SLAVA UKRAINI

Tu chamas-te Andriy. Tu chamas-te Iryna. Mas podias chamar-te Manuel. Podias chamar-te Maria. Porque sonhaste ser como nós. Sonhaste ser um de nós. E por isso sofres o indizível. E por isso morres todos os dias. E por isso outro se levanta no teu lugar para sofrer o que tu sofreste. Numa coragem que há muito esquecemos. Numa obstinação que há muito perdemos. Enfrentas o Mal olhos nos olhos e o Mal desvia o olhar para esconder o medo. Enfrentas o gigante e cresces. Cresces, cresces até ao céu e o gigante deixa de ser gigante.

Eu chamo-me Manuel. Eu chamo-me Maria. Mas quería chamar-me Andriy. Mas queria chamar-me Iryna. Porque sonho ser como vós. Sonho ser um de vós.

GLÓRIA À UCRÂNIA. SLAVA UKRAINI.

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Um Papa único. Uma Imagem única.

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Talvez este vídeo ajude a explicar quem era Eusébio

Portugal-Cigarro Fuma-se a Si Mesmo

Este será um post para quantos alguma vez andaram aflitos na sua vida privada, com as mãos nos bolsos, a unhas neles a rapar cotão, encostados aos postes espirituais a ver se a vida passa sem reparar em nós. Portugal, hoje, é isso. Hoje, e sempre, é como se fosse uma pessoa. Por acaso aflita. Sem cheta. Há cento e cinquenta anos apertado em dúvidas existenciais. Encosta-se agora mesmo a um poste. Fuma o pensativo cigarro de si mesmo, cigarro com quase dois séculos e a cinza de mais um default tombando no chão quadridimensional da sua História Colectiva, os olhos semicerrados, os dedos nicotinados, os dentes putrescentes, o hálito entre o halo a merda ou a carniça. Fuma e cisma, com saudades, de Vítor Gaspar, o ministro que a auto-intitulada Esquerda Moderada dizia falhar estimativas, cenários, previsões, mas representava, sozinho, uma solidez que blindava Portugal da punição fiduciária dos mercados. Cisma na virulência dos galambas, putos imberbes, perfurados nas orelhas, a debitar furibundices no Parlamento. Cisma-se mais, fumando-se. Algumas demissões, por vezes, são fezes. Portugal continua encostado a uma espécie de poste da REN imaterial, fumando-se no seu cismativo cigarro. «Eu, Portugal, sou isto, não passo disto. Por um lado, governo-me, por outro tenho um programa de governo no Bloco e no PCP que é não estar em qualquer Governo, pedir a demissão de A durante meses e depois ver no que dá. Eu sou isto. E dá merda», pensa. Talvez o Portugal que se encosta e cisma estivesse no bom caminho consigo mesmo por ter Gaspar. [Read more…]

Com Santiago Carrillo e La Pasionária, outro galo cantava em Portugal – uma homenagem para nuestros hermanos

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Dolores Ibárruri em 1978

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Santiago Carrillo

Apenas cinco dias antes

Longe de mim menosprezar a Álvaro Cunhal, a Miguel Portas, a meu pessoal amigo Francisco Louçã. Longe de mim! Mas, quando ficamos habituados desde muito novos a ouvir sobre Isidora Dolores Ibárrubi Gómez, como se for o diabo em pessoa e Santiago Carrillo a sua contraparte, ficamos surpreendidos, já adultos, em saber que eram dois seres humanos que lutaram junto com tantos para obter uma República em Espanha, após renuncia ao trono de Alfonso XIII de Borbón e Orleáns, avô do Rei atual, surpreende-nos a luta empreendida por eles para ganhar a liberdade que o Rei não concedia com o pagamento de Impostos e taxas de juro elevadas, foros pelas terras que possuíam os trabalhadores do campo de outros, como os da minha família a aristocrata Carretero-Molano.

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É hoje

20 anos sem Salgueiro Maia

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Pedro Osório 1939/2012

O maestro Pedro Osório morreu ontem em Lisboa. Há anos que não ouvia falar de Pedro Osório até que, muito recentemente, fui surpreendido com o seu novo disco “Cantos da Babilónia“, do meu ponto de vista um trabalho absolutamente extraordinário e a merecer a atenção que já não se dá às coisas verdadeiramente bem feitas. Divulgá-lo, é a minha humilde homenagem.

