«Ou passo a ser titular ou quero ir para outro lado» (Defour)
Por mim podes ir andando
Prémio Camões para Mia Couto
Pela segunda vez o júri acertou; Mia Couto, tal como Luandino Vieira, além da escrita recomeçaram a língua de outro continente para fora. Valem muito mais que papel pintado com tinta.
Falta o Mário de Carvalho, e os três escritores vivos que leio estariam premiados. Pela rotatividade continental, espero que seja para o ano.
Adenda: sim, é o meu gosto pessoal, sem desprimor para com outros. A literatura gosta-se, come-se, mastiga-se, devora-se. Quem tem outro palato, problema seu.
Vozes de sábio não chegam ao Inferno
No sábado passado, fui ao Colégio Paulo VI, em Gondomar, assistir a uma palestra de Maria do Carmo Vieira. De todas as vezes que a ouço, reencontro o desassombro e a frontalidade necessárias na crítica a muito do que está errado na Educação, em geral, e no ensino do Português, em particular. Reencontro, ainda, nas palavras da minha colega a energia renovada para tentar ser melhor, para não me deixar acomodar.
Eis algumas das ideias que reencontrei, enquanto ouvia Maria do Carmo Vieira:
– as opiniões e os pareceres dos professores são fundamentais para a maior parte das decisões sobre Educação. Os sucessivos ministros, no entanto, limitam-se a olhar para os professores como funcionários que se devem limitar a obedecer;
– os professores não podem permitir a proletarização de que são alvo e devem exercer um exame crítico sobre todos os aspectos da sua actividade profissional;
– o empobrecimento da formação inicial e contínua dos professores é absolutamente criminoso e terá efeitos nefastos no futuro (a propósito disso, fomos brindados com uma extraordinária declamação de “Aniversário”, ao som de Prokofiev);
– a base da actividade docente reside no conhecimento científico e não nas questões pedagógicas, sendo que estas devem estar ao serviço das primeiras e não podem ocupar o papel principal na função docente; [Read more…]
O discurso ambíguo de Dijsselbloem
O presidente do Eurogrupo, Dijsselbloem, simultaneamente ministro das finanças da Holanda, esteve em Lisboa. Cumpriu o cerimonial da visita a Cavaco Silva e esteve em reunião com Vítor Gaspar.
Na comunicação à imprensa, não assegurou – nem poderia fazê-lo isoladamente, creio – que Portugal venha a beneficiar de nova flexibilização de metas (deficit orçamental mais alto) para 2014. Ficou-se por afirmações de certo modo dúbias:
[…] caso Portugal atinja os objectivos definidos para o défice estrutural, “se for necessário dar mais tempo a Portugal, então esse tema [a flexibilização adicional do objectivo para o défice nominal em 2014] será debatido”.
Ou seja, em vez da dilatação dos limites da meta para 2014 por que o governo – Gaspar e Coelho em especial – luta pela aprovação do Eurogrupo, prometeu o debate do tema…”caso Portugal atinja os objectivos definidos para o défice estrutural”.
O presidente do Eurogrupo, através do condicionalismo proposto para o défice estrutural, introduz uma complexidade na avaliação dos resultados das finanças públicas, uma vez que o SOAC (saldo orçamental ajustado ao ciclo ou saldo estrutural), embora utilizado pela OCDE e FMI, corresponde ao saldo que se registaria caso a economia estivesse em plena capacidade; ou seja, equivale ao uso do PIB potencial. [Read more…]
Os mitos de Mexia
Se os preços da electricidade estão abaixo da média europeia, o que dizer dos rendimentos dos portugueses?!
Desabafo ao desabafo de Ruy de Carvalho
Ruy de Carvalho tem 86 anos e 70 de carreira, é um actor que aprendi a admirar, fosse na televisão ou no teatro. A idade é, de facto um posto. Eu acho que aos 86 anos, uma pessoa deve poder dizer o que lhe vai na cabeça, mesmo sendo alguém de quem se espera tudo e mais alguma coisa. Mesmo havendo o risco de desiludir admiradores, amigos. Caramba, 86 anos têm de servir para alguma coisa.
