De Natura Sonora, ou, em mau Português, belíssima Sanfona de Sucatas

 

 

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Vou tentar ser breve, porque hoje estou com uma cólica de minaretes. Eu explico: quando vamos à Suíça é para ver os Alpes, e quando vamos ao Magreb é para ver minaretes, tudo o resto é contra natura, e deve ser referendado pelo Senso Comum.

Também é do senso comum que eu, se, por acaso, vier a passar por uma porta e ouvir gemidos e agitação do outro lado, tenho o direito de espreitar pela fechadura e pôr o ouvido colado à porta. Se — e continuamos nos "ses" — eu fosse um GNR mal formado e descobrisse que a minha tronchuda estava do outro lado da porta, ajoelhada, a fazer uma valente mamada a um fuzileiro, e os grunhidos vinham de aí, para a história se desenvolver à latina, o GNR arrombava a porta com um pontapé, e dizia, "eu mato-te, minha puta!…", e matava mesmo, e, com um pouco de sorte, furava o fuzileiro também. Como Dante, no "Banquete", eu poderia dizer que esta minha história continha as quatro vertentes hermenêuticas do texto sagrado: o literal, o alegórico, o moral e o anagógico. O literal é que a gaja ia mesmo de ali com as tripas de fora, para alguma urgência de Badajoz, morrer espanõla, e o fuzo ficava no chão com um buraco em forma de alvo, no centro da testa, evitando voltar sem pernas do Afeganistão, por ter ido "obamamente" defender as Rotas do Ópio; alegoricamente, era mais uma cena dos divórcios simplex do solnado; a moral da história é que ele nunca deveria ter parado a ouvir grunhidos de prazer, do outro lado de uma porta de face oculta, porque podia estar a ouvir alguém conhecido; anagogicamente, isto era o "Face Oculta", à Portuguesa, ou seja, iam de ali para um tribunal de comarca ligeira, a gaja tinha direito a um bruto funeral, o fuzileiro ia a enterrar, ainda com as calças pelo joelho, e o GNR recebia uma repreensão escrita, com direito a liberdade condicional, e repetição do ato.

O restante Portugal, ainda mais literal, evita que estas coisas do rés do chão transbordem para os reles patamares do Estado, e, portanto, se num colar o ouvido à porta, eu, por acaso, oiço um Primeiro Ministro a atentar contra o Estado de Direito e passo adiante, das duas três, ou sou corno manso, ou o Primeiro Ministro já devia estar na rua há eras, ou não vivemos num Estado de Direito. O interessante da coisa não é se o escutado foi escutado, ou não, no devido local, e se foi, ou não, consentido, mas, sim, se o conteúdo do escutado era, ou não era, crime de Lesa Estado.

O cidadão comum já percebeu o que está em jogo, e que é o mesmo de sempre.

No fundo, já atingimos o patamar mínimo de poder emitir juízos de validade moral e de higiene pública, que nos permitem dizer que ouvir coisas destas — mas vão MESMO ouvir — ou destas, dispensam tribunais, procuradores da república e supremos juízos, para percebermos que, de facto, deveriam ter tido outro desenvolvimento processual e histórico.

São já matéria excedente, na qual o cidadão comum tem realmente o dever de exercer o seu direito de indignação, e, enquanto não o exercer, não estaremos nem num Estado de Direito nem numa Europa Civilizada.

 

O escândalo do"Climategate" e a Conferência de Copenhaga

TEXTO DE ROLF DAMHER

 

O caso Climategate, onde se manipularam dados para provar o aquecimento global, é um dos maiores escândalos científicos da História, pelo modo como afecta a credibilidade pública da comunidade científica e sobretudo pelas suas implicações económicas e políticas.

José J. Delgado Domingos, Professor catedrático do Instituto Superior Técnico

Bom, finalmente venceu o simples são juizo humano e lá o dogma “científicamente” provado de que o aquecimento global era devido às emissões de CO2, deu o berro. Mais um grupo interesses económicos que através de manipulações tentou adquirir poder não solidário com o fim de enriquecimento próprio, ficou a ver navios. Sendo assim, é de considerar que a Conferência de Copenhaga vai ser um mais um daqueles eventos de muita parra e pouca uva.

 

É um sinal positivo, de esperança. Mas ainda há muito mais casos, como p.ex. no campo da medicina. É aí onde algumas sumidades com importantes títulos académicos – na Alemanha chamam-se “bocas de aluguer” – se vendem aos interesses económicos-farmacêuticos para atestar a eficácia, segurança e inocuidade de medicamentos e métodos de tratamento que nem sempre fazem bem aos doentes.

 

Poemas estoricônticos

A noite mais triste

 

Foi a noite mais triste

a mais negra noite.

Mais triste do que a sombra dos coqueiros

sem lua

mais negra do que o mergulho do tarrafe

nas águas fundas do Cacheu.

Enrolei-me na torrente de lágrimas

e não dormi as longas horas dessa noite.

Tudo se tinha rasgado:

o sol

a lua

a paisagem

os rios

os braços e o sonho

em tiras de trapos que à toa enfiei

nos sacos de lixo.

Não há remédio para o gemido

o gemido é a coisa mais só

mais terrível

mais cortante da carne viva.

Não dorme

ante o silêncio de mil ouvidos moucos

e agarra-se ao sangue como crude.

Apenas o dissolve a lama da noite

jorrando fontes de silêncio

sobre um corpo sem beijos

de bocas atadas.

A noite do desespero

despenhou-se sobre a cidade

fincou as garras nas janelas

rasgou o corpo nu da solidão

e queimou a vida em catedrais de cinzas.

Tudo soou a violino sem cordas

num ritmo de movimento sem cor

sobre um tabuleiro sem pedras

sem força nem entreactos

glosando a pobreza de mil retratos

tragicamente impressos em letra de amor.

Foi um texto de mil palavras sem língua

uma nicotínica melodia de álcool

e soníferos

na frágil clareza de um cérebro brumoso

trancado de sofrimento

gargalhando a fraqueza

para encher de nada um simples momento.

Secaram as lágrimas

fugiram as sombras dos olhos baços

e uma luz de prata sensual

escorreu de alto a baixo

conclusiva

desejosamente metafísica

mas tão fria

que o desejo das lágrimas quentes avançou.

Olhos doces de chorar

gritam do fundo do tempo

do altar do homem grosseiro

brutal

avarento

verdadeiro

a condição de ser inteiramente outro

nem eterno nem intacto nem primeiro

apenas o derradeiro.

 

Seis questões sobre o 1º de Dezembro, feriado nacional conhecido por "Dia da Restauração da Independência de Portugal"

Choveram no mesmo instante pedras nas janelas e casas do Corregedor, despedidas dos rapazes e pícaros da Praça, os quais, animados com a assistência do Povo, subiram acima e botaram na Praça, furiosa e confusamente, quanto acharam nas mesmas casas do Corregedor e, fazendo uma fogueira defronte delas, se pôs fogo a tudo.Escondeu-se o Corregedor em uns entre-solhos. E, sendo pouco depois achado pelos rapazes, passou aos telhados por uma fresta […] se recolheu desairoso às casas do Cónego […], que estão paredes meias com as suas. […]

Manuel de Severim de Faria, descrevendo as Alterações de Évora de 1637

 Ler mais na Rua de Alconxel

 

 

Os acontecimentos de 1580 devem-se ao “desastre” de Alcácer-Quibir?

Não. Desde o séc. XV que as monarquias ibéricas tinham acordado na sua unificação política, sob o jugo de um mesmo rei. Apenas vários acidentes (a começar na morte do filho de João II, que seria o futuro rei de Portugal e dos restantes reinos ibéricos dominados por Castela) o tinham evitado. O rei Sebastião e a aventura dramática em terras da mourama apenas atestam que num regime monárquico é extremamente fácil um doente herdar a coroa. Mesmo assim e até por isso podemos dizer que hoje em dia o criminoso  de guerra Sebastião seria dado como inimputável. Filipe II de Espanha foi aclamado Filipe I de Portugal com toda a legitimidade, à luz das leis e da sucessiva intenção política do poder régio.

