O Verão Quente de Passos e Portas

Gonçalo Dias Figueiredo

A continuidade das altas temperaturas que se têm sentido no país não acompanha o passo do termómetro político nacional. Na verdade, o comunicado conjunto de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, ao que tudo indica, virá por um ponto final no “Verão Quente” que se sentiu na coligação ao longo destes últimos dias. A questão da crise política continuará a ser debatida na comunicação social pelos que se dizem os especialistas na matéria. A especulação em torno do que virá o Presidente da República dizer sobre o assunto ainda fará correr mais tinta mas, na minha opinião, o assunto está arrumado: o Governo continua e está lá para o remanescente da legislatura.

No rescaldo da situação, quero também eu olhar para a personagem de Paulo Portas. É uma figura que, aparentemente, não encontra controvérsia, pelo menos se nos restringirmos ao âmbito do CDS-PP, apesar das revelações de Manuel Monteiro que, nos últimos dias, foram redescobertas nas redes sociais. Ora, Paulo Portas veio apenas confirmar que merece o título de “animal político”. Na verdade, Paulo Portas, se dúvidas restassem, demonstrou que tem de ser considerado um verdadeiro profissional da política. Se isto é salutar ou elogioso? Não necessariamente.

Permitam-me que divida, numa visão bastante redutora, a classe política em quatro grupos distintos: (i) os profissionais políticos; (ii) os tecnocratas; (iii) os políticos de causas; e (iv) os que não sabem o que andam por ali a fazer. Aqui, interessa-nos especialmente falar dos primeiros.

Os políticos profissionais são aqueles cuja grande especialidade é a política em si. Estão cientes da sinuosidade dos caminhos em que se movem, são estrategas, líderes natos, preferencialmente donos da capacidade do discurso apelativo e, desde o reconhecimento da importância dos media nos tempos do Presidente Kennedy, perfeccionistas no que à imagem diz respeito. Paulo Portas tem amplo domínio sobre todos estes pontos.

É um político profissional porque sabe jogar com os que se movem no mesmo tabuleiro. Joga com as relações políticas, consegue a proeza da incontestabilidade no seio do seu próprio partido, tem a visão estratégica e o sangue frio de a usar a seu favor, passa cá para fora o discurso que se quer ouvir. É um jogador e, no meio em que se insere, é dos melhores a fazer aquilo que faz: política. É um político a sério!

Porém, há uma diferença entre um político a sério e um político sério. Preferencialmente, deseja-se que estas duas figuras se apresentem indissociáveis. No caso de Paulo Portas, a distinção é notória. Paulo Portas tem de ser considerado como um político a sério. A sua seriedade, inversamente, é contestável. Paulo Portas mostrou que consegue ombrear com outros grandes nomes da política a sério, como José Sócrates, Mário Soares, entre outros. Por outro lado, o episódio que protagonizou com a sua demissão “irrevogável” foi mais uma prova da sua falta de idoneidade para pertencer ao núcleo duro que conduz os destinos do país. Infelizmente, sou obrigado a olhar para uma coligação com gente competente, condicionada à visão de estratégia geocêntrica de um homem que, sendo um político a sério, ainda não sabe o que “ser sério” significa.

É o que temos.

Comments

  1. manojas says:

    Os políticos, como os comentadores. Há comentador sério e o comentador a sério.

  2. manojas says:

    Esqueci-me de dar exemplos. Comentador a sério: Professor Marcelo (sempre muito citado), Comentador sério: doutor Santos Silva (nunca ou raramente citado).

    • nightwishpt says:

      O Santos Silva também sabe muito, é um trauliteiro de todo o tamanho.

  3. Bufarinheiro says:

    “Paulo Portas consegue ombrear com quem?
    O melhor é inscrever-se no PS, onde ficará bem acompanhado.

  4. edgar says:

    Apesar de milhares de anos de experiência histórica, das grandes transformações sociais que mudaram o mundo, e dos exemplos recentes, continua a haver quem pense que a evolução das sociedades se faz com personalidades e à revelia do povo.
    No caso em discussão não há qualquer “ponto final” enquanto os portugueses não forem ouvidos,as políticas não mudarem e não for constituído um governo que, ao contrário do que tem acontecido, governe a favor do interesse do povo e de Portugal e não contra eles.
    Se o Presidente da Republica der posse a este governo vai continuar a validar a política que todos reconhecem que falhou e fez Portugal regredir social e economicamente ao século passado. E vai também assumir a responsabilidade por ser negociado um segundo resgate que agravará ainda mais a situação.

  5. nascimento says:

    Ter o Silva dá-me uma pica maravilha….um bom filho da puta….é sempre melhor que um mau filho da puta….isto. é lindo e eu sou ordinário????Não é????Dass…

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