A favor das turmas pequenas
Dia das mães
Quando era novo, havia uma brincadeira suficientemente idiota para ser popular: dirigíamos um insulto na direcção de um grupo e, quando vários se voltavam, dizíamos que só tínhamos chamado um.
Na actual legislatura, as manifestações de desagrado na Assembleia da República têm sido demasiado frequentes, o que deveria levar governantes e deputados a pensar. Hoje, voltou a acontecer e, mais uma vez, os manifestantes foram expulsos.
Imediatamente, os deputados do governo mostraram a sua indignação e apontaram o dedo a conspirações da oposição.
Não ouvi, ainda, o que disseram os manifestantes, mas ouvi José Manuel Canavarro, deputado do PSD, a dizer, inflamado, que as “nossas mães não são para aqui chamadas.” Fico curioso: como é que os manifestantes sabiam o nome das mães dos deputados? Ele há manifestantes com uma capacidade de memorização extraordinária!
Também há outra hipótese: José Manuel Canavarro pensou que estavam a falar da sua mãe. Se os manifestantes disseram aquilo que estou a pensar, pergunto-me o que terá levado o ilustre deputado a ligar os ditos dos manifestantes à pessoa da sua própria progenitora.
De qualquer modo, ao contrário da brincadeira idiota da minha adolescência, é natural que tenham chamado mais do que um.
Eu se fosse este gajo pintava a cara de preto
O gajo é um tal de Adriano Rafael Moreira. Depois desta sova da Ana Drago:
pintava sim senhor, de preto, para não ser reconhecido na rua.
Proposta de Alteração ao Orçamento do Estado para 2013
Muito rapidamente: o fim-de-semana tem hífenes e está aí à porta.
Ao ler o relatório Alteração ao Orçamento do Estado para 2013 (e recordando que já tinha recomendado a reprovação dos OE2012 e OE2013), fico agradavelmente surpreendido com ‘factores’ (p.4), ‘perspectivas’ (id.), ‘sectores’ (p.8), ‘sector’ (id.), ‘directos’ (p.10), ‘indirectos’ (id.), ‘subsectores’ (4 ocorrências, id.) e ‘activos’ (p. 14).
Claro que me desagrada profundamente a co-ocorrência de *’setorial’ (2 ocorrências, pp. 6 e 16), ‘setor’ (4 ocorrências, pp. 10, 11, 12 e 15), *’subsetor’ (p. 12), *’perspetivas’ (6 ocorrências, pp. 4, 5, 7 [2 ocorrências] e 8 [2 ocorrências]), *’diretos’ (4 ocorrências, pp. 4 e 12 [2 ocorrências]), *’indiretos’ (p. 4), *’direta’ (p. 13) e *’ativos’ (p. 13).
Mas isso sou eu a querer aumentar a minha esperança de vida, achando que o Governo deve dar o exemplo…
Sim, pois, claro.
De novo e duma vez por todas, desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
Incultura
Imagine-se que se perguntava a dois mil alunos do secundário em Portugal quem foi Luís de Camões e que boa parte deles respondia que teria sido um apresentador de televisão.
Imagine-se que outros tantos responderiam que Eusébio foi primeiro-ministro durante a segunda guerra mundial, que Amália Rodrigues foi mulher de D. Dinis, que Florbela Espanca foi cantora de rock ou que Fernando Pessoa foi atleta olímpico.
Imagine-se ainda que, postos perante um mapa, não saberiam apontar a localização aproximada de Lisboa.
É precisa muita imaginação para conceber tal cenário? Talvez não, pelo menos a julgar pelos resultados obtidos num inquérito realizado em Inglaterra. [Read more…]
Portugal putrefacto
Oitocentos e setenta anos de história. Tempo demasiado longo para percorrer um caminho completamente asséptico. É verdade, demos novos mundos ao mundo. Todavia, não o fizemos por pura abnegação. Com máscaras de ideais da propagação da fé católica – sim, sobretudo católica em vez de cristã – as caravelas levavam nos porões ambições ilimitadas de acesso a fortunas, focadas no comércio das especiarias das Índias, no ouro do Brasil ou em outros bens que fizeram de Lisboa um centro de negócios ímpar na Europa do século XVI.
