No dia em que a União Europeia faz um ultimato à Grécia para que resolva em três dias (e no meio de uma crise política parecida com a nossa) a bicuda questão das garantias associadas ao financiamento daquele Estado sob resgate financeiro, recordo uma tarde que passei em Atenas à conversa com o marido de Melina Mercouri (1920-1994) – o cineasta Jules Dassin (1911-2008), que ela conhecera em Cannes em meados dos anos 50.
Actriz, cantora, activista política, Mercouri foi também Ministra da Cultura – é da sua autoria a ideia das capitais culturais da Europa, promovidas desde 1985, tendo sido também da sua lavra um programa de ligação estreita entre a Cultura e a Educação, mediante um sistema de formação de professores para a transmissão do Conhecimento segundo os princípios da fruição cultural, tornando prazenteiras as aprendizagens em todas as áreas.
Foi ainda Mercouri que iniciou a campanha de pedido de restituição dos mármores do Parthénon (ainda na posse do British Museum, nem Cameron defenderá jamais outra coisa), foi ela que tornou gratuito o acesso dos cidadãos gregos aos museus e sítios arqueológicos do país, que promoveu o apoio estatal à criação literária, que apoiou o cinema grego, que defendeu o estabelecimento de uma cooperação precoce entre a UE e os países do Leste europeu, numa altura em que a Comunidade estava pouco para aí virada, etc, etc.
Hoje penso nela, e naquela tarde ateniense em que durante umas horas fiz companhia ao seu viúvo enquanto ele aguardava o repatriamento do corpo de Melina, falecida nos EUA. E olho com crescente apreensão para o modo como a Grécia, território da nossa Antiguidade, berço da nossa Cultura, tem vindo a ser desqualificada desde o começo desta crise – o mesmo acontecendo relativamente ao progressivo desinvestimento que a Europa tem dedicado à Cultura e à Educação dos seus cidadãos.
Aqui está um belo “post”. Belo e terrível ao mesmo tempo, por nos confrontar com o que se está a perder neste desgraçado continente.