 

Em 1580 Portugal perdeu a independência e ficou sob domínio espanhol?

Técnicamente não é bem verdade. O regime estabelecido após 1580 designa-se por monarquia dual, ou seja, o mesmo rei era-o de dois estadosmais ou menos soberanos.

Filipe I tentou mudar a sua residência para Lisboa, no que foi impedido pela nobreza, uma porque não queria sair de casa, a outra, a portuguesa, porque adorava a vida na corte espanhola. Contudo no governo de Filipe III, o acordo que garantia a independência de Portugal deixou de ser respeitado.

 

Durante a dinastia filipina houve resistência à monarquia dual?

Entre o povo sim. A nobreza sempre se sentiu encantada com essa união, os intelectuais escreviam em castelhano, etc. etc. Na década de 30 houve várias revoltas populares, conhecidas por alterações, contra o poderio da nobreza e do clero, das quais a mais conhecida foi a de Évora, em 1637. Revoltas de um povo esfaimado e que não distinguia portugueses de castelhanos quando atacava quem tinha que comer, colocando o país a ferro e fogo.

 

Porque se dá o golpe de estado de 1 de Dezembro de 1640?

São várias as circunstâncias. Internamente a nobreza vivia em pânico com as revoltas populares. Internacionalmente o Duque de Bragança foi pressionado pela França para assumir o poder, o que primeiro recusou com o heroísmo que lhe era muito peculiar, e se viu obrigado a aceitar antes que o cheiro a fumo das alterações lhe chamuscasse as propriedades. Por outro lado e para não variar a norbreza mais jovem precisava de se fazer à vida, que o morgadio ainda era lei.

 

A que se deve o sucesso da chamada “restauração”?

A uma feliz conjuntura internacional, sobretudo a guerra na Catalunha que levou Filipe III a concentrar os seus esforços militares, permitindo a Portugal organizar o seu exército, com o apoio de potências estrangeiras rivais.

 

 

 

Professores – é preciso estar de boa fé

O que está por trás de toda esta luta dos professores, para além, da quota mensal dos sindicatos, é a ideia que são especiais de corrida. Eu, por mim concedo, que se estivéssemos numa sociedade perfeita os professores deviam ser os mais bem pagas profissionais, ou dos mais bem pagos. A educação de crianças e adolescentes  tem influência para toda a vida dos próprios e da sociedade.

 

A conceder estes direitos a sociedade teria que exigir deveres e é aqui que a "porca torce o rabo". Os professores não querem, ou melhor dizendo, os sindicatos não querem. Até aqui, quizeram convencer-nos que todos os profissionais podiam ser avaliados menos eles e as escolas. E porquê? Porque o universo de alunos e o ambiente geral em que labutam, são de tal ordem dispersos e exigentes que não seria possível uma avaliação de mérito, minimamente justa.

 

Perante a evidência que esse argumento é tão pobre que a sociedade não está disposta a aceitar (  o velho ditado, cada um sabe de si e Deus de todos) agarraram-se a um erro burro que a ex-ministra cometeu, o de dividir a carreira entre "titulares" e os outros. Foi um pretexto para recuarem sem perder a face. Mas voltam à carga.

 

Até aqui todos os professores chegavam ao topo da carreira. E agora? Agora tambem! Basta cumprirem um determinado número de anos numa dada categoria e ter "positiva" na avaliação" ( aplauso, já falam em mérito!) e não querem " constrangimentos administrativos" ! E o que são estes constrangimentos ? Não há fixação de vagas nos 3º, 5º e 7º escalão nem exame de ingresso na profissão.

 

E quando já estão no 8º escalão, ganham 3 364 euros que é alguma coisa como  673 contos /mensaisx 14 :12 = 710 contos/ mês. Isto num país onde se sabe quanto ganham a maioria dos trabalhadores. Reparem que não estou a dizer que é muito para profissionais de alto gabarito, com resultados após resultados avaliados e que chegam ao topo ou perto disso. Não, o que contesto é que mais uma vez, apesar daquela coisa da avaliação,( mesmo que medíocre) todos podem chegar ao topo e ganhar como tal!

 

Mais uma vez. Num hospital todos os médicos chegam a chefes de serviço e a directores? Numa empresa, todos chegam a chefes de serviço e a directores? Na função pública chegam todos a chefes de serviço e a directores?

Bem sei que há carreiras, como na Justiça, onde foi constituído um feudo que tudo consegue e que na política há outro, e que há muitas injustiças neste pobre país, mas não é a seguir os maus exemplos que endireitamos isto.

 

A avaliação além de objectiva, participada e justa, TEM que ter consequências na carreira dos professores, entre os excelentes e os muito bons, entre os bons e os suficientes…

 

A pirâmide dos recursos humanos é isso mesmo, estreita em cima e vai alargando para baixo.

 

É preciso estar de boa fé!

 

 

 

 

Dia da Restauração Poderá Mudar de Nome

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TRATADO DE LISBOA ENTRA HOJE EM VIGOR

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Hoje, dia 1º de Dezembro, dia da Restauração da Independência Portuguesa, entra em vigor o Tratado de Lisboa.

Inicia-se hoje um ciclo de novos grilhões.

O nosso 1º de Dezembro até já nem é comemorado. Foi substituído pelo dia Internacional da Sida. Era um dia importante para os Portugueses. Hoje é só mais um feriado, em que o comércio está aberto para as compras/vendas de Natal.

Comemorava-se a libertação completa em relação a Castela e o regresso de Portugal à total independência, após sessenta anos debaixo do jugo dos Filipes. Foi em 1640, há quase trezentos e setenta anos, que as amarras castelhanas foram cortadas. Numa altura em que os Portugueses eram de antes quebrar que torcer, duros, e que lutavam sem tréguas pelos seus direitos.

Hoje ainda os há, assim, mas estão doentes, letárgicos, não reagindo às adversidades nem aos ataques soezes que lhes movem.

Em 1 de Dezembro de 2009, com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, perdemos mais um bocado da soberania nacional. Os mandantes que nos governam, entregaram o poder que detinham em nome do nosso povo, a Bruxelas.

Bruxelas manda e imporá os grilhões que lhe aprouver.

Por causa disso, dia 1º de Dezembro, poderá vir a chamar-se, o dia da subjugação e da vergonha nacionais.

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Senhora Presidenta de la República de Chile

 Sua Exelência, Presidenta do Chile, Dra. Michelle Bacchelet. Bem sabemos que o  retrato a óleo em frente de si e de vários que lêem estes textos, não é o seu. O seu e mais do que conhecido e deve ficar marcado na História do nosso País, como este de Dona Paula de Jaraquemada y Alquízar ( Santiago jJnho de 1768 – † falleceu a 7 de Septembro de 1851) Nos tempos da guerra pela Indepedência do Chile e mal soube do denominado desastre de Cancha Rayada, acontecido a 19 de Março de 1818 perto da, então, Vila de São Agostinho de Talca, hoje a cidade de Talca, mandou de imediato ao seu filho em frente de um batalhão de inquilinos (jornaleiros ou peões), para colaborar com o General José de San Martín, derrotado pelos godos (espanhois) de coroa da Espanha que tinham retomado o nosso país após a sua declaração de independência, a 18 de Setembro de 1810. Não havia rei, decidiram, em Cabildo Aberto ou Junta de Notáveis,  se governarem a si próprios. Pouco tempo durou. Bonaparte, derrotado pelos ingleses, libertou as cabeças coroadas da Europa baixo o seu poder e essas coroas correram a recuperar as suas Colónias. Quatro anos foi o lapso de tempo entre a independencia adquirida e a derrota dos godos. Doña Paula fez da sua Hacienda (Fazenda) em  Paine, Maipo, perto da antiga capital, hoje em dia parte da mesma, Santiago, um hospital, quartel geral, ofereceu os seus cavalos e pertrechos e alimentou ao Exército Patriota até a comida acabar para todos e para ela. Essa batalha perdida, foi recuperada pela de Maipú de 5 de Abril de 1818, dia em que O´’Higgins e São Martín derrotaram aos soldados da coroa e foi declarada a padroeira do Chile, la Virgen del Carmen (Nossa Senhora do Carmo). Não sou homem de fé, os generáis tambem não, mas o povo precissa de uma santa para tomar cargo dos seus assuntos)