Outros povos europeus protagonizaram empreendimentos semelhantes, mas, por ora, concentremo-nos em Portugal. Nos tempos e nos espaços do percurso histórico deste País.
Tivemos e oferecemos ao mundo homens brilhantes. Camões, Padre António Vieira, Pessoa e Saramago, na divulgação da cultura e língua portuguesas, destacaram-se em épocas distintas. Contudo, nos longos tempos e sobretudo no espaço, agora apenas rectangular, europeu e adicionado de salpicos de terra isolados no Atlântico, também desabaram impurezas humanas. [Read more…]
Cartas aos Mestres (I)
Caro Mestre Cissé,
Tu que és “o melhor cientista que actua em Portugal e na Europa” em matéria de ciências ocultas, que és capaz de “supermagias negras e brancas”, resolvendo “em poucos dias e com eficácia qualquer problema”, tu que tens toda essa experiência acumulada de resolução formidável de tão vasto leque de sarilhos humanos, e cuja obra decerto merece o respeito da comunidade mundial de mestres milagreiros, faz o que estiver ao alcance do teu talento mágico Mestre, para tirar o mais depressa possível os portugueses da situação de calamidade social a que as políticas austeritárias os conduziram. Ajuda Mestre a que este Governo traidor do seu povo possa ser o mais rapidamente possível demitido e convocadas eleições legislativas.
Não esqueças porém, antes de dares por terminada a tua intervenção mágica, de estender a tua acção à Comissão Nacional de Eleições, levando a que difunda, em todas as televisões e em horário nobre, um programa consequente e de linguagem clara de apelo ao voto, que possa cabalmente explicar aos ignorantes as consequências dos actos impensados em que se obstinam, mesmo se julgando fazer bem. Que esse programa possa levar a maioria dos abstencionistas (doentes do espírito Mestre, atingidos pela descrença na redenção) a compreender que foi justamente esse quero-lá-saber relativamente à participação na vida política do País que nos conduziu aqui (um Governo eleito por uma minoria de votantes), e que não é abstendo-se de votar e/ou fugindo do País que poderão alguma vez começar enfim a construí-lo.
Age ainda Mestre de tal modo a que possam os actuais responsáveis pelos crimes de traição ao povo e abuso de poder do Estado sobre os cidadãos ser em tempo útil julgados, impedindo que aos padecimentos passados, provocados pelo branqueamento dos crimes do Estado Novo, se acrescentem novas doenças à memória histórica dos portugueses. Que o teu contributo mágico para a cessação do sofrimento do povo de cuja Língua e História és um herdeiro possa honrar os melhores laços que a ele te unem. Assim seja.
Um cacilheiro em Veneza II

Pavilhão de Portugal, Bienal de Veneza 2013 (http://bit.ly/11bu6yt)
Ainda estou a recuperar da machadada final — golpe desferido sem dó, nem piedade — e da mágoa de não ter conseguido ver em directo aquilo que queria. Em diferido verei.
A propósito, quando leio ‘Taxing the rich’, lembro-me não só dos Aerosmith, mas também desta excelente versão e desta obra de arte.
Quanto aos Aerosmith da retentiva (sim, da retentiva) e para que não haja dúvidas, Krugman já esclareceu não se tratar nem de inveja, nem de desejo/vontade/intenção de castigar os ricos, apenas o reconhecimento da necessidade de o equilíbrio ser atingido através de compensações. Creio que se trata de algo tão elementar, como saber-se que atirar gente para o desemprego não é solução, antes pelo contrário: mas há quem discorde.
E, claro, desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
Ao contrário de Veneza, mesmo sem o cacilheiro, o fim-de-semana sem hífenes (*fim de semana) não tem nem lógica, nem piada.
Magno Momento Gagá
A velhice, no pior sentido do venerado conceito, foi ontem à Aula Magna.
