Futebol é outra coisa

bolaPenso que nunca escrevi sobre futebol, mas já tenho escrito, várias vezes, sobre a futebolândia e sobre o futebolês. Mesmo sabendo que se trata de um negócio, com todas as sarjetas que isso implica, e mesmo torcendo pelo meu clube, não há milagres: quem joga melhor ganha mais vezes e quem joga melhor mais vezes ganha campeonatos.

Este ano, duas equipas jogaram o suficiente para serem campeãs. Uma delas foi um centímetro mais consistente e mereceu o primeiro lugar. Viva o Futebol Clube do Porto!

Entretanto, para lá do futebol, são raros os que conseguem manter a grandeza ou o desportivismo . Há muitos candidatos à descida de divisão. Embora ficasse melhor a Jorge Jesus dar os parabéns ao campeão, a verdade é que Vítor Pereira, sempre que esteve atrás do Benfica, teve declarações infelizes, pelo que estão bem um para o outro. Foi assim o ano passado e voltará a ser para o ano, bastando trocar nomes e cores.

O adepto futebolês, tal como qualquer treinador, jogador ou dirigente, é diferente dessa raridade que é o amante do futebol. Os primeiros são meros coleccionadores de casos de arbitragem e, no fundo, detestam desporto, especialmente o futebol. Não deixam de ser, evidentemente, exemplares que têm tanto de cómico como de assustador, conforme as circunstâncias.

Vítor Pereira, no JN, explicou, ainda, que este título se deve às qualidades das gentes do Norte. Não sei se estaria a referir-se a João Moutinho, a Helton ou a Jackson Martínez, mas, mais uma vez, o excelente treinador do Futebol Clube do Porto não soube encontrar uma expressão à altura das qualidades do clube que representa. A verdade é que, em primeiro lugar, o FCP tem adeptos fervorosos em todo o país. Para além disso, talvez por ter vivido em várias regiões de Portugal, faz-me impressão este sucedâneo de racismo que imagina superioridades regionais. Mais um bocadinho e poderíamos ouvi-lo a chamar magrebinos aos adversários.

No próximo Domingo, voltarei a ser um benfiquista à procura da alegria possível, ainda e sempre admirando os artistas, mesmo quando, raios os partam!, não me deixam ser feliz. Deixo os árbitros a quem não gostar de bolinha.

Comments

  1. “Este ano, duas equipas jogaram o suficiente para serem campeãs. Uma delas foi um centímetro mais consistente e mereceu o primeiro lugar. Viva o Futebol Clube do Porto!”
    Posso subscrever?!

    • António Fernando Nabais says:

      Eu sei que já subscreveste, malandro!

      • Claro! Uma coisa é a pica, outra o sermos nós. Foi por te admirar e admirar – e subscrever tantas vezes – o que escreves que, no sábado, não me esqueci de ti, ainda estava zero a zero e, depois, não te chateei mais. Até porque estava a ser duro…

  2. Não Interessa says:

    Concordo na íntegra. Muito boa posta.

  3. Exactamente.
    “Deixo os árbitros a quem não gostar de bolinha”
    Os árbitro-falantes, os regional-racistas e os adepto-futeboleses. Por atacado, todos juntos, não valem uma boa jogada http://aventar.eu/2013/04/22/2o-golo-do-benficasporting-uma-obra-de-arte/

    E também dou os parabéns aos campeões, uma maratona como um campeonato exige sempre qualidade e consistência.

  4. Konigvs says:

    Jesus já é velho e costuma-se dizer que burro velho não aprende línguas, se bem que o homem aprendeu bastante nestes quatro anos, a estar nas conferências de imprensa. Mas já tem demasiados vícios, a formação retirou-lhe a pastilha elástica, mas há outros mais enraizados.
    Por outro lado, Vitor Pereira, que chegou agora ao comando de um clube de futebol e logo ao campeão nacional pela mão de Pinto da Costa, não representa – felizmente – a maioria dos treinadores de futebol.O homem não sabe estar, exalta-se, disparata, e culpa quase sempre a arbitragem sempre que tem um mau resultado, mesmo que até tenha sido beneficiado por ela. Tem a formação académica mas consegue ser pior que o pior Jesus quando lhe sobe o ego e acha que é o melhor do mundo.
    Hoje em dia temos jovens treinadores bem falantes – e nem estou a pensar no literário Manuel Machado – que sabem estar nas conferências de imprensa, falam sobre o que devem falar, que é futebol, e que nunca desculpam as derrotas com as arbitragens. Estou-me a lembrar de Domingos, Marco Silva, Pedro Emanuel, Rui Vitória, Paulo Fonseca e felizmente há muitos mais.

