Faz neste S. Martinho quatro anos que, pelo tempo de varejar os castanheiros, se passou o que vou narrar nos bens do tio João da Serra, lavrador que enceleira não menos de trinta carros de pão em anos fartos, e envasilharia dez pipas de vinho se a moléstia das vides lhe não tivesse há muitos anos convertido o lagar em uma arca para onde se atira tudo, menos uvas no tempo. Na trave penduram-se agora os ensinamentos e as palhoças dos moços. Na pia arrecadam-se os fueiros, os vimes das ataduras, o aparelho da égua, e quando Deus quer, por não haver mais para que ela sirva, as canas de amparar as dálias no quinteiro e as estacas no faval.
A abegoaria do tio João é bucólica como um quadro de Leopold Robert ou uma paisagem do Sr. Thomaz da Anunciação. Nada lhe falta: nem o enorme alpendre do palheiro com a sua escada exterior e os seus postiguinhos de portas corrediças, nem as paredes musgosas dos currais, nem o carro de mato por descarregar a um canto, nem o bezerrinho que pula, nem o boi que rumina pachorrentamente tendo voltado para a gente a sua fisionomia de boa pessoa, nem a pia aonde se traz o gado a beber, nem os bácoros que bufam por baixo da esburacada porta do eido. [Read more…]
Comentários Recentes