A problemática dos testes

Hoje, na aula de inglês tivemos uma discussão sobre o sistema educacional português. Tudo isto porque, basicamente, eu resolvi dizer que achava que os testes não deviam valer tanto, como valem especialmente no ensino básico e secundário. Acho que somos obcecados com testes. Mas já vou a este ponto. Eu disse que achava absurdo que numa disciplina como História o teste valesse 60% da nota. Enquanto trabalhos maiores, em que é preciso fazer pesquisa, planificação, montagem do trabalho, por vezes até entrevistas ou gravações, e dá, consequentemente, muito mais trabalho, valem uns meros 20%. O meu professor, o Harry, perguntou a opinião dos restantes colegas. Todos olharam para mim como se eu fosse uma ave rara e disseram que achavam muito bem a existência e importância de testes pois eles obrigam a estudar, e obrigam os estudantes a estar preparados. O Harry riu-se e disse que achava divertida a reacção dos alunos quando ele lhes dizia que ia fazer um teste. Ficavam pálidos e assustados, até porque ele tem o hábito de chegar à sala e dizer: olhem hoje vamos fazer um teste. É preciso dizer que os testes que faço no inglês são praticamente uma maneira de aferir os nosso conhecimentos e não propriamente algo que vai influenciar a nota que vamos ter.

Eu dei então os exemplos com que me deparei ao longo dos meus anos de estudante. Ou seja, colegas que nada faziam nas aulas e cujo o comportamento nem era dos melhores mas, quando chegava o teste, estudavam e acabavam por se safar.

Ninguém pareceu estranhar isto. Pedi então ao Harry para explicar como funcionava em Inglaterra. Ele explicou-nos que para eles importantes são os exames – e só há 2 anos que têm exames – e a avaliação do resto da escolaridade  é feita através daquilo a que ele chamou desenvolvimento do trabalho e do estudante. Afinal, parece que há outras maneiras de saber se o aluno estava ou não a aprender.

No fundo a questão é esta. O aprender. Nós a estudar para os testes decoramos a matéria e já está. Eu sei do que falo, afinal estou em Humanidades. O facto é que no momento em que saímos da sala em que estivemos a fazer o teste aquilo varreu-se da nossa mente, mas isso não interessa para nada. Sim, eu estive a decorar as características da pintura modernista; lembro-me lá eu agora quem eram os pintores do Expressionismo. Se for estudar outra vez, é óbvio que me lembrar-me-ei com muito mais facilidade. Mas será que sei mesmo? Será que é isto que é conhecimento? No ano passado, durante o malfadado trabalho sobre o Humberto Delgado sinto que aprendi muito mais do que a estudar para meia dúzia de testes.

Vejo pelos meus colegas, alguns mais do que outros, que há uma obsessão nada saudável em relação aos testes. Lembro-me de colegas minhas que choravam – choravam! – quando o teste lhes tinha corrido pior e tinham uma nota inferior à que esperavam. O que é que isto diz sobre o nosso ensino? Os testes são uma maneira de obrigar os alunos a estudar e a esforçarem-se. Mas será que, no fim do dia, aprendemos alguma coisa?

Comments

  1. Daniela, vou deixar aqui o meu exemplo real: Em matemática, no antigo ICL, fazíamos dois exames de frequência durante o ano. Eu e mais dois ou três tinhamos positiva, os outros tinham oito o que lhes permitia ir ao exame final.Fomos à escrita eu  e os outros habituais tornamos a tirar positiva e os outros lá andaram com o oito. Passamos à oral. Eu tive negativa na oral. E chumbei! Ainda junto ao quadro perguntei ao prof. O Sr conhece-me sabe que eu tive três positivas e uma negativa e chumbo.Os meus colegas tiram três negativas e uma positiva e passam? Isto é justo? O sr. sabe que eu sei, vim às aulas. E o prof, que nunca tinha percebido que aquilo podia acontecer diz-me perante as pessoas em pleno exame. Venha cá em Outubro que passa, e lá passei sem pergunta nenhuma. Os exames sem acompanhamento durante o ano não dá, ao prof. a dimensão do conhecimento dos alunos.

  2. O ensino pró teste é ainda o ensino do marranço. Forma gente capaz de decorar um manual de instruções mas incapaz de resolver um problema muito simples mas que não esteja lá. Ou pior ainda, capazes de saberem em que página está o botão azul do lado direito, mas incapazes de perceberem para que serve. É o ensino que temos porque foi o ensino que os professores e seus formadores tiveram. E dá um jeitão aos governantes para gerirem uma sociedade de animais amestrados.

  3. Num mundo ideal (mas possível), a escola serve para aprender. Em Portugal, os encarregados de educação querem que os seus educandos tenham boas notas ou que passem de ano ou que, no mínimo, tenham um sítio onde passar o dia. Os governos querem estatísticas de sucesso, nome dado pelos políticos a taxas de aprovação. Aprender não é preciso.

  4. É isso, como pai tive várias experiências em reuniões em que eu prometia, a mim próprio, nunca pensar como a maioria. Todos os miúdos tinham que ser excepcionais.Nas notas!

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