    Sobre o FCPorto querer dividir o país é a razão, no meu entender, porque o clube não dispara em número de adeptos. Quando trinta anos depois, de vitórias atrás de vitórias, se vem com o mesmo discurso pequenino, do “estão todos contra nós”, o discurso do “só quero ver Lisboa a arder” e dos “mouros”, é como se o Pinto da Costa estivesse a construir um muro em volta do clube, porque está constantemente a insultar aqueles que poderiam muito facilmente serem atraídos a ser adeptos do seu clube, porque é muito mais fácil ser adepto de quem ganha do que de quem perde.
    Já o escrevi várias vezes, o grande obreiro do FCPorto, é o mesmo que impediu que o clube pudesse ter crescido exponencialmente nestas três décadas.
    Depois, ainda há outro fenómeno. Aqui há uns dias, passava num qualquer canal, uma auscultação a propósito de quem as pessoas queriam que fosse campeão, e uma resposta deixou-me a refletir. Ao microfone uma criança diz : “Não gosto do Porto, são uns batoteiros”.

    • ferpin says:

      Não será por acaso que as TV estão todas em Lisboa, e o único jornal não lisboeta é o Jogo.
      Se pudessem aplicar às equipas de arbitragem a lógica centralista que existe na política, economia e media eram campeões todos os anos.

    • nightwishpt says:

      “Tem a formação académica mas consegue ser pior que o pior Jesus quando lhe sobe o ego e acha que é o melhor do mundo.”

      LOL

      “Sobre o FCPorto querer dividir o país é a razão, no meu entender, porque o clube não dispara em número de adeptos. ”

      Por isso é que ontem havia tanta gente em Lisboa, Setúbal, Angola e Brazil a festejar, e ainda vi imagens de Paris a semana passada. São montagens nos estúdios do Dragão. LOL

      ““Não gosto do Porto, são uns batoteiros”.”
      Deve ser por isso que os Sportiguistas já não acreditam nos títulos do Benfica.

    • Ricardo Ferreira Pinto says:

      Deixa-me discordar de ti, Konigvs. O Vítor Pereira representa exactamente a maior parte dos treinadores de futebol. Quando perdem, a culpa é sempre do árbitro. Quando ganham com erros do árbitro, ficam caladinhos. São quase todos assim. O Domingos???? Está sempre a desculpar-se com a arbitragem!
      Também não concordo quando dizes que o FC Porto não dispara em número de adeptos. Não é por acaso que o FC Porto é hoje o segundo clube nacional com mais adeptos. Ainda está longe do Benfica, claro, mas já esteve mais. Não é por acaso também que nas faixas etárias mais jovens o FC Porto é o clube português com mais adeptos. Adeptos que são conquistados pelas vitórias, enquanto que os do Benfica e do Sporting são-no mais por relações familiares – porque os pais e os avós também são. Os últimos estudos credíveis (Liga de Clubes, 2003) apontam 4,1 milhões de adeptos para o Benfica, 2,6 milhões para o FC Porto e 2,1 para o Sporting. 7 anos antes, em 1996, o Sporting ainda estava à frente do FC Porto. E agora?
      Quanto ao discurso, podias ter razão há uns 15/20 anos. Hoje em dia, os responsáveis do FC Porto já perceberam que o FC Porto é um clube nacional e não me parece que promovam o tipo de fractura de que falas. Objectivamente, não vejo qualquer diferença, actualmente, entre o tipo de discurso e de atitudes do FC Porto e o tipo de discurso e de atitudes do Benfica.