Pedroto rima com Porto

O meu benfiquismo não me impediu, nunca, de gostar do inimigo, sobretudo do inimigo cujos defeitos chegam a ser virtuosos. Da minha história pessoal faz parte uma amizade com um grande amigo de José Pedroto, o que me concedeu o privilégio de ouvir histórias da intimidade de um homem que adoraria ter conhecido pessoalmente, mesmo que fosse para ouvir dizer mal do Benfica.

O mesmo amigo comum, o jornalista Manuel Dias, que se juntou a Pedroto há três anos, também me proporcionou um encontro com o Hernâni, o “irmão” de Pedroto. Foi esse antigo craque portista que falou desassombradamente do medo que os jogadores do FCP tinham mal atravessavam a ponte D. Luís em direcção ao Sul. O Pedroto treinador viria a ser o responsável por exorcizar esse medo, através da bravata e da provocação inteligentes contra a macrocefalia lisboeta, confundindo o futebol e a cidade e contribuindo para o poderio que hoje o clube tem, graças, ainda, a um aprendiz que soube perpetuar essa herança argumentativa e não só: Pinto da Costa.

A alma portuense é grande e as queixas relativamente a Lisboa tornam-se cada vez mais anacrónicas, mesmo se fazem parte da essência da cidade e se são mal compreendidas por um desenraizado como eu. Ontem, Gaia homenageou José Maria Pedroto, esse filho de Lamego que é um dos pais do Porto.

Homenagem a Guilhermina Suggia

Hoje completa-se o 60.º aniversário da morte de Guilhermina Suggia (faleceu a 30 de Julho de 1950). Nascida no Porto ainda no decurso do século XIX, 27 de Junho de 1885, a talentosa Suggia, aos 13 anos, era a violoncelista principal da Orquestra da Cidade do Porto. As suas actuações em público tinham sido, porém, iniciadas com 7 anos de idade.

Com a ajuda abnegada do pai, igualmente violoncelista, e da irmã Virgínia, pianista, o talento de Guilhermina Sofia removeu obstáculos e preconceitos, hoje dificilmente entendíveis – o facto de pertencer ao sexo feminino dificultou-lhe muito o ingresso e progresso na carreira. Todavia, apenas com 17 anos e como solista, integrou a orquestra alemã Gewandaus em 1903.

Dos relatos históricos, consta que era artista muito determinada. Guilhermina Suggia trabalhava pelo menos cinco horas diárias, na incessante busca da perfeição e de saberes. Conseguiu vencer e ser a primeira mulher solista de violoncelo, a nível mundial.

Ontem, a Antena 2 prestou-lhe merecida homenagem, a que singelamente me associo. O som quente e intimista do violoncelo é, para mim, um dos odores musicais de enorme prazer inebriante. Adoraria ouvir Guilhermina Suggia, ao vivo. Impossível, como muitos outros desejos e sonhos.

Luto Nacional na morte de José Saramago

A maior homenagem a José Saramago não é o luto nacional que vai, e bem, ser decretado. São os do costume que infestam as caixas de comentários vaporizando ódio, horrorizados por um comunista fazer descer a bandeira nacional a meia-haste.

Calculo o gozo que deu a Saramago imaginar a polémica costumeira como tantas outras que provocou. Se houvesse vida após a morte estava a rir-se, e eles, que acreditam nas almas, imaginando-se a chatear a memória do homem que sempre detestaram.

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Saramago (sa-ra-ma-go) sm (ár sarmaq) Planta crucífera (Raphanus raphanistrum).

Alice Miller foi-se embora

 
 
 

 

 

Retrato de Alice Miller em casa, sítio para escrever livros

Alice Miller, nascida em 12 de Janeiro de 1923, é uma psicóloga polonesa que se mudou em 1946 para a Suíça. Seu trabalho é notável pelo enfoque em abuso infantil. Os seus livros, escritos em alemão na editora Shurkamp Verlag, Frankfurt am Mein, foram  traduzidos para o inglês, em Virago Press, para o castelhano em Tusquets, para  o luso-brasileiro por Boitempo, Rio de Janeiro. O seu trabalho tem sido a base das minhas teorias sobre Antropologia da Infância, Antropologia da Educação e, mais recentemente, Etnopsicologia da Infância.  Tenho dedicado imensas horas de ensino sobre a criança, investigada e analisado por mim e equipa, ao longo de  ao longo de 30 anos. A minha derradeira comunicação com ela, foi aos começos de Abril deste ano. Quer os gestores do nosso projecto The Natural Child, quer o seu filho Chris Miller, comunicam-me hoje que a 14 de Abril, Alice Miller nos tinha deixado, aos seus 88 anos de idade. Foi expulsa do Colégio de Psicanalistas pelo seu atrevimento de dizer que uma criança não é um adulto e não pode ser submetido a sessões de psicanálises, apenas a conversas cobre a sua vida. Soube analisar a vida do maior assassínio da História, Hitler, a vida alegre e cheia de fantasia da Pablo Picasso, e nos explicara como e porque um homem só e triste, como Buster Keaton, sabia por o rir na cara das multidões. Defendeu principalmente o drama da criança dotada, obrigada a ser inteligente e saber muito pelos seus pais. O seu texto de 1998 Thou Shalt not be Aware. Society´s Betrayal of the Child, Pluto Press , (!981 em Verlag, Frankfurt am Main) USA e Grã-Bretanha, 1991, em luso brasileiros: [Read more…]

Recuperar a memória

Documentário sobre o concerto de homenagem aos republicanos, que juntou em Rivas Vaciamadrid, 800 ex-combatientes, exiliados, orfãos da guerra, presos políticos, etc.

Lembrando os que defenderam a legalidade republicana, e foram vítimas de um dos maiores massacres fascistas do séc. XX. Apontando o dedo aos que continuam a tentar que o esquecimento apague os seus crimes.

O primeiro vídeo traz-nos  a belíssima actuação de Bebe, que abriu esta homenagem.

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Homenagem à mulher portuguesa

Acabo de chegar a casa ainda comovido com o belo expectáculo a que assisti no Coliseu, promovido pela Associação 25 de Abril e a RTP1.

Pelo palco passaram artistas que todos conhecemos, da Maria do Amparo à Maria de Medeiros, do Vitorino ao Fernando Tordo, da Simone ao Carlos do Carmo, os jovens do Chapitô (a Tété deu-me um cravo…) os cantares de Montemor-o-Novo no feminino, Bernardo Sasseti, Carlos Mendes ,Carlos Alberto Moniz, Helena Vieira, José Mário Branco, Lena d’Água, João Pedro Pais, Mafalda Veiga, Manuel Freire, Luisa Basto, Luisa Amaro, Maria Viana, Odete Santos e que me desculpem os que me faltam…

Recordaram-se mulheres corajosas como Maria Lamas, Maria de Lurdes Pintassilgo,  Izabel Aboim Inglês, as três Marias e tantas outras que estiveram na frente na luta contra o pesadelo facista. Os avanços que as mulheres foram obtendo na sua luta pela igualdade, a primeira vez que votaram, logo na Constituinte, que deixaram de ser propriedade do pai ou do marido.

A mulher que logo no dia 25 de Abril vendia cravos na Baixa de Lisboa e se lembrou de os “plantar” no cano das espingardas dos soldados, a duas cadeiras de mim, chorava digna do seu gesto nobre e que ficou para a posteridade.

Estiveram lá os capitães de Abril e o povo de Lisboa e com excepção de um deputado que tambem é capitão de Abril, não estava lá um único político no activo,( a não ser que os não conheça…) embora Mário Soares e Maria Barroso tivessem dito presente.

Abracei o Vasco Lourenço e o Otelo ! 25 de Abril, sempre !

A Henrique Nascimento Rodrigues

A homenagem que se entende prestar-lhe consubstancia-se nos versos de Tomaz Vieira da Cruz “subtraídos” ao seu “Ouvidor do Kimbo”, impregnado de um forte sabor africano, nessa miscigenação, dominante elemento de uma aculturação pluriforme e multidimensional.

O Henrique nasceu nos longes de África, na Angola que marcou indelevelmente o carácter, moldou a nossa personalidade, marcou o ritmo dos passos e se espelha em tantos dos nossos gestos quotidianos.
O Henrique transpôs os umbrais do vetusto Liceu da Huíla, do imaginário Reino de Maconge, nos recuados anos 50 do século transacto, oriundo de Saurimo (?)…

Mais breve o percurso que houvéramos de cumprir, numa ronceira subida da Chela num qualquer “cama-couve”, oriundo da Urbe da Welwítschia, entre a Angra do Negro e as dunas do Namib, extensão informe do Kalahari.

O Henrique, propenso aos Ideais da Justiça, cumpriu o quinquénio da sua formatura na cosmopolita Lisboa.

Nós – para quem o Direito seria só uma das vias para a consecução de um tal Ideal – na incensada Lusa-Atenas, com distintos planos de mundividência, numa convergência assaz interessante.

O Henrique, com uma vida pública notável, foi indigitado Provedor de Justiça. Reunimo-nos de imediato, já que ao Provedor incumbe, como recolector do direito de petição, pugnar pelos interesses e direitos do consumidor, no exercício da sua magistratura de influência.

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A prenda de aniversário é um poema!