Doña Paula Jaraquemada, a seguir a sua colaboração com os patriotas, foi invadida pelos realistas que queriam tirar os derradeiros alimentos e incendiar a casa. Cruçou o molhe de chaves no seu corpo e disse com voz de mando: Venid por ellas (Vindes  por elas). Perante tanta força e senhorio, ninguém ousou aproximar-se. O Talavera que comandava, Mariano Osório, mandou queimar casa, esse imenso solar de pedra e barro, caiado de branco. A Doña Paula, calma e serena, perante o exército e os inquilinos, disse: Queréis  fuego (quereis fogo?) Deu um pontapé num braseiro: Ahí  teneis…., podeis inncendiar (ai tendes…podeis incendiar.)…Envergonhados pela força da Dama, retiraram-se, tendo, assim, os godos, perdido a batalha….Como a Paula Jaraquemada que hoje nos governa:, médico pediatra, graduada em estrategia militar na  Academia Nacional de Estudos Políticos e Estratégicos (ANEPE), obeteve o primeiro lugar da sua turma (promoción).  Resultado;  Beca de Honor Presidente de la República para realizar o curso de Defesa Continental no Colégio Interamericano de Defesa, en Washington DC, em 1997, junto a 35 militares e vários civis de todas as Américas. Especialização que lhe permitiu  incoporar-se como asesora do Ministro da Defesa. Senhora Presidente, digna filha do seu pai, pessoa que tive o prazer de conhecer ao visitar o Chile de Allende: o General Alberto Bachelet,  General de Aviação, como o meu sogro o General Raúl González Nolle de Monjeville, professor do seu Senhor Pai.  A sua presidência tem sido um sucesso, Portugal a cumprimenta, como nós, os anglo-luso-chilenos. Por favor , descanse agora. Apenas um conselho: o melhor descanso é nunca parar.

 

 

I Tertúlia do Aventar: Salgueiro Maia e a Memória da Revolução

 

«Salgueiro Maia e a Memória da Revolução», com Carlos Abreu Amorim e João Teixeira Lopes. Sábado, dia 5 de Dezembro, às 18 horas, no Clube Literário do Porto (à Ribeira).

Phiwayinkhosi teve sorte. Não tem SIDA

 

Phiwayinkhosi Dlamini tem 13 meses de idade. Mora na localidade de Mkhulamini na Suazilândia e não tem SIDA. Na Suazilândia é uma das crianças afortunadas.

 

Este país no sul de África tem a mais alta percentagem de adultos infectados do mundo. Vinte e cinco por cento da população tem HIV. Cerca de 40 por cento das mulheres grávidas estão infectadas.

Phiwayinkhosi Dlamini teve sorte. O pai é portador do sindroma. Valeu à criança o serviço de prevenção da transmissão da doença.

 

Portugal é o país da Europa ocidental e central com mais novos casos de infecção pelo VIH, indica o relatório da ONUSida. No ano passado foram notificados 2688 novos infectados, elevando o número de casos para 34 888. Em todo o mundo há 33,4 milhões a viver com o vírus da sida.

 

São realidades diferentes mas a doença é a mesma.

Hoje é o Dia Mundial da Luta Contra a Sida.

A EDP não tem culpa

A EDP não paga indemnizações por estragos causados pela queda das torres de energia de alta tensão. Porquê ? Porque foram deitadas abaixo por ventos superiores a 100 kms/hora e as torres foram calculadas para aguentarem só até aquele limite, disse um senhor muito importante, sem se rir.

Isto é, quem sofreu os prejuízos causados pela queda das torres é que tem a culpa, porque não se desviou ou não se precaveu com uma estrutura própria que aguente a queda das torres. Se não houver temporal a EDP paga, havendo temporal não paga. Como as torres não caem sem temporal ( era só o que faltava) a EDP nunca paga indmnizações pelos prejuízos causados.

As pessoas que não têm nada a ver com o negócio da distribuição de energia da EDP, e que ficam com os prejuízos, é que têm a culpa de haver temporais superiores a 100 kms/hora.E como é que se impede isso? Não impede, só a EDP é que pode escolher as condições para que as torres  caindo, não prejudiquem os bens . E quem pode escolher os sítios e as estruturas para que, as torres caindo, não prejudiquem ningem? a EDP!

É como conduzir um carro debaixo de um temporal, se abalrroar outro carro por causa da chuva e do vento, mando a factura para o próprio que sofreu os danos.

Outra hipótese á mandar a factura ao totta…

A EDP não tem culpa do temporal

Pois não, quem tem mesmo culpa são as pessoas que ficaram sem os seus bens, e a maioria deles na miséria.

Se o meu vizinho, para fazer o negócio dele, tiver que passar redes de alta tensão por cima do meu quintal, ou se tiver um mastro de bandeira que, ao cair, me deite a casa abaixo, não tem culpa nenhuma, a não ser que não haja temporal.

É como leu! Se houver temporal a EDP não tem culpa, porque não é possível construir estruturas que aguentem mais de 180/200 Kms/hora, logo, quem leva com as linhas de alta tensão em cima só tem que se desviar. Ou então começa do zero!

Mas não impede que começando do zero não lhe imponham as redes em cima, apesar de toda a gente andar a desconfiar que pode, inclusivamente, ser gravemente prejudicial para a saúde.

Quer dizer, a EDP monopolista ou quase, que ganha milhões e milhões cá dentro e que depois investe nos US em energia renováveis (isto é tudo muito fino) esses milhões que ganhou com os preços que pratica cá dentro, não aceita as culpas dos temporais.

Se  aventar ( estilo vento na ramaria) ainda pode ser que pague alguma coisa, mas quem é que já viu o aventar deitar abaixo torres de redes de alta tensão?

A EDP não paga nunca os prejuízos que causa, é como andar de carro a chover, ter um acidente e atribuir a culpa à chuva. Quem ficou sem carro que se amanhe.

Prós e Contras – Nestas condições os megaprojectos são um disparate

A verdade vem ao de cima como o azeite. O governo minoritário já não mete tanto medo como o "quero, posso e mando" e  os especialistas começam a dizer em voz alta o que só diziam em voz baixa.

 

Nos últimos vinte anos o país investiu em obras públicas e o resultado é que somos o país mais pobre da Europa. E o mais injusto. E o que menos vai crescer. Não vale a pena, agora ainda vale menos a pena, continuar com obras que só servem o lobby do betão.

 

Pedir dinheiro emprestado lá fora e pôr a máquina das empresas de construição civil a trabalhar e comprar os equipamentos de tecnologia lá fora, é muit fácil. Dificil é fazer investimentos que reforcem o nosso poder de exportar, que substituam importações que melhorem a nossa produtividade.

 

O governo limita-se a jogar com as empresas que vivem do mercado interno, tira a uns e reforça outros, mas isso é uma soma igual a zero, no que diz respeito ao país.

 

É uma temeridade aumentar a dívida externa já imensa para fazer investimentos que não têm nenhum poder de captar tecnologia, de criar postos de trabalho, de exportar. Parece estar a criar-se um consenso para impedir que estes desastres se concretizem, pelo menos a curto prazo.

 

É necessário, e isto ninguem contesta, investir na produção de bens transaccionáveis, que se exportam, os quais há vinte anos representavam 30% do PIB e hoje continuamos com os mesmos 30%, apesar do país se ter endividado fortemente. Com esta factura de serviço da dívida o pais só pode empobrecer e ficar de mãos atadas, por décadas. Os próximos dez anos são de empobrecimento, e isto não é uma previsão, é uma realidade à qual já não somos capazes de fugir.

