Desenvolvimento e paz

     Dizia Churchil que a democracia é  o menos mau dos sistemas políticos.  É  verdade.  Tem defeitos e falhas,  como tudo o que é humano, mas tem vantagens incontestáveis sobre as ditaduras. Também se diz que a democracia é um  sistema político caro porque as  suas decisões  obrigam a debates e consensos,  não são tão rápidas como  as  imposições das ditaduras.  É  igualmente verdade.  Mas  a crítica,  unilateral,  vem dos que não querem ter o trabalho  de pensar  pela sua cabeça,  de participar activamente na coisa pública.  Exige civismo 365 dias por ano, 24 horas  por dia. É uma vocação  de bem comum,  de solidariedade,  de construção  cultural assente em liberdade  e respeito pelo próximo.

     Todo o ser humano tem direito  à  educação, à saúde, à habitação, ao trabalho,  à  livre expressão  dos seus pensamentos,  à associação na defesa  dos seus legítimos interesses –  seja qual  for a sua raça, religião, sexo,  orientaçao sexual,  opção  política  e  país de origem.  Não é preciso ser crente ou pertencer a  uma religião  para se saber que é assim.   Basta ser decente.

     No nosso sobressaltado  mundo  não está  a ser assim,  mesmo em países  que se dizem democráticos.  Digamos que, no  nosso mundo,  e nesta hora,  não  há verdadeira paz,  há  uma  espécie de guerra civil  larvar,  de que são  boa prova as crescentes manifestações de indignados em vários países.  Não  pode haver paz onde não há justiça.  Porque  é  injustiça  de bradar aos céus  espoliar os pobres e empobrecer a  classe média  para  enriquecer cada vez mais os ricos.  É injustiça  pura e dura não repartir equitativamente os bens que são de todos.  A  Terra é de  todos  os homens,  cada país  é  de todos os seus cidadãos,  não  são  propriedade privilegiada   de uns quantos.

     Para que assim se cumpra, para que  haja paz,  é preciso que  haja desenvolvimento,  criação  inteligente de riqueza,  isto é,  não  permitindo  o  desrespeito pela natureza  e a  ganância  corrupta.  Podem ter um  radioso  presente a China e a India,  para  não  citar alguns países africanos, mas o  seu futuro está   comprometido  pelos desastres ecológicos  e pela corrupção  galopante,  pelo  fosso cada vez mais fundo  entre ricos e povo  em geral.  O  desenvolvimento é  um dos  pilares da democracia  e  da paz,  quando se põe  a  economia  ao serviço  dos homens e não  os homens como servos da economia, ajoelhando-os  ao peso da carga fiscal sem equidade nem ética  política. Não há  paz social possível  onde  houver roubo  impune.

     Nos dias que correm a Europa e os Estados Unidos da América estrebucham nas dificuldades originadas pela  incoerência e a indecência.  Os grupos extremistas,  de direita e de esquerda, atiram-se como gato a bofe  aos imigrantes e ao  multiculturalismo. Fazem-se esquecidos que foram eles, os arautos  do capitalismo  selvagem (o  liberal sem controlo nem regulamentação) e  do capitalismo de estado  (comunismo) os grandes  culpados dos  milhões de pessoas, desesperadas e famintas,  terem  emigrado.  É que   ninguém  emigra por gosto,  ninguém deixa  o seu país sem sofrimento.  Que fizeram  esses países  poderosos?  Ajudaram  de alma  limpa esses povos a adquirirem formação  profissional que lhes permitisse  desenvolver os seus países,sem   peciarem de partir em busca de pão  e educação?  Nada disso.  Sugaram esses países,  esses povos,  através  de empresas  que, em  muitos casos  foram  verdadeiros predadores,  empobreceram mais e mais esses países e povos. Deram-lhes depois  de emigrados o trabalho que os seus nacionais não querem fazer  e  umas campanhas humanitárias quando há vagas de fome. Tudo  isto  tem sido  possível porque  os governantes dos países atingidos por esta calamidade não  passam de lacaios  do grande capital ganancioso, em troca de fortunas insultosas  enquanto os  seus povos estoiram de  miséria.  Não têm os  grandes  países ocidentais que se admirar quando esses imigrantes vandalizam com violência as cidades  dos países ricos.  É  oportuno lembrar Brecht: “Do rio que tudo arrasa  se diz que é violento, mas ninguém diz violentas  as margens que o oprimem”.

     Se queremos não caír numa guerra mundial,  precisamos de mudar  de  política e de políticos.  Temos de acabar  com a regra apontada por  um chefão  mafioso,  por alturas do escândalo do Banco Ambrosiano:  “As finanças são  a arma,  a politica é  o  gatilho”.  Mas  como  o  mundo  é  vasto,  temos de começar por  pôr em ordem  a  nossa casa,  a  nossa  terra.

     Fernnanda Leitão

Comments

  1. Roemio says:

    Gostei muito

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