O desabafo do Ruy de Carvalho merece, no entanto, alguns desabafos, também da minha parte. As críticas que faz ao Estado – algumas certas e outras nem por isso – vêm, sobretudo, pelo facto da alteração da denominação da sua arte e do roubo que está a ser feito em sede de IRS. Tem toda a razão, Ruy, mas vamos aos factos. Sim, que tantos anos e tanta vida também hão-de comportar momentos menos felizes: [Read more…]
Pai e filho
O futebol não é tem muitas explicações – é tão simples, que não dá para teorizar.
É um jogo e não é mais que isso, apesar de ser MUITO mais que isso. Sim, parece confuso, mas quem ama um clube entende isto. Não é verdadeiramente importante porque hoje, depois da derrota, o rio continua a correr para o mar e ao dia, inevitavelmente, segue-se uma noite e novamente um dia…
Mas, o futebol é aquela coisa que nos faz andar menos atentos no emprego, que nos faz acelerar no trânsito, que nos faz manipular a agenda familiar e até nos faz dizer ou escrever coisas complicadas sobre os amigos e os clubes dos amigos.
Não dá para para explicar, muito menos a quem recorrer com mais facilidade à ciência do que à escrita.
O futebol é essa coisa estranha que nos leva a fazer viagens, sacrifícios e a ter vontade de ajudar – aquele sentimento do eu quero lá estar a fazer a minha parte. E estive, estivemos: pai e filho! Juntos, a fazer a nossa parte. [Read more…]
Apelo: um Programa ‘Prós e Contras’ dedicado aos ‘sem-abrigo’!
Helena Roseta é das mulheres mais generosas e activas da política portuguesa; infatigável nas funções e tarefas a que se dedica. Sem subserviência a aparelhos partidários, teimou em trilhar o caminho da independência. Com os apoios e admiração colhidos no movimento ‘Cidadãos por Lisboa’, foi eleita vereadora da Câmara Municipal da capital.
O cargo não é fácil, pelo âmbito do pelouro – Desenvolvimento Social – e pelas vidas infelizes com que se confronta; por força da crise e das políticas de austeridade, autênticas obsessões do alucinado e errático Gaspar – ter um PM sem preparação facilita a vida de incompetentes atrevidos, e desonestos intelectualmente. Não acerta uma!
No cenário de sofrimento social de rua na capital, diz a arquitecta Roseta, estima-se atingir cerca de 2.000 pessoas ‘sem-abrigo’. O desemprego, a penúria económica onde se inclui a pobreza envergonhada constituem traços transversais da população de indigentes lisboetas. O número não é certo e Roseta lembra que, em 2012, se calculava entre 700 e 800 o número dos ‘sem-abrigo’ a dormir nas ruas da capital. Roseta levanta várias hipóteses para aliviar sofrimentos dos atingidos, a nível da criação de estruturas.
Percorro o País, como muitos e em particular os governantes. Sei que não se trata de um problema apenas lisboeta. Sucede no Porto, em Coimbra, em Setúbal, em Faro e, em algumas vilas e cidades do interior, onde há anos seria inimaginável chegar a este fenómeno de progressão geométrica da pobreza em desfile pela rua, nas 24 h do dia, de forma tão evidente e pungente.
Os números da indigência, já incluem muitas crianças famintas e não cessarão de dilatar, sob as altas temperaturas das políticas neoliberais do actual governo, incentivadas pela Europa do Centro e Norte com o desprezo pela sensibilidade social – lembre-se a divisa de Pedro Passos Coelho: “temos de empobrecer, custe o que custar”. Foi-lhe sugerido por Gaspar e pelo garoto, filho de comunista, Moedas, um ex-Goldman Sachs. O interesse é salvar bancos e o capital. [Read more…]
A Triplette de Belleville
Filme francês animado de 2004. Conta a história da Madame Sousa, cujo neto é raptado durante a Volta à França. Durante a sua busca, conhece as Triplettes de Belleville. Um grupo decadente que foi glorioso décadas atrás e que agora, tudo perdido, finge que continua a viver dias gloriosos. Um filme fantástico e imperdível. O site que hoje apresento é russo, o que não encerra qualquer problema, visto que o filme praticamente não tem legendas nem diálogos. Ver aqui.
ficha IMDb
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