 

O país não tem de estar sujeito à ditadura dos lobbies que ,sentados à mesa do orçamento, forçam investimentos que não criam riqueza e que não são necessários, ou cuja prioridade não é nenhuma.

Darth Vader ao tapete

 Cá por casa, nos últimos tempos, e pela mão do meu filho de três anos, cruzámos o umbral da terra dos medos. O vento que uiva lá fora, o estalar de uma viga no sótão, um cão que ladra com fúria numa varanda próxima, um sapo gigante que nos aborda na rua e que se revela afinal campanha publicitária do anfíbio que alberga estas páginas, a densa escuridão que engole o corredor quando os interruptores se apagam.

 

Encontrámos também, é certo, muitas ajudas para vencer o medo: falar alto, cantarolar, acender todas as luzes da casa, dizer muito alto OS MONSTROS NÃO EXISTEM, lembrar a fada Sininho, ir buscar a espada do Dartacão, que às vezes também se transforma numa espada Jedi, dormir agarrado ao ursinho, e tantas outras coisas.

 

E depois é só escorraçar o já esfarrapado medo, enxotá-lo, abrir-lhe a porta para que possa descer as escadas com uma perna a lamber a outra, e ficar a rir dessa figura desengonçada.

Mas ao medo da gente crescida não se expulsa de qualquer maneira.

 

Incrustado na carapaça que nos reveste, agarrado ao estômago, cravado como uma lapa, aceita esbater-se nos dias de sol, mas está sempre a postos, preparado para regressar. Alimenta-se de palavras gordas: futuro, mudança, crise, morte, solidão. E nunca se distrai, o sacana.

 

Há dias, movida mais por uma vaga nostalgia juvenil do que pela necessidade de arranjar entretenimento familiar para um fim de tarde, fui ver uma exposição dedicada à saga da “Guerra das Estrelas” num centro comercial.

Não sabia que à hora a que cheguei começava uma animação teatral acerca dos Jedis, a ordem de cavaleiros sábios que aprenderam a dominar o lado luminoso da Força. Munidos de sabres de luz de plástico (há anos que espero que a alguém ocorra que é disso mesmo que eu preciso para o Natal), os actores convidavam as crianças a subir ao palco para começar a sua formação como Jedis.  

Um pequenito, com sete ou oito anos, e um ar que fazia lembrar o Harry Potter, lá foi, empurrado pelos pais, amedrontado e tímido, para o meio dos Jedis. O espectáculo continuou com umas lições sobre a Força e o manejo do sabre de luz, até que a inconfundível marcha imperial começou a ouvir-se e o miúdo sentiu que alguma coisa má ia acontecer. Darth Vader entrou na sala.

Não se riam se vos disser que eu, que já deveria ter idade para ver tudo isto com a sobranceria dos adultos, estremeci com a entrada da criatura. Este Darth não trazia bandeira monárquica, apenas a capa negra esvoaçante e um sabre carregadinho da energia do lado negro da Força, e a cada passo seu em direcção ao palco, víamos o pobre miúdo ficar cada vez mais pequeno.

Mas não gritou nem fugiu, não chamou pela mãe nem trepou pelas pernas dos cavaleiros Jedi. Ficou quieto e em silêncio, pálido e digno, não afastou o olhar da máscara negra, e quando os Jedi lhe disseram que se concentrasse, erguesse a mão e se juntasse a eles no uso da Força, essa energia luminosa que une todos os seres, e que se nutre da bondade, da sabedoria, da serenidade, vimo-lo agachado em palco, com a mãozita erguida e o rosto sério, concentrado na derrota do lado negro, esse que irrompe da violência, da inveja, do ressentimento, do medo.

E claro que assistimos ao milagre, vimos o colossal Darth Vader vacilar, perder o equilíbrio, e tombar aos pés de um catraio trinca-espinhas, mas cheio de fé.

Uma sala cheia de trintões a braços com o esforço de não se deixar dominar pela inveja aplaudiu o pequeno herói tranquilo.  

Desde esse dia tenho andado a pensar: se ele foi capaz, será que eu também sou?

 

O PRIMEIRO DE JANEIRO

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CENTO E QUARENTA E UMA VELAS SE APAGAM HOJE

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No dia 1 de Dezembro de 1868, nasceu o jornal «O Primeiro de Janeiro». Deve o seu nome às manifestações da «Janeirinha». Ao longo da sua vida de muitas dezenas de anos, o diário foi crescendo até se tornar no melhor jornal de Portugal. Era uma referência Nacional. Por lá passaram os mais ilustres intelectuais do nosso País. Atravessou períodos conturbados, como a transição para o regime democrático, acabando por se debater com a mais grave crise da sua história, na década de 1980, quando o seu enorme património foi desbaratado. Hoje, o jornal continua, já sem o seu emblemático edifício na Rua de Santa Catarina, e sem os grandes nomes que o ajudaram a consolidar-se a nível Nacional.

«O Primeiro de Janeiro» é, sempre o foi, o «meu» jornal. Por influência de um primo de quem era amicíssimo, grande jornalista que também colaborou no Norte Desportivo, Emílio Loubet, meu pai sempre o teve em sua casa e o leu religiosamente. Uma das imagens que guardo dele, é a de o ver a meu lado, sentado no autocarro da carreira A, a caminho de casa, lendo o Janeiro, dobrando-o cuidadosamente de modo a não incomodar ninguém. Também aprendi nessa altura, como o dobrar, já que era bem maior do que hoje é.

O meu contacto com o jornal, aconteceu, ainda nem ler sabia, nos domingos de manhã, aconchegado na cama de meus pais, a ver avidamente a banda desenhada de «O Príncipe Valente», «O sr Calisto» e o «Zé do Boné». Quase se poderia dizer que foi com aquelas páginas que comecei a ler. Ao longo da minha vida, o Janeiro foi presença diária e leitura obrigatória. Hoje sinto-me honrado em poder ver algumas linhas minhas publicadas neste «meu» jornal.

Actualmente luta-se, lutamos todos os que de uma forma ou de outra colaboramos com o nosso Janeiro, pela continuação da sua existência. Os dias que atravessamos são madrastos e sem complacência. A competição é enorme e só os números das vendas contam. Mas o «O Primeiro de Janeiro» vai continuar, estou convencido disso, cada vez mais forte, a caminho de se tornar de novo, um dia, uma referência no panorama jornalistico Português.

Ainda vamos voltar a ouvir pelas ruas do Porto o pregão: »Olhó Janeeeiiirooo».

Parabéns, Janeiro, pelos teus cento e quarenta e um anos.

Mesmo no PS nem todos apreciam um bom robalo

(…) Com o clima de corrupção generalizada existente, com os métodos usados na revisão dos preços, com os objectivos anunciados e com as prioridades conhecidas do Governo a serem a EDP, a PT a Mota-Engil, a Ongoing, Joaquim de Oliveira, a Martifer, a Sá Couto e quejandos, é fácil de ver para onde irão os milhares de milhões de euros de investimentos públicos previstos. (…)

Ou seja, a grande prioridade de José Sócrates não são os postos de trabalho, mas a ajuda às empresas do regime e o controlo dos meios de comunicação, para que os portugueses não se apercebam disso. (…)

Henrique Neto no Diário de Leiria, via Blasfémias

 

A Suiça escolheu o medo

"Quem luta com monstros deve velar para que,

ao fazê-lo, não se transforme também … o abismo

também olha para dentro de ti."

Friedrich Nietzsche

 

 

O Osama Bin Laden, se ainda for vivo, hoje deverá estar a esfregar as mãos de contente. Com efeito, devido ao medo subliminarmente sentido perante uma islamização, com o seu voto de hoje, a Suiça abandonou praticamente o seu estatuto de país neutro tornando-se, visível perante todo o mundo, um “combatente” ao lado de god’s own country and his partners in misleadership. Welcome to the crew, Switzerland!

