maria Pedroto, anos 70

  • A foto é, obviamente,  tirada (não sei o autor) no Estádio das Antas.

Pedroto rima com Porto

O meu benfiquismo não me impediu, nunca, de gostar do inimigo, sobretudo do inimigo cujos defeitos chegam a ser virtuosos. Da minha história pessoal faz parte uma amizade com um grande amigo de José Pedroto, o que me concedeu o privilégio de ouvir histórias da intimidade de um homem que adoraria ter conhecido pessoalmente, mesmo que fosse para ouvir dizer mal do Benfica.

O mesmo amigo comum, o jornalista Manuel Dias, que se juntou a Pedroto há três anos, também me proporcionou um encontro com o Hernâni, o “irmão” de Pedroto. Foi esse antigo craque portista que falou desassombradamente do medo que os jogadores do FCP tinham mal atravessavam a ponte D. Luís em direcção ao Sul. O Pedroto treinador viria a ser o responsável por exorcizar esse medo, através da bravata e da provocação inteligentes contra a macrocefalia lisboeta, confundindo o futebol e a cidade e contribuindo para o poderio que hoje o clube tem, graças, ainda, a um aprendiz que soube perpetuar essa herança argumentativa e não só: Pinto da Costa.

A alma portuense é grande e as queixas relativamente a Lisboa tornam-se cada vez mais anacrónicas, mesmo se fazem parte da essência da cidade e se são mal compreendidas por um desenraizado como eu. Ontem, Gaia homenageou José Maria Pedroto, esse filho de Lamego que é um dos pais do Porto.

Nos 25 anos da morte de Pedroto

“O Zé do Boné, como muito carinhosamente também foi conhecido, era dotado de uma inquestionável competência técnica e era um estratego por excelência. O Milão de Sacchi, o Barcelona de Cruijff e o Marselha de Goethals, por exemplo, vieram provar, muitos anos depois, como estava adiantado o homem que insistia na defesa em linha, o que, na altura tantas críticas lhe valeu. Além disso, Pedroto criou um estilo de futebol, adaptado às características dos jogadores portugueses, que fez escola. A isso somou uma invulgar capacidade para dirigir e orientar outros homens e uma vontade indomável. O resultado foi a clara ultrapassagem da mediania e a morte do fatalismo lusitano da incapacidade. Ele ajudou a matar o emiprismo reinante no meio da sua profissão e abriu o caminho para o trabalho posterior de muitos outros técnicos portugueses igualmente competentes. Também por isso, tornou-se uma figura referencial e incontornável do futebol português, relegando para a penumbra nomes muito grandes como os de Cândido de Oliveira, Fernando Vaz, Ribeiro dos Reis, Tavares da Silva e Ricardo Ornelas.

Admirador entusiasta de Miguel Torga, apaixonado pela pesca (que lhe garantia o equilíbrio de que precisava para enfrentar o stress da competição) e pelo jogo, Pedroto tinha o vício de ganhar (no futebol, às cartas, à moedinha e a todos os jogos de carácter lúdico para que permanentemente se dispunha). Lutador nato, ganhou todas as batalhas com excepção da derradeira, travada contra um adversário invencível, que o vitimou a 8 de Janeiro de 1985.”

F. C. Porto. 100 Anos de História. 1893-1993, Manuel Dias e Álvaro Magalhães, Edições Asa.

Ligações a visitar:

Pedroto, 25 anos depois: regresso ao futuro em frases

A lenda

JOSÉ MARIA PEDROTO, ou "O MESTRE"

Ao cair do pano, uma referência que se impunha, pelo menos para mim enquanto portista. Os demais com outras sensibilidades que me desculpem, mas não podia deixar de o fazer.
Não tive oportunidade de conhecer o Mestre Pedroto pessoalmente. Era amigo do meu avô materno, mas a ocasião nunca surgiu, nunca se concretizou. E faz hoje 25 anos que essa oportunidade se esgotou.
Lembro-me bem do estilo, e estou grato pelo que fez não só pelo FCP como também pela cidade do Porto e pela região do Norte.
Foi ele, através do futebol, que iniciou um árduo trabalho de equilibrar os pratos da balança, e de devolver à cidade o seu orgulho tantas vezes ferido, numa época em que a homens assim se apelidava de “bairristas”.
Obrigado, Mestre.