Pelas TV, pudemos ver, como quem vai ao zoológico pasmar com espécimenes raros, o que tem sido este Regime Corrupto: uma horrorosa forma de enriquecer através da manipulação e do tráfico de influências continuamente exercido. Histérico, perdido no seu ódio odioso, ululante, o milionário Soares teve o beija-mão processional com que sonhara, mas exaspera-se na mesma: o que já não tem, conforme sempre teve, é um Governo ao seu serviço, como os de Guterres ou os de Sócrates: «Dr. Soares, o que podemos fazer por si?» Dinheiro. Dinheiro. Dinheiro.
É duro ser solenemente ignorado, finalmente. O Circo de ontem na Aula Magna é a anacronia, a desonestidade e o exclusivismo que, com Pacheco presente em forma de carta, dramatizam e concentram num só Governo o grande problema do Mundo. Não há diagnóstico nem enquadramento do País. Só há instinto. Só o epidérmico. Só o cio e a exclusividade de Esquerda, ilusões de Esquerda num mundo onde a Esquerda não tem soluções a não ser o absurdo, aquilo em que ninguém vota, na hora da verdade.
Ontem, o dr. Soares exibiu toda a sua malícia e todo o seu ego: ele é o Regime. O Regime agoniza. O Regime é corrupto no tom e no grau de atrevimento. O Regime não tem vergonha nenhuma. O Regime deu-nos três bancarrotas. O dr. Soares está rico, extremamente rico e, para que isso pudesse ser assim, foi preciso que Governos irresponsáveis, venais e incompetentes, lhe fizessem todas as vontades.
Ontem, tivemos Circo Magno, num Magno Momento Gagá. Essa masturbação acabou num enorme foguetório. O Regime foi para casa. Continua milionário e convencido da velha força e influência plutossocializante. Está sempre pronto para mais uma perninha maliciosa e conspirativa, e uma chantagem violenta, insolente, sobre o Presidente em Exercício Cavaco, sobre o Menino Jesus e sobre a Popota.
Portugal visto de fora
O New York Times publicou uma fotogaleria daquelas que fazem as delícias do ministro Gaspar. Um destaque é sempre um destaque, o programa de ajustamento é muito lindo, nós somos um povo maravilhoso e os peões do PSD andam pelo país a anunciar a boa-nova: recuperámos a nossa soberania. E saímos do clube da bancarrota.
O pior é a realidade. Aquela que já não vem nos jornais nem é suficiente e explicitamente mostrada nas tv’s.
We will always have Paris…
O presidente francês François Hollande resolveu responder à Comissão Europeia sobre a forma “abusada” com que a CE se intrometia nos assuntos internos do seu País e disse: “Bruxelas não tem nada que ditar o que Paris deve fazer”. Segundo a imprensa Francesa, Hollande encostou Bruxelas às cordas.
Eu cá que não sou de intrigas, nem tão pouco de esquerda mas, no entanto, fervorosa benfiquista, parece-me que posso dizer que por cá esta receita sempre seria mais bem vista do que qualquer pedido de simpatia. Não?
Tão óbvio
Que até me sinto surpreendido por recorrer a Manuela Ferreira Leite, mas:
“O não despedimento na função pública não era um privilégio. O motivo para isso tinha a ver com a tarefa de interesse público, o que não tem nada a ver com o trabalhador do sector privado que está a defender o interesse do seu patrão. Os funcionários públicos deviam agir com independência e isenção, por isso não eram despedidos. Só assim se pode ter isenção do poder político”
Aliás, pensando na Educação, costumo dizer e escrever que as Escolas funcionam apesar do Ministério da Educação. Historicamente, as Escolas, nas suas mais diversas dimensões têm conseguido avaliar de forma eficaz o que cada Ministro vai vomitando. Momentos há, em que se aproveita alguma coisa, mas há também outras ocasiões em que simplesmente se ignora a ignorância do ignorante superior. E essa capacidade de defender a Escola Pública e os alunos só é possível porque somos independentes.
É uma questão tão cristalina que não se entende como é que há gente que vacila. Ou se calhar entende – é gente que quer ter uma administração pública dominada ao toque dos interesses partidários.
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