 

Tal como todos os outros vizinhos e restantes países do assim chamado 1º mundo, a Suiça optou pela reacção em vez da acção. E acção teria significado, identificar as mais profundas causas espirituais-psíquicas desse crescente insegurança, para seguidamente passar à acção: p.ex. no sentido do meu esboço estratégico “New Deal”. Lembrem-se: a única solução pacífica que evitará uma enorme tragédia a nível mundial, é mudarmos do nosso actual comportamento introvertido-egocêntrico para um comportamento extrovertido-sóciocêntrico.

 

O que provavelmente irá acontecer agora, é que com o voto dos suiços a ameaça por forças antagónicas, até aqui apenas latente, se materialize. Por exemplo através de atentados de forças islámicas radicais ou apenas a sua ameaça. Portanto, os “monstros” até aqui apenas existentes nas cabeças das pessoas, darão lugar a “monstros” reais os quais precisam de ser combatidos.

 

E isto significa: com os “monstros” a aparecerem, as pessoas ver-se-ão confirmadas nos seus mais profundos receios o que irá atiçar uma espiral negativa – tal como nos restantes países que resolveram combater os problemas reagindo com meios materiais-mecanicistas e não agindo com medidas energéticas-estratégicas. Nesta situação, no fim poderá acontecer que na tão civilizada e idílica Suiça situada em pleno coração da Europa, ganhe, nas próximas eleições gerais, um governo populista da direita a maioria absoluta. Vade retro satanás!

 

E o que está a acontecer com a nossa Alemanha em vias de ficar sem rei nem roque que já encontrou o seu “monstro” no Afeghanistão e continua incapaz de aperceber-se que o “inimigo” vem de dentro em consequência dos nossos próprios actos?

 

RD

 

 Rolf Damher – convidado

A máquina do tempo: Bon colp de falç! – a Restauração portuguesa e a Catalunha (2)

 

(Texto de Carlos Loures e Josep Anton Vidal) 

No dia do Corpo de Deus (Corpus de Sang),grupos de ceifeiros que haviam chegado a Barcelona dias antes envolveram-se numa escaramuça com cidadãos, da qual resultou um ferido entre os ceifeiros. Este facto, quase insignificante, foi o rastilho que incendiou a pólvora. Os ceifeiros concentraram-se diante do palácio do vice-rei. Do palácio foram disparados alguns tiros. Um ceifeiro foi morto. Os ceifeiros e a população que a se lhes juntou dirigiram-se aos locais da cidade onde se sediavam os representantes da autoridade real. O Vice-rei tentou fugir por mar, mas foi surpreendido e executado. Os distúrbios duraram alguns dias e provocaram entre 12 e 20 mortos, em sua maioria funcionários reais.

Na Catalunha, como em Portugal, o que se passou e o que o Romantismo, dois séculos depois recreou, são coisas diferentes. Os «segadors» gritavam – «Viva a terra, viva o rei, viva a fé, morram os traidores!». Não se lutava pela independência, porque a Catalunha não perdera, pelo menos formalmente a independência. Não houvera nem anexação, nem conquista. Nem sequer a subida ao trono do território do rei castelhano, fora como em Portugal em 1580, antecedida de uma batalha em que, pese a legitimidade de Filipe, os patriotas tentaram pôr no trono um rei português. Em Portugal, a situação era, nesse aspecto, mais traumática, embora o reino conservasse as suas tradições, usos e costumes.

Na Catalunha, a luta dinástica verificara-se séculos antes, durante o reinado do último rei da Casa de Barcelona, Martí L’Humà. Não deixando descendência ao morrer, pois o seu único filho, Martí «o jovem», morrera na guerra da Sardenha, o conflito sucessório resolveu-se através do «Compromisso de Caspe» que entronizou na coroa de Aragão, a dinastia castelhana dos Trastâmara.

Por outro lado, a Catalunha estava habituada a compartilhar a soberania. Antes estivera ligada a Aragão, depois a Valência, a Maiorca, a Nápoles. Apesar de o rei ser castelhano(tinham sido os próprios reinos da Coroa de Aragão – no meio de intrigas políticas que não interessam para este caso – que haviam dado a coroa aos Trastâmara, no tal «Compromisso de Caspe», firmado em 1412. Portanto, os catalães sentiam-se num estado soberano e independente. Pelo menos até o punho de ferro de Olivares ter começado a destruir as prerrogativas dessa independência e soberania. Não lutavam contra o seu rei, mas contra quem pretendia governar ilegalmente, contra os «traidores». Contra Olivares.

*

Lembre-se que, paralelamente, em Portugal, também já desde 1635 que se verificavam levantamentos populares pelos mesmos motivos, ganhando maior expressão em 1637 com as chamadas «Alterações de Évora», entre Agosto e Outubro (vários estratos sociais se envolveram na sedição, que teve como inspiração a figura típica do «Manuelinho», que se transformou no símbolo da resistência contra os ocupantes estrangeiros). Mas eram «revoltas informes», «alterações», «motins», «comoções», coisas do povo, em síntese, sem forma corporativa estruturada.

Porque a nobreza e a burguesia letrada só se revoltaram quando foram atingidas pelas medidas centralistas do Olivares, mantendo-se calmos enquanto a Casa de Áustria lhes manteve as mordomias e a independência formal. Enquanto não lhes lesou os direitos. Mas, tentar desmontar este mito, o dos «valentes guerreiros» com o duque de Bragança à cabeça, fica para outra altura. Estamos a falar da Catalunha.

A morte do vice-rei assinalou uma importante mudança na percepção das relações da Catalunha com o seu rei. De alguma maneira, ressurgem as convicções pactistas: o rei governa, mas em obediência ao seu pacto com os súbditos. Com a intensificação das arbitrariedades e com a violência anexionista, as autoridades catalãs, consideram que o soberano desamparou o país, que quebrou o pacto estabelecido. Assim, procuraram novas alianças e encontraram-nas entre os inimigos do monarca espanhol, negociando a protecção de França, com a garantia de que a Catalunha se constituiria em República livre sob a protecção do monarca francês, ou seja, um novo pacto. A França proporcionou armas e meios e a Catalunha ergueu-se em pé de guerra (Guerra dels Segadors). O exército real, estacionado na zona sul da Catalunha (Tortosa), em Dezembro de 1640 põe-se em marcha. O objectivo era a conquista.

Mas a França tinha então um nome: Richelieu, e um desiderato – obter rapidamente a vitória num conflito que lhe daria a hegemonia europeia. O avanço das tropas de Filipe IV sobre a Catalunha, significava naquele momento um avanço sobre França, coerente com a estratégia de pôr cerco ao país por terra e por mar, para poder rematar com êxito o conflito pela hegemonia europeia. Os interesses da Catalunha nada significavam, nem para uns nem para outros.

As repetidas pressões de Richelieu, num momento de guerra aberta em que a ajuda francesa era imprescindível, conseguiram que, em Janeiro de 1641, Luís XIII de França fosse nomeado Conde de Barcelona, ou seja, soberano da Catalunha. O que isto significava na mentalidade política da monarquia francesa era «absolutismo». Em França não existia nem tradição nem a mentalidade de «pacto»; a autoridade do monarca era indiscutível. E nos anos que se seguirão, o domínio francês reproduzirá na Catalunha todos os males do governo castelhano, agravados, inclusive.

Com a Espanha derrotada em Vestefália, a guerra continuou na Catalunha; para Espanha era uma questão de segurança levar a fronteira até aos Pirenéus, mas era também uma questão de «dignidade» política; perdera muito no conflito e, entre esse muito, Portugal; tinha-se visto postergada na Europa, e enfrentava o rosto mais deprimente da sua própria imagem e não podia ceder. Para França era mais uma fustigação para o inimigo e a Catalunha era um território-tampão, era afastar a fronteira com Espanha que, com a Catalunha de permeio, ia até Salses, ultrapassada a face norte dos Pirenéus.

