As mulheres não gostam de nós

mulher a mandar no seu home

Com justa razão, parece-me a mim. Se lermos o livro de Durkheim de 1893, A divisão social do trabalho, podemos de imediato reparar que o mestre fala do trabalho social sem mencionar o trabalho doméstico em nenhuma das suas hipóteses como analisei no meu trabalho de 2007: O presente, essa grande mentira social, Afrontamento, Porto). Fala, e bem, do trabalho organizado conforme os costumes ou mecânica, e em obediência à lei ou orgânica (disponível em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Durkheim_emile/division_du_travail/division_travail.html). É verdade que escreve vários textos sobre o matrimónio, nomeadamente, no Egipto, Japão e Roma e da família conjugal. Mas a minha intenção não é a de analisar o que a ciência social diz sobre essa temática, é, antes, tentar entender o(s) porquê(s) de que a mulher pode não nos amar.

Assim, pretendo fazer falar os meus sentimentos, os dos meus colegas masculinos heterossexuais, e das felonias cometidas por nós em relação às mulheres. Fazer falar o coração e os factos sociais que tenho observado durante anos, nas minhas pesquisas e o que pensam outros autores que têm investigado a relação homem – mulher. Essa permanente subordinação da fêmea ao macho.

Estes dois adjectivos, retirados da forma de falar costumeiras nas nossas sociedades e em outras, denotam de imediato a minha ideia que dá título ao texto: as mulheres não nos amam. Eu, acrescentaria em sub-título: e com justa razão.

Porque é que me parece que as mulheres não nos amam? Pelo sítio social no qual a colocámos, sempre a servirem o homem com quem casaram, com quem vivem ou se amancebaram. Mulheres que sabem não serem as únicas na vida dos seus homens, que aceitam as traições que esse ser comete com outras mulheres ou com outros homens.

Nem todas andam com os seus homens nos sítios que são para homens.

Parece-me que Durkheim se esqueceu de um facto social que ele próprio, como judeu, praticava: havia a parte do chão para os homens, e um palco por trás, para as mulheres. É verdade que apareciam juntos, esses homens e mulheres, mas havia a entrada, como hoje em dia ainda acontece, para eles e outra para elas. Como entre muçulmanos e islamitas. Não era assim entre católicos romanos nem entre outras confissões cristãs. No entanto, tenho observado nos sítios onde estudo a mente humana, que nós, homens, ficávamos na conversa e a fumar no dia da missa dominical. O hábito era tão extenso ao longo do tempo histórico, que o pároco, mandava tocar um sino para avisar que a leitura do Evangelho ia começar. Missa sem essa leitura, não era válida para os romanos e o pároco era cuidadoso nos costumes. Assim era em Vilatuxe, Galiza, Vila Ruiva, Portugal, e Pencahue, Talca, Chile, essa cidade arrasada a 27 de Fevereiro último.

Nos terramotos, as mulheres assistem os seus assustados companheiros e os confortam: “Lindo, este calmo, ya vá a acabar!”, mas como nunca mais acaba, as mulheres, como me foi referido, há bem pouco tempo, pelo telefone, têm passado a ser as mães dos pais dos seus filhos. Homens e filhos, essa carga para a mulher que deve lavar as suas roupas, engomá-las e tomar conta das suas doenças.

Doenças que a mulher resolve enquanto trabalha porque sem entradas em dinheiro, os lares não se sustentam. Doença que o marido ou mancebo passa na cama e a ser cuidado pela sua mulher, que volta do trabalho, ou foge às vezes dele, para observar como se encontra o seu homem. Homem que passa a ser o bebé da sua mulher, excepto quando, doente ou não, arrebatado pela paixão, entra nela, e ela aceita pela tristeza que lhe causa a doença do dito garanhão. Garanhão que toma conta de si, enquanto a sua mulher trabalha, a beber e comer. É, diria eu, mais uma infantilidade do suposto senhor da família. O seu comportamento faz-nos lembrar o ditado português para curar enfermidades que diz: abifa-te, abafa-te, avinha-te. O que a mulher não faz: cura as suas doenças tomando conta da prole para não fazer barulho em casa que perturba o seu companheiro.