A Maria Monteiro é nossa comentadora desde sempre, foi a primeira a deixar aqui todos os dias os seus comentários, logo se viu que era (é) uma pessoa cheia de capacidades, culta, com muito para dizer. Já a convidamos para aventadora uma série de vezes. E aquilo que é tão ambicionado para alguns não lhe desperta o mínimo de excitação. Bem puxo por ela, uma e outra vez, é óbvio que a Maria é uma aventadora, mas não publica textos. Não escreve. Fantástico! Só faltava este tipo de aventador. Não escrever! É mesmo caso para dizer que no Aventar há de tudo…bom!

Mas como convencer mulheres a escrever  se mesmo quando lhe oferecemos o coração, elas não aceitam? Missão impossível? Nã…leiam:

Uma carreirinha de palavras de gentes acordadas (10/75)

Ei-los que morrem
porque lutam
porque lançam
na cara do mundo
o ódio, a inveja
a autoridade
que a gente tem
de se vingar
duma palavra
que seja,
dum gesto de revolta
contra uma verdade
que se veja
antes de nascida
morta;
mas vivos se ficam
nas gentes, nas armas
nas mentes que se obrigam
rebeldes, activas
ei-los que ficam
noites acordadas
lavrando castigo
por serem mortas
com balas crivadas
suas gentes queridas
suas gentes amadas

PS: Maria, desculpa, mas no aniversário do Aventar é mais que justa esta pequena homenagem.

A homenagem a MC Snake: Ela nunca se vai lembrar do pai

http://tv1.rtp.pt/noticias/player.swf?image=http://img.rtp.pt/icm/noticias/images/cb/cb2a07e7c1f23aa2a5f4fbfb1daf36f7_N.jpg&streamer=rtmp://video2.rtp.pt/flv/RTPFiles&file=/informacao/silencio_52582.flv
A manhã das pombas brancas e, em casa, uma pomba de 2 anos que nunca se vai lembrar do pai.

Os Juízes que investigam Sócrates são bufos…

Incapazes de compreenderem que  um país decente e democrático, não pode ter um Primeiro Ministro sobre o qual recaem, uma e outra vez, suspeitas de favorecimento de amigos, de atropelo à lei, de tirar cursos ao domingo, de controlar bancos privados com o dinheiro do Estado, de mentir à Assembleia da Republica, de calar telejornais, de falsificar fichas pessoais enquanto deputado, passaram em desespero de causa a chamar "bufos" a quem tem o dever de investigar.

 

E a quem tem o dever de não deixar que as provas sejam destruídas, conforme a opinião de ilustres penalistas e que teve vencimento, como se vê pelo arquivar em vez de destruir.

 

É óbvio que o Juiz titular do processo, o juiz local, é independente no que se refere à instrução daquele processo e não tem que receber instruções de quem quer que seja. Que isto não agrade a quem quer calar as vozes independentes que ainda se fazem ouvir na Justiça é que é um autêntico escândalo.

 

João Palma, Presidente do Sindicato do Ministério Público, ainda ontem na televisão, dizia que o ministro que inventou a "espionagem política" ia ter que a explicar. É que hoje trava-se uma luta sem tréguas na Justiça. Entre os que querem "abafar" tudo (como aquele militante do PS, Presidente do Eurojust, que fez umas ameaças aos colegas acerca do Freeport) e os que sabem que se não avisarem a opinião pública tudo morre no ar condicionado do poder.

 

Mas agora passou-se a uma outra fase da operação. Quem critica Sócrates não é patriota. E acenam-se com créditos, com amizades e com contactos, já perceberam que no país de Sócrates estas ameaças funcionam.

 

Esquecem, todavia, que há pessoas que nunca precisaram de mudar a sua opinião ao sabor de interesses pessoais ou partidários. E muito menos de utilizar o nome honrado de Salgueiro Maia para atacarem quem não pensa de igual forma. Foi para isso que se fez o 25 de Abril!

 

Como fui eu que convidei, pessoalmente, o senhor Coronel Vasco Lourenço, para nos falar de Salgueiro Maia e face ao que foi aqui comentado por outro Capitão de Abril, irei  agradecer ao Presidente da Associação 25 de Abril, da qual sou sócio, e desvinculá-lo do convite que lhe fiz.

 

Lá estaremos, dia 5 de Dezembro, com outras pessoas e outras opiniões sobre Salgueiro Maia. É assim em democracia. Os heróis não são propriedade de ninguém!

 

Prometemos que vamos continuar a opinar com a independência e a liberdade que lhes devemos, de todas a melhor forma de  perpétuar a madrugada libertadora!