Como já se disse, a rebelião popular catalã prosseguia. O que ajudou foi o auxílio francês – o «Pacto de Ceret», firmado em 7 de Setembro de 1640 entre os líderes independentistas e o reino de França, determinou o envio de armas para a Catalunha. Olivares ordenou que se mobilizassem em Portugal entre 10 e 15 mil homens para atacar a Catalunha, o que determinou, como já vimos, a reacção de 1 de Dezembro. Em 26 de Janeiro, as tropas que o conde-duque conseguira reunir atacaram Barcelona, fracassando na tentativa de ultrapassar a fortaleza de Montjuic e sendo derrotadas. Contudo, pouco depois da vitória na batalha de Montjuic, morreu repentinamente Pau Claris (1586-1641), um clérigo, presidente da Generalitat catalã. Terá sido envenenado por agentes de Castela. Independente, a Catalunha lutou em aliança com os franceses contra os Habsburgos.

Em 1648, a eclosão da guerra civil em França, La Fronde, iria pôr termo ao auxílio francês à Catalunha, pois o jovem Luís XIV tenta chegar a acordo com a Casa de Áustria. Barcelona acabaria por cair nas mãos das tropas castelhanas após um cerco de 18 meses, rendendo-se em Outubro de 1652.

Após a queda de Barcelona, em 1652, quando as tropas castelhanas ocuparam praticamente todo o território catalão a sul dos Pirenéus, a França continuou a prestar auxílio aos catalães, cada vez mais exaustos; finalmente, quando a reconquista do território se tornou praticamente impossível para a Catalunha, a França (o monarca era agora Luís XIV, sendo o cardeal Mazzarino o seu homem de confiança), que prolongou o conflito numa guerra de desgaste, negoceia com Espanha o Tratado dos Pirenéus – que, por sua vez, significa a conclusão do de Vestefália – pelo qual retira as suas tropas das comarcas catalãs a sul dos Pirenéus, obtendo da Espanha a cedência das comarcas catalãs situadas a norte da cordilheira (o chamado Rossilhão, que incluía as comarcas pirenaicas do Conflent, o Capcir e o Vallespir, bem como metade da Cerdanya, uma comarca dos Pirenéus. Com o tratado dos Pirenéus Espanha não só pôs fim a um conflito, como «conscientemente» castigou a Catalunha, preferindo obter de França garantias sobre as suas possessões na Flandres do que manter a integridade do território catalão.

E para que o final seja tão feliz como o dos contos de fadas, assinou-se o acordo de casamento entre Luís XIV e a filha de Filipe IV, Maria Teresa de Áustria… E como se costuma dizer no fim dos contos infantis «vitória, vitória – acabou-se a história!»

Aliviada da pressão que representava a guerra na Catalunha, Castela pôde concentrar por fim os seus esforços na frente portuguesa. Mas sem êxito. Toodos os confrontos importantes e decisivos, foram ganhos pelos portugueses. Em 1628, gorados os esforços para recuperar Portugal, foi assinada a paz em Madrid, cedendo Portugal a soberania sobre a praça africana de Ceuta.

Depois do Tratado dos Pirenéus, a Catalunha continuou ocupada pelas tropas castelhanas e os conflitos continuaram. Em 1687, verificou-se um novo levantamento (revolta dels Barretines) que manteve a população rural em pé de guerra durante dois anos. E de novo a Catalunha se debateu entre Espanha e França, como é natural numa terra de fronteira, sempre cobiçada e disputada por uns e por outros e servindo sempre, por uns e por outros, de moeda de troca. O hino «Els Segadors», celebrando a revolta de 1640, foi composto em 1892 por Francesc Alió, com letra de Emili Guanyvents e inspira-se numa antiga canção popular. É o hino oficial da Catalunha.

Honra aos ceifeiros ou segadores aos quais devemos o arranque para a recuperação da nossa independência. Bon colp de falç, amics!

 

 

 

Depois de termos ouvido a versão oficial do hino nacional catalão, ouçamos agora a versão histórica, cantada por Rafael Subirachs no festival «As seis horas de Canet», em 1975. Foi três meses antes da morte de Franco, a ditadura estava moribunda, mas vigorava ainda. A ânsia de liberdade florescia por toda a parte. Subirachs cantou «Els segadors» enganando a censura. No final da sua interpretação a frase «Segueu arran!» ( «segai rente» ou «cortai pela raiz»), entre os gritos da multidão pedindo a liberdade. Este vídeo conserva toda a força e emoção desse momento histórico.

O dia mais longo da nossa História

 

 

Em 1995, uma simples afirmação do então presidente Mário Soares, demoliu um mito propagandístico velho de mais de um século. Para grande desespero ou despeito dos sátrapas e escribas do pensamento oficialista, Soares justificava a sua participação como P.R., na cerimónia de Estado em que consistiu o casamento dos actuais Duques de Bragança. Acompanhando naquele importante momento um amigo de décadas, M. S. declarava também estar Portugal a prestar uma homenagem à Casa de Bragança pelos relevantes serviços prestados à Pátria, à sua liberdade e independência.

 

 

Ficaram assim soterradas as grandes tiradas retóricas das Conferências do Casino, os Finis Patriae que culminaram com o Crime no Terreiro do Paço e as justificações fastidiosas, incipientes e vazias de conteúdo histórico escritas por um Oliveira Martins que sendo um impenitente idealista, vergastou a dinastia para acabar por nela reconhecer, sob o turvo prisma do cesarismo, a redenção de Portugal.

 

 

Todas as velhas nações possuem as  datas que calendarizam glórias passageiras, aquelas que ingratamente  o tempo condena ao posterior olvido pelas gerações que não as viveram. Os desastres das batalhas perdidas são frequentemente compensados pela gesta de uns poucos  – o Decepado, o Soldado Milhões ou um D. Sebastião –  que souberam bem morrer ou resgatar a periclitante honra dos outros, que ausentes do campo onde de pé se morria, nem por isso se sentiam menos atingidos por uma tragédia ainda não percebida, mas que inexoravelmente sobre as suas cabeças faria tombar a vingativa espada do inimigo.  Os grilhões apostos aos conquistados, seriam então exemplar justificativo e testemunho do espírito de sacrifício. Santificava-se desta forma aos olhos de um misericordioso Deus que do alto velava pelo seu povo e lhe forjava no ânimo, esse querer de libertação e do retorno a um perdido mas não esquecido tempo, onde a Lei dos naturais conformava a espontaneidade de um sentido de pertença à comunidade, a Grei.

 

A Monarquia Portuguesa criou a nação que somos e essa identidade tem sido ao longo das centúrias, plenamente justificada através de nebulosos e por vezes lendários indícios da especificidade das populações que foram consecutivamente ocupando o território que ainda hoje se chama Portugal. Os lusitanos, os conventos romanos e a criação do primeiro mas efémero Império Ibérico, erguido pela força guerreira visigótica, enraizaram nas mentes daqueles que lhes sucederam, essa certeza do direito à constituição de uma entidade territorial distinta daquelas outras com quem ainda partilhava o idioma e mais importante ainda, a Fé.

 

14 de Agosto de 1385 consistiu talvez, a data a partir da qual este país deixou para sempre a contraditória e incerta condição estatutária  de uma parte independente de uma grande Galiza. Essa confusão decorrente do próprio processo de criação do reino no século XII, ditava uma aparente edição localizada e muito particular do feudalismo que imperava além Pirenéus e que das suas faldas se estendia até à foz do Niémen.  Um qualquer acaso sucessório derivado da morte de um monarca sem descendentes, ou um negociado matrimónio que forjava uma outra realidade política na Respublica Christiana, modificava então as sempre frágeis fronteiras e no tempo fidelizava os povos à nova dinastia. Aljubarrota foi importante, servindo de marco ao reconhecimento do interesse específico  das …"muitas e desvairadas gentes"… que viviam  naquele espaço criado jurídica e perpetuamente pelo tratado de Alcanizes. Os portugueses tinham como cumprida a sua parte na Reconquista da terra outrora cristã, há séculos avassalada e subjugada pelo invasor que viera do outro lado do mar, com desconhecidas línguas, estranhos costumes e exótica divindade.

