Encontrei um pedacinho de papel entre as folhas de um Moleskine: um recorte da rubrica «Escrito na pedra» (jornal Público). Não sei desde quando…
A frase é do célebre escritor argentino J.L.Borges (1899-1986):
No passado cometi o maior pecado que um homem pode cometer: não fui feliz.
Mas eu sei uma frasezinha (que é o poema inteiro assim só num verso) que creio ser de juan Ramon Jimenez que diz (perdão se não escrevo castellhano)
Solo lo hiciste una vez pero ficou de pedra hiciendo-le para siempre
acho lindo
Há quantos anos não pego em JRJ que comprei antes de ser Nobel
E se calhar estou enganada já que comprei JRJ e ???? na mesma altura – ai quem é – conterrâneo de António Machado ??? Ai Garcia LLorza (ais tarde Nobel não sei quando mas porque não vejo os livros não recordo em que anos foram já que escrevi a data mas a memória não ajuda
A infelicidade é sempre exagerada pelos felizes.
Gostei.
Também eu rabisco umas coisas no moleskine. Aqui e ali. Minhas e dos outros. Hoje, ao ler a Maria do Céu, lembrei este, escrito na chuva de um dia quase morto de 2009.
à busca das palavras
pois… sou tinta…
… mas venho do sangue, que o fiz sem pais, órfão desde bebé.
… mas venho da gleba, porque nasci de dedos sujos na terra dos outros.
… mas gizei-me, forte e poderoso, porque tenho esta voz que resume a pacatez dos sítios donde venho e a grandeza dos que se fizeram alguém.
Fora isso, eu quero não querer, porque tudo o que me foi dado foi sofrido. Sempre. Até o amor!
Poderemos nós ser felizes quando assistimos a tanta Iniquidade
por parte dos poderosos, quando crianças morrem por falta de cuidados básicos, quando vemos governantes aumentarem a sua fortuna pessoal enquanto deixam morrer de fome aqueles que jurou defender, quando a aleivosia, a infâmia e o egoísmo são as mais vincadas características da sociedade em que vivemos? Eu não consigo ser feliz se a meu lado morar a miséria e o infortúnio. Mas parece-me que o chique e o moderno é cada um olhar unicamente para o próprio umbigo e quem não estiver bem que imigre. Eu não tenho vocação para estes conceitos. Sou antiquado.
“Poderemos nós ser felizes quando…”, por exemplo, nos deparamos com isto:
http://www.hangthebankers.com/children-of-the-drone/
Não conseguimos, pois não?
Esta é a generosa e democrática contribuição ianque para o bem-estar e a paz entre os povos. Cada era tem o seu Átila…
MAGRIÇO, não conseguimos ser indiferentes a tudo o que aponta. Nem ser sensível a isso é ser antiquado. O que eu entendo da frase de Borges é o seguinte: ser feliz naquilo que depende de mim.
Mas, como muito bem diz a Céu, podemos constatar, sim, a nossa felicidade particular. E podemos, comparativamente, sopesá-la e tomar consciência do seu elevado valor… e a esse valor podemos imprimir energia… e com essa energia mudar, felizes, o que em torno de nós faz os outros infelizes.
Eu percebi, Céu. E se deixei alguma dúvida de uma hipotética crítica, penitencio-me desde já. É que, para mim, é difícil conceber a felicidade individual abstraindo-me da infelicidade alheia. O conceito de Fernando Pessoa “O mundo é de quem não sente! A condição essencial para se ser um homem prático
é a ausência de sensibilidade”, infelizmente não deixa de ser verdadeiro nos dias que correm e para um determinado extracto, mas eu não consigo aceitar o modelo assim como não pretendo impor qualquer outro a quem quer que seja. Cada um tem direito à sua própria felicidade e, como não tenho certezas absolutas (até se pode provar, matematicamente, que 1 = 2!), não sei mesmo se será certo que a felicidade alheia condiciona a nossa.
Caro MAGRIÇO, fiquei a pensar no que escreveu da 1ª vez. Existe um livrinho que se chama Felicidade: Um trabalho Interior (John Powell). Ele diz que temos que assumir total responsabilidade pela nossa felicidade. Esperar que ela venha de outras pessoas ou de coisas exteriores é percorrer um caminho errado. Felicidade: uma busca permanente. Abraço.
Estou de acordo, Céu, que cada um deve procurar a própria felicidade. Mas acho que estou com alguma dificuldade em fazer passar a minha mensagem e peço desculpa de não conseguir ser mais claro. Eu não sou de esperar que os outros resolvam os meus problemas, gosto de ser eu a pegar na roda do leme. O problema é que, mesmo que siga a rota correcta, não fico feliz se vejo os outros barcos a encalhar nas rochas. Portanto, eu não dependi de terceiros para dirigir o meu barco, tomei o rumo certo, mas a infelicidade dos outros timoneiros impede-me de tirar o prazer que esperei que a navegação me proporcionasse e pode, até, deixar-me deprimido por algum tempo. Pode haver – quase de certeza que há! – quem tire prazer da infelicidade alheia e que até fundamente nela a sua própria felicidade, mas não serão exemplos muito edificantes.
Retribuo o abraço.
Gosto é da parte do Moleskine, sempre dá um ar fino e intelectual ao que lá se rabisca
Se fosse num caderninho do chinês não era a mesma coisa, claro
Em toda a minha vida só comprei um Moleskine. São pequenos luxos… Que mal tem imaginar-nos um Chatwin ou um Sepúlveda? São cadernos bem bonitos, com bolsas, marcador, elástico e muito bem encadernados. Chatwin deu origem à inscrição que se encontra na 1ª página: “in case of lost, please return to: ” ” As a reward : $” !
Um caderninho chinês ou outro barato, qual é o problema? O que conta é o que está dentro!
Como diria o Ramalhe Eanes, com um Moleskine é muito mais fine
Peço desculpa a todos os comentadores, mas estive a pensar melhor e emendei o título do post. Passei o «é» para traz de «pecado» e parece-me agora melhor a frase!!!
É pecado é
Ma. do Céu,
Duas grandes qualidades teve Borges na frase:
a) Não computou à terceiros sua falta de felicidade (ser feliz é escolha. o contrário também), já que temos tanta pena de quem julgamos profundamente infelizes e às vezes não por própria ‘escolha’ não o são.
b) Reconhecimento do fato em tempo de tentar aliviá-lo com alimentos funcionais (Serotonina e Dopamina – que é o que conta para o prazer de existir).
Abaixo um coment. que deixei no Blog do teu seguidor Beto Bertagna, no post “Mais vale um byte ou um por de sol?”, há poucos dias – onde também se fala (eu falo) s/ Moleskines :
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(*) Existirá uma terra, tipo o “Tártaro” , para onde vão e se escondem (ficam rindo das nossas caras/buscas vãs?) todos os caderninhos, bloquinhos, agendas, diários, “moleskines” e ‘filofaxes”, quando deles mais precisamos? Um rodada de Vivas para os guardanapos de papel e as bolachas de chopp (só as secas!)…. que sempre nos salvam!
Belo texto, Beto, pelo qual agradeço.
Unquote
Fique bem, Norma