Ao querer centrar as culpas apenas em Sócrates – e ele é um dos máximos culpados, mas não o único – pratica-se um acto de branqueamento de outros altos responsáveis pela situação económica a que Portugal chegou. Em editorial de hoje, o ‘El País’ é certeiro na análise, quando diz:
A sociedade portuguesa enfrenta agora uma situação paradoxal. A ajuda financeira da UE não significa que os problemas económicos do país tenham terminado; apenas se evita uma situação pior para a insolvência do país, falhar pagamentos. Em troca do resgate europeu, a economia portuguesa terá de aplicar um programa drástico de ajustamento, similar ou mais duro do que o plano de Sócrates reprovado no Parlamento.
O epicentro do pedido de resgate foi o sistema financeiro, com particular protagonismo dos banqueiros; banqueiros estes que, com afiada ganância e em concertação com os grandes empreiteiros de obras públicas e sociedades advogados, inundaram o Estado de dívidas de PPP’s e outras – o actual PR foi quem, como PM, inaugurou a moda em Portugal. Outros seguiram-no. Já aqui, em Janeiro passado, chamávamos a atenção para o facto de haver banqueiros interessados na entrada do FMI em Portugal.
A economia foi engolida pela onda de alienações a estrangeiros de unidades industriais e da destruição das produções agrícolas e pesqueiras. O turismo, o comércio dominado pelas grandes superfícies, mais as exportações da Auto-Europa, de uns vinhitos, de cortiça desvalorizada e ainda uns trocos formam parte substancial do nosso PIB .
É, de facto, na economia, que reside o grave problema da incapacidade de criação e distribuição de riqueza do País. E com as medidas que o duo UE-FMI nos imporá, é difícil a Portugal, nos próximos 5/10 anos, aumentar significativamente o PIB, impedir a expansão do desemprego, das falências e de outras calamidades. Numa frase, impossível evitar uma prolongada recessão.
Este mundo da macroeconomia é comparável ao princípio do veredicto da gravidez: “ou a mulher está grávida ou não está”. Dr. Passos Coelho, em finanças e macroeconomia, é falta de rigor falar em ‘quadro de ajuda mínimo’. Não há meias-grávidas. As necessidades são aquelas que autoridades e sistema financeiros vierem a determinar, sendo certo que o PSD, tanto como o PS, será sempre conivente nos sacrifícios a pedir aos portugueses.
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