 

Pela primeira vez uma vitória militar colocava em definitivo, a realidade territorial Portugal, no palco de uma Europa que perdidas as ilusões de uma reunificação que fizesse ressurgir o cristão império romano, levava os seus reis, príncipes ou republicanos condottieris, a gizar alianças, garantindo a sua supremacia sobre rivais e vizinhos. No entanto, Aljubarrota consistiu no culminar de um curto e turbulento período de realinhamento interno de forças políticas, económicas que confluíram no interesse pela preservação da independência que surgia como a essencial condição da prosperidade e realização pessoal de quem mais podia e o repúdio por todos os demais, de um poder estranho e até então considerado inimigo.  O 14 de Agosto escancarou as portas  daquele sentido de urgência de acrescentamento do domínio, cumprindo-se assim simultaneamente, o brado "Deus o Quer" de uma cristandade que tudo podia justificar.

 

A chegada de Gama à Índia, a descoberta do Brasil – uma das grandes e actuais razões do nosso direito a existir como Estado  e inegável símbolo da grandeza histórica de Portugal – e aquela ininterrupta série de espantosas, mas hoje infelizmente esquecidas vitórias nas quentes águas do Índico e do Pacífico ocidental,  podiam almejar ao título da mais importante data da História de Portugal. Contudo, se nos tornaram para sempre visíveis perante um mundo que até então nos ignorava, não foram suficientemente prenhes de consequências que garantissem aquela certeza de pertença e de necessária preservação de um legado já antigo de quase meio milénio.

 

A morte do vate nacional, Camões, num hipotético 10 de Junho de 1580, quando os 
tercios
 de Alba implacavelmente escreviam uma nova página possibilitada pelo desastre de Alcácer Quibir, surgiu para as mentes dos românticos oitocentistas, como única e diamantina oportunidade de distanciamento de uma outra data, que para a totalidade do corpo nacional, servia de pendão de honra ao espírito de resistência que esmagara invasores, rasgara tratados iníquos e galvanizara o ânimo consagrador da liberdade desta nação que há muito era uma Pátria.

 

O dia 10 de Julho será então imaginado pelos seus promotores como a unanimemente aceitável efeméride que divorciaria os portugueses daquela clara manhã de 1640, em que o escudo de armas português para sempre se retirava da simbólica da União Dualista. Esta União – afinal sempre desejada pelos promotores republicanos do 10 de Junho de 1880 – baseara a sua legitimidade na força da espada e no ouro das moedas corruptoras e enlouquecedoras do espírito de discernimento de alguns. O fim último desta tentativa do radicar de um novo marco que seria assim considerado como o mais importante da História de Portugal, era o rebaixamento da dinastia que surgia como um mero e fortuito acaso ou recurso de um grupo de abnegados e bravos redentores a ela alheios.  Fantasiaram-se episódios de resistência do duque D. João e justificou-se a aceitação do Levantamento por parte dos Braganças, pelo "varonil ânimo" da castelhana duquesa D. Luísa de Guzmán.  Construiu-se habilidosamente o mito da indecisão e do espírito timorato daquele, que afinal pela sua prudência, sageza de pensamento e resolução na acção de estadista, garantiu o sucesso da Revolução. Arruinou materialmente a sua Casa, mas ganhou a coroa e a liberdade de Portugal como reino independente que pela força das armas e astúcia dos políticos, conservou o legado ultramarino que ao tempo interessava. É também a definitiva confirmação de um novo vector da nossa presença no mundo, que da Ásia transita para o espaço Atlântico onde ergueria um novo império, o Brasil, ainda hoje um grande entre os maiores.

 

Não cabe aqui o desfiar das desditas que para este país significou o seu achincalhar à condição de província de uma Grande Ibéria que estendia os seus braços à Europa Central, Flandres, Reno, Milão, ao sul da Itália e que transformava vastas regiões católicas do Sacro-Império, em simples dependências ou inevitáveis e subalternas aliadas.

 

1580 reduziu e inferiorizou um Portugal já imperial, com domínios que se estendiam das plagas norte-africanas às costas do Japão. Porto de abrigo e de comércio para todas as nações cristãs, Lisboa habituara-se à presença das alvas gentes do Norte e à colorida presença daqueles que oriundos da África, Índia, China, América ou zona malaia, provavam o senhorio reclamado pelos monarcas que ostentavam orgulhosamente o título de Senhores do Comércio e da Navegação na Guiné, Etiópia, Índia, etc. 

 

A permanente e férrea política de alheamento dos conflitos continentais que esmagavam populações, devastavam campos e semeavam a perniciosa semente da inimizade histórica entre vizinhos, fortificou a consciência da identidade nacional, a necessidade de com todos dialogar e comerciar e o direccionar dos esforços para a preservação e dilatamento do património territorial conseguido com tantos e custosos sacrifícios.

 

Existem algumas efemérides que embora sejam importantes marcos  e signifiquem o início de novas experiências políticas que uma mudança de regime implica – o 24 de Julho, o 5 de Outubro, o 28 de Maio ou o 25 de Abril -, não se revestem daquele transcendente significado que a palavra Liberdade no seu sentido mais lato – o da gente e o da Pátria como entidade política autónoma e internacionalmente reconhecida pelas outras – só é conseguido por aquele dia em que se restaurou a independência portuguesa.

 

O 1º de Dezembro de 1640 é a data mais importante da nossa História, pois se internamente consagra o desejo da totalidade de uma Nação que animicamente já o era há muito, internacionalmente consistiu na confirmação de uma necessidade desejada  por todos aqueles que combatiam uma prepotente e implacável hegemonia, cega ao direito das terras e das gentes. A Restauração foi saudada com efusão em boa parte da Europa e se para alguns consistiu numa oportunidade para o abatimento do Leviatã que há mais de um século ditava a lei nas relações entre Estados, para outros oportunamente surgia como ocasião para a consolidação do esbulho do património luso espalhado pelo mundo. A vontade e o sacrifício abnegado dos portugueses de então, desiludiu aqueles que apenas esperavam um passageiro e apetecido  contratempo  à imperial Espanha de Filipe IV e de Olivares.

 

O dia 1 de Dezembro de 1640, foi o mais longo da nossa História e prolongou-se por  vinte e oito anos de terríveis sacrifícios. Os portugueses bateram-se praticamente sós, contra as duas grandes potências de então – a Espanha e a Holanda -, vencendo uma nos campos de batalha da raia e a outra, a belicosa Batávia, nos mares, no sertão brasileiro, em Angola e nas longínquas paragens asiáticas.  A Guerra da Restauração foi um conflito em múltiplas frentes, onde o ferro da espada e a pluma dos diplomatas e dos grandes homens que juridicamente justificaram perante o mundo a libertação, se irmanaram num indissolúvel elo que garantiu o sucesso final. Se na Europa os terços lusos conseguiram rechaçar a coligação de nações que era o exército dos Habsburgos espanhóis, no além-mar Portugal defrontou e acabou por vencer o mais implacável, fero e traiçoeiro inimigo de que há memória. De facto, a luta contra a talassocracia e o poder financeiro da hostil e exterminadora Holanda, criou tantas e aprioristicamente inultrapassáveis dificuldades, que o resultado da emancipação foi por muito tempo incerto e geralmente considerado como condenado pelas chancelarias europeias, desde o Vaticano às monarquias do Norte. A França surge como transitória protectora interessada em tolher o movimento à sua rival continental que via desprender-se o mais precioso florão da sua coroa e a Inglaterra, baqueava na guerra civil, impotente para o pleno  cumprimento do papel que o velho Tratado de Aliança lhe ditava como obrigação.  Os portugueses – Portugal, um todo – para sempre tornou presente a sua condição de Estado, numa Europa que via nascer e desaparecer entidades políticas, conforme  a

vontade dos grandes do momento e desta ou daquela guerra perdida.  A  memória de 1640 reavivou-se naquela outra Restauração em 1808, quando pela primeira vez derrotado o invasor francês, a legitimidade erguida como bandeira pelo povo, fez saber à Soberania no distante Brasil, o apego da nação à sua liberdade entre as demais. 

 

Portugal inteiro o quis e assim o fez. Lutou, negociou, transigiu por vezes. Contra todos os prognósticos, restaurou a legitimidade do seu Direito e no trono colocou quem dele tinha sido pela força esbulhado em 1580. Venceu o irredutível ânimo de todos, irmanados no resgate de uma liberdade que justificava assim, a própria existência das gentes que alçando  o pendão da nossa terra, tornou seu o brado Liberdade! Liberdade! Viva  D. João IV!

 

É esta a lição dos nossos maiores e hoje, decorridos trezentos e sessenta e nove anos e num momento grave que compromete os ideais de 1640, devemos todos, monárquicos ou republicanos – mas para sempre portugueses – sentir como oportunas, estas palavras:

 

"Todos os que pensarem que o sonho dos fundadores e dos restauradores ainda está vivo, venham ter connosco; e se alguém questionar este crescente sentir do poder do povo, a resposta é hoje, como o foi no 1º de Dezembro: O rei  é livre e nós somos livres!"

 

 

De Natura Boliqueimorum, seguido de Velhos Dias Felizes

Imagem do KAOS

Há quase um mês que não tenho vontade nenhuma de escrever, mas posso explicar, metade, por causas naturais, outra tanta, por milagres da Fé, e vamos já aos milagres da fé: como, desde nunca, desde que me lembro, Portugal parece estar agora bem, o Governo não se sente, e aquelas calosidades que, diariamente, nos massacravam na televisão, desapareceram. É certo que há umas recaídas, porque ficámos com a suspeita de que Portugal era governados por sucateiros, “de facto”, e por pseudo-sucateiros, como Armando Vara, que não conseguia, por mais “Independentes” que tivesse frequentado, chegar aos esplendores de um verdadeiro sucateiro. Digamos, sem ofensas, que Vara estava para a Sucata como as cópias da Loja dos Chineses para os originais da Place Vandôme, e mais não digo. O País estaria, portanto, calmo, se a Maria, de Centro Esquerda, não insistisse em comportar-se, perante as mulheres da Cimeira Ibero Americana, como a doméstica de serviço, mas, nisso, ela até é um anti Vara, já que lhe veio na massa do sangue, e, quando levou a Rainha Sofia a ver a Paula Rego, mais uma das pedras negras do nosso imaginário, só lhe conseguiu fazer soltar um “sim, já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto…”, ou coisa parecida, que é o equivalente Borbón, do “coitadinhos, também precisam…” Um dia destes, o Barahona Possollo passa a rasteira à Megera da Paula Rego, que vive de feitiçarias, e diz que as figuras dela “são más (!)”, como se isso pudesse ser coroa de glória para um verdadeiro pintor, sobretudo para Goya, que ela bem tenta imitar, mas que, realmente, vivia sofridamente os horrores do seu tempo, ao contrário dessa doida, exilada em Inglaterra, e a tentar fazer-nos engolir, através de deslumbrantes aparatos técnicos, os quais a transformaram numa “deslumbrada”, o seu miserável imaginário de côdea rançosa, mas…, olhem…, até estou farto dessa, vinha era falar de um País, onde um governo de arrogantes se escondeu num canto, à espera de que a Oposição o faça cair, e de uma Oposição que se juntou, noutro canto, à espera de que eles fiquem à espera de que eles os façam cair. Acho maravilhoso, e vale cem sóisinhos a dançar, na Cova da Moura, perdão, da Iria, e poderia continuar assim, eternamente, não fossem os números do nosso descalabro financeiro e económico estarem inexoravelmente a rolar, como numa irreversível ampulheta. Vamos ter mais dois mesitos disto, e depois caímos na real, e vai ser muito mau. O que a Sinistra Alçada fez já é disso ameaço: a bruxa da Lurdes escondia o estrangulamento das carreiras em coisas do tempo da Casa Pia dela, como “titulares” e “excelentes”, e ainda me “ha dem” explicar o que seria isso no imaginário de porteira da outra, mas esta é pior, porque, com o seu sorriso de camelo, muito típico daquela estirpe de cínicas, já sacudiu a água do capote, e deixou-se de “excelências” e passou diretamente a falar de quotas ditadas por disponibilidades financeiras, astúcia velha desde Salazar, que é tirar o cavalinho da chuva, e deslocar as responsabilidades do Ministério da Educação para o das Finanças, velha retórica que nos colocou, durante todo o séc. XX, na Cauda da Europa. Há gente que está muito calminha, a acreditar na… “mudança“.

Mas não era disso que eu vinha falar.

Hoje… (deixa-me cá olhar para o relógio), sim, hoje, dia 1 de Dezembro, faz anos que Portugal decidiu que tinha, idiossincrática e definitivamente, um bom par de coisas que o separava, forever and ever, da Coroa Española, e concordo plenamente com isso: amigos, amigos, negócios à parte, e cada macaco no seu galho, de España, nem bom vento nem bom esquentamento, e assim teríamos rolado, se não nos tivéssemos transformado, com o Senhor Aníbal, de Boliqueime, no Caixote de Lixo da Europa. Os sucateiros e limpadores de toxinas que se lhe seguiram só aprimoraram a tendência, e isto está realmente mau, como Soares, um dos construtores da velha Europa Utópica, recentemente referiu. É mau, para uma velha Nação, que o seu destino final tenha permitido ser colocado colocado nas mãos de dois indigentes intelectuais, de duvidoso cariz moral e imprópria formação académica. Para acabarmos, ao menos que tivéssemos acabado às mãos de pés de seis dedos de um degenerado de sangue contaminado, como aconteceu em Alcácer-Quibir, mas nunca nos calcanhares dos “porreiros, pá“, da Cova da Piedade, e dos Diplomas da “Independente“.

Dia 1 de Dezembro de 1640, uma Maria, de então, decidiu que mais valia ser Rainha, por um dia, do que Duquesa, toda a vida. Em 2009, por volta da mesma data, dois badochas, mais uma outra Maria, decidiram que, afinal, sempre mais valia ser mulher a dias toda a vida do que cabeças erguidas, por uma só mais hora que fosse.

Um dia, que já esteve mais longe, voltaremos a sair para a rua, porque as nossas profundas padeiras de aljubarrota não perdoam a canalha desta estirpe. E eu estou, muito sentadinho, à espera desse belo dia.

(Assoprado no “Aventar“, no “Arrebenta-SOL“, no “Democracia em Portugal“, no “Klandestino“, na “Sinistra Ministra Isabel Alçada” e no “The Braganza Mothers” )

Coisas que não entendo

"A cantora colombiana Shakira propôs hoje à presidente da Argentina que o desenvolvimento infantil e a educação desde a primeira infância sejam temas prioritários na cimeira ibero-americana que terá Cristina Kirchner como anfitriã, no próximo ano."

Sim, é mesmo a Shakira. Aquela moça que canta e dança como se tivesse episódios regulares de espasmos musculares. Sinceramente pensei que era uma piada, porque continuei a ler a notícia que diz  que "As declarações de Shakira foram feitas numa cerimónia realizada à margem da XIX Cimeira ibero-americana, mas que contou com a presença de cinco presidentes que participam nos trabalhos da reunião de governantes de 22 países da Europa e América Latina e do secretário-geral ibero-americano, Enrique Iglesias". Shakira?!? Enrique Iglesias?!? Não, isto deve ser uma piada. Mas não! É mesmo verdade.

Primeiro leio que a Shakira destaca "a importância dos governos investirem nas crianças, considerando-as a base do futuro", propõe "que a educação das crianças até aos seis anos seja um dos temas em destaque", destaca "a importância dos benefícios para a sociedade alcançados com o estímulo das crianças desde os primeiros tempos de vida" e para finalizar remata que "investir nas crianças é investir na estabilidade, na segurança e na paz". Depois vou dar uma vista de olhos no novo teledisco da cantora e fico sem entender o que isto quer dizer. A única coisa que eu entendo é que, vindo de quem vem, estas declarações inserem-se mais que perfeitamente no conceito de coisas que não entendo. Mas é que não entendo mesmo.