  5. Konigvs says:

    Eu acho que o Vitor Pereira representa-se unicamente a ele mesmo nada mais. Surgiu com uma postura bem nossa conhecida, falando grosso e com barba de três dias, e comportando-se como um adepto troglodita nas conferências de imprensa. Em dois anos são várias as situações que se senta e vai embora , ou diz, como sempre disse que a culpa de não ter ganho é do arbitro, mas no fundo a culpa nunca é dele. A culpa é do Benfica que joga pontapé para a frente, a culpa é do árbitro que não expulsa os jogadores que deve expulsar, mas depois a culpa já é de expulsar quando devia deixar jogar como aconteceu em Málaga. No fundo, se a equipa ganha o mérito é dele, se não ganha a culpa é dos outros. Chegando ao cúmulo de ter dito em dois anos seguidos que o campeonato ficou manchado pela vergonha das arbitragens, quando no fim de contas até foi o clube dele que ganhou e esquecendo-se de todas as vezes que foi beneficiado.

    Depois quando escrevi sobre sobre o muro que Pinto da Costa ter erguido conjuntamente com Pedroto um muro em torno das Antas, era uma metáfora como é lógico. Os portuenses, como os portugueses em geral, saem da sua cidade e vão muitas vezes trabalhar/estudar/viver para Lisboa ou para o estrangeiro, celebrando as vitórias do seu clube no sítio onde estão.

    A questão dos adeptos tem muito que se lhe diga, é como se dizer que há seis milhões de benfiquistas. Primeiro teríamos de ver quem realmente acompanha futebol. Cá em casa somos quatro, três benfiquistas e um portista, mas só eu ligo a futebol, os outros três nunca sabem quem está em primeiro, muito menos conhecem os jogadores, e se passa um jogo na SIC, seja do Benfica ou do Porto, ficam chateados porque dá bola em vez da novela. Este tipo de adeptos contam? Creio que não.
    E há muita gente que não liga um corno ao futebol, e quando se fala em números assume-se que em cada pessoa há um adepto de futebol, quando não é de todo verdade. Só depois de separado o trigo do joio sim, poder-se-ia fazer uma estatística minimamente fidedigna. Daí que só podemos comparar mesmo com o número de sócios, mas ainda aí é preciso ver quem realmente paga, no Sporting como se viu nas últimas eleições só trinta mil estavam em condições de votar. Da mesma que os trezentos mil sócios que fazem do Benfica o maior clube do mundo serão todos pagantes?
    Mas ainda sobre os adeptos, diz-se que, por exemplo, que nas ex colónias o número de adeptos portistas tem disparado – lá está o que disse – ninguém anda atrás de quem perde, mas aqui em Portugal e andando um pouco pelo país, e ouvindo as conversas, não sinto que a realidade de hoje tenha mudado significativamente quando comparando com há vinte ou trinta anos atrás.
    Quanto às fraturas norte/sul estas continuam, tal como há trinta anos, e acho mesmo que só não vê quem não quer, aliás acho que esta divisão de um país já por si pequenino foi unicamente feita por Pinto da Costa, e é esse incitamento ao ódio que faz com que tenhamos todos os fins de semana casas do Benfica partidas, ao que depois estes respondem partindo as do Porto. E é este sentimentozinho pequenino e provinciano que leva o outro filho da puta obeso mórbido de Gaia a dizer os disparates que disse.
    E a mim tanto me incomoda que seja o Pinto da Costa a chamar mouros aos benfiquistas, como até, que um qualquer parolo na Benfica TV se refira ao FCPorto como o “clube lá do norte” esquecendo-se que é muitas vezes graças aos benfiquistas do norte, que o estádio da Luz enche, tantas são as dezenas de camionetas de adeptos que lá vão pelas casas do Benfica do norte.
    .

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  1. […] é uma tradição minha, é bom que se saiba que também escrevi sobre o campeão de 2011, 2012 e 2013, por muito que me tenha custado. Se, em 2015, me custar, procurarei, mesmo assim, respeitar a […]

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