Os estudos, são outro exemplo do porque é que as mulheres não nos amam. Defino amor como essa paixão violenta que faz de dois, um, com um amor que é uma força da natureza. O homem que ama a sua mulher, toma conta dela permanentemente, a seduz, confia nela, porque, como entre conversas de machos sempre acontece, circulam as histórias das traições afectivas em procura de orgasmo fora do leito nupcial, o que a mulher parece não fazer, ou assim pensa ele. Se é verdade ou mentira, nunca vamos saber: como diz o refrão: o coração da mulher é um abismo de segredos que ela sabe guardar.

Estou a falar mal dos homens que tenho observado e analisado, não dos que faço parte. Não estou a desculpar-me, sempre fui fiel a quem amava, apesar de não se acreditar nessa fidelidade, por ser o macho, não apenas o latino, um procurador de libido satisfeita. E que bom procurador é, como tenho estudado, observado e lido de outras etnografias. O hábito de ter amantes fora de casa, advém já dos tempos da Roma pré imperial, porque na imperial era uma elegância ter a casa lar e a casa da amante. Petrônio (em latim: Petronius) foi um escritor romano, mestre na prosa da literatura latina, satirista notável, autor de Satíricon. Não existem provas seguras acerca da identidade de Petrônio, mas acredita-se que se trate de Caio Petrônio Árbitro (Gaius Petronius Arbiter) ou de Tito Petrônio (Titus Petronius, c. 27-66 d.C.), distinto frequentador da corte do imperador Nero.

É como se todos os homens do mundo tivessem lido o Satiricón, que estimula o amor galante e enaltece esse nada fazer em casa: nem comida, nem limpeza, nem tomar conta das crianças.

É evidente que estou a falar de seres humanos de escassos recursos, cujo prazer era mandar a mulher a ganhar o pão, enquanto ficava em casa, na taberna ou no café com os amigos. Mas em classes mais poderosas, acontem factos semelhantes, guardados no segredo do casal e da sua família. A liberdade para a mulher não tem existido por causa da insensatez masculina. Entre as classes mais abastadas, trocam-se histórias de amantes, acede-se a casas especiais, em grupo, como acontece entre os meus amigos e colegas. Ou em sítios como a hoje arrasada cidade de Talca, com casas que albergam crianças de quinze anos, para o prazer do todo-poderoso. Casas que visitei para ver o que e como acontecia, como relatei no meu livro do ano 2000: O saber sexual das crianças. Desejo-te, porque te amo, Afrontamento, Porto. Verifica-se a prostituição dos mais novos com adultos por dinheiro, como na Madeira, como na Bélgica, Santiago do Chile, ou Paris. Parece que o mundo anda para trás.

Como pode uma mulher amar a tão destemida besta?

Quer o leitor mais provas? Leia Bronislaw Malinowski, leia Lewis Morgan, leia Maurice Godelier, David Herdt, Wilfred Bion, Melanie Klein, Georges Devereux ou o meu livro de 2001: O caos da criança, Livros Horizonte, Lisboa.

A criança vive dentro desse caos onde existem rixas entre pais, exemplo de trabalho na mãe, bebedeira às tardes, no pai.

A primeira a deixar de nos amar, parece ser a mãe dos nossos filhos, essa Senhora que acredita que todo o homem tem duas ou três mulheres, esse que em casa nada faz, e diverte-se com os seus amigos enquanto a mãe fica em casa a limpar. Entre o proletariado, a taberna; entre os mais requintados, o Rotary Club ou o internacional Clube da la Unión.

O pior dos castigos é esse pensar da mãe dos nossos filhos, que somos todos iguais. Estamos condenados. Após poucos anos de união, o homem desabafa as suas tristezas fora de casa; a mulher, que as tem e muitas, com a mãe, as irmãs ou as amigas.

Mais nada acrescento. Apenas lamento não ter sido amado pela mulher da minha vida e ter que assumir a divisão da família: os que a apoiam e os que pensam que sempre fui um homem fiel.

A primavera deve estar a começar. Pelo menos em mim. Começo a sentir nos meu já inúmeros anos de vida, a primavera a entrar no meu coração. Porque, perto da morte, há quem colabore comigo…por amor… e solidariedade.

As mulheres não gostam de nós, deitam-nos fora. Inventam histórias nunca acontecidas e somos abandonados por causa das formas culturais de amar. Caóticas…

Mas, sem saber como e quando, uma fêmea me arrebitou. A vida entre homens e mulheres, é caótica. Chamo à atenção os homossexuais e lésbicas, porque em matéria de emoções, somos todos iguais….suspeitamos…