Cultura: a vez da autonomia controlada

O secretário de estado da cultura, Francisco José Viegas, certamente em consonância com o primeiro ministro, declarou em conferência de imprensa o seu amor pela autonomia artística. No entanto

O secretário de Estado defendeu, por outro lado, que a programação destas entidades deverá ser discutida com o seu gabinete e que os resultados de bilheteira serão tidos em conta. “Vamos valorizar os resultados das bilheteiras nos cinemas e nos teatros”, disse. Mas, sublinhou, isto “não porá em causa nem um milímetro da autonomia artística” daquelas entidades. Trata-se de uma “questão ética”  –  “não acho justo que uma companhia, um encenador ou produtor não manifeste preocupação com as questões de público.”

A nova estrutura, que foi explicada em detalhe pelo secretário de Estado, extingue a OPART (que agrupava a CNB e o São Carlos) e cria estas cinco EPE, que terão gestão financeira centralizada no ACE. “A gestão deve ser entregue a especialistas de gestão para que as EPEs se possam concentrar na programação”. Quanto à necessidade de discutir o conteúdo desta programação, Viegas frisou que “não significa impor” alguma coisa. “Defendemos um repertório de primeira linha para os teatros nacionais e queremos ser informados sobre o que vai ser feito”, afirmou.

E se o secretário de estado, ou alguém por ele, não concordar com as opções tomadas? A autonomia mantém-se? E como é que não se altera um milímetro a autonomia artística se a programação fica condicionada pelas “questões de público”?

Admito que FJV pretenda, com estas medidas, quebrar alguns círculos viciosos que há muito se instalaram nestas estruturas. Escusa é de falar em autonomia artística.

Trackbacks

  1. […] aqui notei a contradição nas declarações “literárias” do secretário de Estado da Cultura sobre liberdade artística e as práticas de programação que […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading