Fátima

(adão cruz)

 O amigo J. Mário Teixeira colocou num post anterior a este, um vídeo do Padre Mário de Oliveira, sobre Fátima, e dedicou-o à minha pessoa. Eu disse-lhe que ele já conhecia os meus gostos e desgostos. Agradeci, não porque eu tenha prazer em coisas amargas ou em fenómenos sociais negativos, mas porque se trata de um impressionante exercício de lucidez e de uma acutilante denúncia de uma das maiores patranhas do século XX.

 Um vídeo que põe em destaque a abissal diferença entre a mentalidade obsoleta que vigora dentro da igreja e a sanidade mental de um padre que luta, à sua maneira e dentro da sua crença, contra as trevas do obscurantismo.

 Em nada me interessa a Igreja católica em si mesma. Porém, como cidadão, não posso ficar ao lado dos fenómenos que afectam, positiva ou negativamente, a sociedade e a humanidade. Desde há muitos anos que me arrepia o paganismo que se fabricou em Fátima, a monumental impostura que se ergueu no nosso país, e a empresa lucrativa em que a fé se transformou.

 Sou médico há quase meio século, tive na minha frente toda a espécie de pessoas, desde a mais ignorante à mais sábia. Respeito tanto os ignorantes como os sábios, os cultos e os incultos, mas não tenho o mínimo respeito nem contemplação pela ignorância e pela incultura. Tenho amigos e doentes que são padres e freiras, a quem respeito e que me respeitam também. Mas não sinto respeito pelo trabalho de quem quer que seja que se dedique, de uma maneira ou de outra, a cultivar a ignorância, a escamotear a verdade e a anular a razão. O maior crime que se pode cometer contra o Homem não é matá-lo mas tapar-lhe os olhos. Ao matar o Homem não se mata a ideia. Ao tapar-lhe os olhos mata-se o Homem e a ideia.

 A mensagem do verdadeiro Cristo, a mensagem de libertação do Homem nada tem a ver com isto. Ao contrário, a igreja explora e expande todos aqueles conceitos arcaicos que sempre contribuíram fortemente para a exploração e a repressão, liderando falsamente e sofismaticamente a luta pelos fracos, no terreno fértil de uma humanidade sofredora, aterrorizada e inculta, vítima maior desse mesmo poder que sustenta e sempre sustentou a Igreja.

 Entre a mentalidade e a verdade de monsenhores, rotulados de catedráticos, entre as habilidades retóricas, os rendilhados e emaranhados raciocínios de homens inteligentes dentro da igreja que até escrevem nos jornais e falam nas televisões, entre as palavras de homens bons dentro da igreja, palavras, no entanto, fundidas numa incapacidade de definição e de posicionamento quanto à etiopatogenia dos males da humanidade e à crítica da Igreja, entre tudo isto, repito, e a reflexão, a coragem, a lucidez, a clareza e a serenidade do Padre Mário de Oliveira vai um abismo.

 Nesse vídeo, duas coisas me impressionaram sobremaneira. A primeira é uma pergunta a que automaticamente somos levados, e que se encontra implícita em todo este relato: Será possível que homens inteligentes dentro da igreja embarquem nesta tão primária encenação? Ou andam a fazer de conta? A segunda é a abordagem de uma vertente da qual eu não me havia apercebido. Duas crianças “videntes”, levadas a uma fragilidade física e mental imposta por terrores, medos e sacrifícios inqualificáveis, que lhes facilitaram a morte prematura. Uma terceira criança enclausurada e condenada a prisão perpétua.

 Penso que muitos milhares já viram com ansiedade e agrado esta esclarecedora e corajosa denúncia contra uma das maiores fraudes do século, co-responsável – a par de tantos outros mecanismos de anestesia mental que o poder detém ou inventa – pelo atraso do nosso povo e da nossa sociedade. Se não viram, vejam, que vale a pena.

 A Igreja católica historicamente enrodilhada num mar de escândalos e de obscuras e complexas ligações, adquiriu tal poder que já perdeu todos os escrúpulos, já não consegue voltar a trás e dar a mão à palmatória, nem se importa que o produto que fabrica seja o antídoto de tudo aquilo que pretende proclamar. Com efeito, a Igreja deve ser hoje a maior fábrica de ateus.

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