 

Os mortos têm dono?

Não é por acaso que temos a expressão  deve estar às voltas no túmulo,  usada quando entendemos que uma determinada homenagem póstuma não honra o homenageado, seja pela sua natureza, seja pela dos seus intervenientes.

Também tenho umas irritações deste género. Em particular chateia-me que os que mandaram Ernesto Che Guevara para o suicídio bolivariano, nomeadamente Fidel Castro às ordens do Politburo que então governava a URSS e estava farto das heterodoxias do revolucionário sul-americano, apareçam ainda hoje como fiéis herdeiros do seu pensamento.

Se Che não tivesse embarcado na armadilha que lhe montaram, como teria reagido ao evoluir da política cubana? Teria continuado em rota de colisão com o pseudo-socialismo soviético?

O facto é que ninguém sabe. Os mortos fazem-nos falta, mas não são nossos.

 

Ninguém é dono dos ses que podemos construir sobre o que acharia hoje Fulano ou Sicrano sobre o estado a que chegou a democracia portuguesa.

É que se muitos se preocupam com as más companhias de José Sócrates, eu digo que é ele a má companhia, sempre o foi, exemplo de arrivista sempre metido em trapalhadas obscuras, pisando quem for preciso para satisfazer uma ambição pessoal desmedida, político de uma geração que se fez em busca da carreira e cuja única causa sempre foi a sua. Não consigo defender um estado de direito onde os governantes passam incólumes a despeito de ser pública e notória a forma como se usam do estado em proveito próprio.

O que pensaria sobre isto Salgueiro Maia? Ninguém sabe, nem os que dele estiveram mais próximos, nem os que nunca o conheceram pessoalmente.

Ninguém é dono do pensamento dos outros, mesmo tendo sido seu camarada, nem das homenagens que quem o entende lhe queira fazer. Muito menos quem não é capaz de entender que num blogue se podem expressar ideias contrárias,e que mesmo com alguns abusos de linguagem consigamos coexistir pacificamente.

A terra é de quem a trabalha como os filhos de quem os ama, lembrava Brecht referindo-se a Salomão. E os mortos de quem os homenageia, acrescento eu, mesmo que tal por vezes nos traga amargos à boca.

 

Da Lurdes e para a Lurdes – do seu livro "Gente d'Além Montes"

A minha alma aprendeu a voar

 

 «Ainda jovem, de feitio um pouco irascível, a minha experiência ainda era pouca em comunicação e tolerância.

Formei-me em Lisboa e os dois primeiros anos de estágio também os passei por lá. Habituada a trabalhar com outros colegas em equipa, lançada para um meio que não era o meu, ao ver-me sozinha, em trabalho isolado, entregue ao meu saber, julguei-me rainha, dona e senhora do meu nariz.

Naquele primeiro dia no serviço de urgência, tive a minha primeira lição, a qual foi a mais proveitosa de todas as que tivera até ali.

Um homem de meia idade, de dedos atarracados e grossos, tocando a mala a tiracolo, acompanhava a mulher espampanante que trazia uma criança ao colo.

Ela senta-se e diz:

– La petite começou com vomissements e viemos ao hôpital para ter a medicin…

Nunca gostei de estrangeirismos e critiquei:

-Fale-me em português, porque a senhora é portuguesa e aqui não é uma casa parecida com maison, com janelas iguais a fenêtres…

A mulher espampanante levanta-se, toca no braço do homem e pede:

– Vamos embora, que esta médica é maluca!

Ao ouvir este comentário, caí em mim…

Reconsiderei e achei que tinha sido muito incorrecta… Lembrei então do que respondeu um homem, de uma raça que não a minha, que veio para Portugal com a descolonização, quando lhe perguntei o que era para ele um médico – Médico… é gente que tem alma a voar entre o Deus e os homes…

Era isso mesmo – pensei – tinha que ser tolerante, compreensiva e acessível. Ter a sábia humildade daqueles que parecem nada saber, para poder voar um pouco e ser aceite.

Naquele dia a minha alma aprendeu a voar… e a comunicar, porque comunicar, mais do que falar, é ouvir deixando falar, sendo imparcial. É saber ver além, além do gesto de súplica de alguém de corpo irrequieto. É olhar, olhos nos olhos, sem magoar rugas profundas de olhos já tão magoados, de secos tornados molhados na solidão. É ser cego e ver o mudo falar. É tocar o outro, dialogar e ter tempo…»

 

(«A minha primeira lição», , do livro «Gentes d’Além Montes», de Lurdes Rocha Girão (1996)