educar

para educar uma criança, é necessária a tribo inteira

Actividade que parece simples de pensar e usar e, no entanto, é a mais complexa das actividades que existem na interacção humana. Parece-me ser a transferência de saberes de uma a outra geração, gerações que não partilham a mesma cronologia pelo que em qualquer grupo social há os que ficam em casa, os que vão à escola ou universidade e os que vão trabalhar. Outra complexidade da acção educar, é que varia conforme as sociedades, as suas formas de comportamento ou culturas, conceito que defini, em 1974, como a orientação do comportamento conforme a lógica dessa cultura, ou seja, a religião. Não a prática da fé, mas sim a ética usada na relação entre as pessoas.

Acrescentaria neste ensaio que educar, para nós, cidadãos do mundo ocidental e do Século XXI, é um conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito. No entanto, o verbo educar, foi definido por Durkheim em 1912 no seu texto Les formes élémentaires de la vie religieuse, Félix Alkan, 1912, Paris, texto que, entre outros sobre educação e pedagogia do mesmo autor, pode ser lido aqui. Porque escolhi este para falar de educação? Os outros são abstractos e inventados. Este, refere formas totémicas de educar na Austrália, entre a etnia Arunta ou Aranda, com dados recolhidos da vida real, do quotidiano, onde impera a organização social para entender o que é educar. Como acontece entre nós.

O leitor poder-se-á perguntar o que tem a ver a educação Arunta com a nossa? A resposta é simples. Educar, entre nós, começa desde o berço, se houver ascendentes que se importem com a educação da criança. Não foi ao acaso que escolhi a imagem que ilustra o texto. Há um suposto pai que lê com os seus supostos filhos. O que lê, de certeza são histórias que interessam às crianças porque estimulam a sua fantasia, especialmente se o estímulo advém de uma pessoa que amamos e confiamos, sabemo-lo mesmo sem pensar, pois é apenas um sentimento, porque quem se interessa pelo nosso saber é quem nos ama e em nós confia. A escola é apenas um instrumento criado pela burguesia para transferir as ideias de como ser cidadão, os deveres que devem ser cumpridos, as autoridades a respeitar, o nosso passado, os rituais da nossa cronologia, como esta comemoração dos cem anos de sermos República e outros saberes considerados científicos, ou conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos. Princípios, causa primária ou base, fundamento, origem de um fenómeno, actividade, lógica, cálculo, saber que nos é impingido, aprendamos ou não, em grupos largos de estudantes em sala de aulas e retirado de livros de textos de pessoas que investigaram os fenómenos e nós aprendemos, como também passamos a saber como se faz a descoberta da origem do fenómeno. Fenómeno ou tudo o que está sujeito à acçãoação dos nossos sentidos que nos impressiona de um modo qualquer (física ou moralmente) e precisa de uma explicação. Explicação que nem sempre é possível ensinar na escola, os seus transmissores (homem ou mulher) são pagos para transferirem os princípios do fenómeno a uma multidão de ouvintes, a partir de livros estudados antecipadamente, porque a descoberta dos princípios deve-se a outros. É em casa que educar se complementa, onde há carinho, paciência, simpatia e divertimento, onde os ancestrais lêem com os seus catraios as fórmulas que, se é adequada, converte os seus pequenos em doutores a longo prazo. Educar é uma actividade que se desenvolve ao longo de toda a vida: sempre aparecem novos princípios que, se não forem ensinados, ficaríamos dentro de uma sociedade estanque. O saber do lar é o complemento da escola. Especialmente hoje em dia, em que a crise económica que envenena a nossa vida, porque os patriotas portugueses investem a sua riqueza em Angola, Iraque, Irão, entre outros sítios, como o México, tem aglomerado dezenas de estudantes em agrupamentos escolares. O Estado poupa, ao não colocar professores que permitiriam a diminuição do número de alunos por sala e, consequentemente, o acolhimento de grupos menores possibilitaria o debate e as tutórias; poupa nos salários, nos subsídios e poupa, até, na taxação desses subsídios.

Donde, redefino educar: é a orientação económica distribuída pelo Estado de uma Nação para ganhar credibilidade ao aumentar o PIB. Já não posso mais defender que a religião é a lógica da cultura, como o tenho feito, mesmo neste sítio de debate, ao longo dos últimos anos.

Completamente diferentes são os sábios Arunta; escolhem os pré-púberes, um grupo de pessoas sagradas ou Aletunjas e durante um prolongado período de tempo, ensinam-lhes onde estão os ovos e as larvas, base da dieta alimentar deste povo nómada, que constantemente se desloca em procura de caça e de água. O Governo Britânico Australiano não perturba a sua forma de vida por serem cidadãos que colaboram na educação dos mais novos, e, sempre que possível, envia jovens britânicos que aprendem botânica, zoologia e economia ao saberem poupar em comida, respeitando os ciclos sagrados do futuro alimento (nascer, crescer e reproduzir)

Educar, enfim, é, entre nós, uma corrida à poupança no desenvolvimento da nação, que para estar na Graça da Salvação, investe em submarinos, TGVs e outros artefactos. Como a nossa República está endividada, nomeadamente pelos investimentos atrás referidos, encurta salários, despede pessoas da necessária administração pública, passando o Educar, para quarta ou quinta preferência do actual poder executivo, que em breve deve perder a sua Soberania porque vão aparecer os membros do FMI, da OTAN, da EU, para fiscalizar….os nossos investimentos! E o poder Executivo…aceita.

Bem sabemos que não sou homem de fé, mas este desgoverno brada ao Céu…!