Abstenção, Gémeos Semedo e Passos

Há uma cómica homologia entre Passos Coelho e João Semedo do BE e quem diz Semedo, diz Catarina. Homologia não só na escala da derrota autárquica, os extremos tocam-se, mas no preço político da inexpressividade e do negativismo de uma liderança ainda que numa liderança a meias. Nada mais fatal em termos políticos. Numa análise superficial ao discurso de ambos ou deste tríptico-de-pele-e-osso, a mensagem que predomina é negativa, derrotista, formalista, passa desapontamento e não carreia esperança, não tem capacidade para insuflar ânimo. Entre ele-Passos e um cangalheiro não há diferença: a face é funérea por defeito profissional. Passos quer desempregar em larga escala no Estado. É uma necessidade. Semedo celebra ou fantasia as derrotas relativas da Direita, insulta e rebaixa a Direita, mas não tem nada de seu a celebrar, nenhuma vitória aporta à Esquerda, nenhuma esperança tem a dar, senão a secura do fim do mundo e o desalento chova ou faça sol.

Do outro lado da barricada retórica negativa e depressiva comum à bina Passos / Semedo-Catarina, não temos no Lágrima Seguro ou no Testosterona Costa, pelo contrário, os portadores da esperança, da confiança e da alegria, mas os simuladores de alternativas, os porta-estandartes do Favor Político e da Empregabilidade Política, conforme os velhos genes socialistas. Os socialistas têm um especial instinto de emprego com eles, só que um emprego à pala do Estado, um emprego favoritista, um emprego pela multiplicação de cargos, de tretas, da grande teta da cultura ao grande chupismo solene dos que se aproximam do grande mamilo de Esquerda que os socialistas maquilham de túrgido, mas anda sempre ressequido, pago pelo resto da maralha nacional com sangue, suor e lágrimas: com Testosterona Costa, Lisboa corre o risco de se tornar, isto é, de continuar ou ampliar um oásis para este tipo de liberalidade só para amigos na mesma proporção com que o Príncipe Independente Moreira CDS-PP, no Porto, sentado na sua liteira aristocrática de ouro, paralisará o Porto nas boas contas, petrificará o Porto na gestão corrente, ele que não deu às turbas porcos assados nem gajas roliças pimba a dançar e a cantar para ser eleito nem dará manuais escolares grátis do 1.º ciclo a todos os pais da cidade, folgados ou apertados.

Isto traz-me à ideia a conclusão pela letal letargia e imbecilidade corrupta de uma parte dos portugueses que vota. Está na hora de responsabilizar os portugueses que votam ou não votam pela qualidade de merda dos seus votos. Perante a emergência nacional em que nos encontramos, nos mais variados âmbitos, os portugueses não comparecem em massa para votar. Enterram a cabeça na areia. Alheiam-se. A intervenção externa produziu e vai continuar a produzir um vasto oceano de excluídos. Na hora sagrada do voto, cada vez menos de nós se atrevem ou exercê-lo ou a passar para lá da barreira do voto nulo ou branco, como se o exercício do voto expresso não contivesse uma mensagem construtiva, algo que o voto branco não possui nem o voto nulo nem a abstenção.

Como um tumor, este fenómeno de alheamento cívico alastra e compromete a legitimidade dos eleitos, eleitos por muito menos de 50% de eleitores. Compromete a saúde do Regime: abaixo de 50% de votantes a exercer o seu direito, o que esses mais de 50% estão a declarar é guerra ou a nulidade mesma do Regime. Se cada eleição continuar a ser um plebiscito de garantida rejeição ao Regime, quando forem 30% de votantes a escolher pela vez de 70% abstinentes desse direito, quanto faltará para só votarem os militantes, só votarem os membros e a cúpula dos partidos e mais ninguém, Governo minorca gerado pelas minorias e servo das minorias dos que nele votaram?!

Nestas autárquicas, dentro dos totais absolutos nacionais, somando os que não votaram, os que votaram em branco e os que votaram nulo, o resultado é uma abstenção de 55 %. A abstenção revela a vergonha da acção política em Portugal, revela a desmobilização cívica em Portugal e a mais crassa falta de esclarecimento em Portugal. Não foram os partidos políticos que acobertaram a nata da inoperância e da corrupção. São os próprios portugueses, no seu todo, que se tornaram cínicos e o seu cinismo cívico constitui o primeiro sinal e a primeira manifestação de corrupção à partida: não há maior forma de corrupção que a recusa em mudar, em punir, em censurar, em exigir, subjacentes ao voto expresso. Ninguém nos condena. Nós encarregamo-nos de nos condenar. Pela negativa, como Passos. Pela desesperança, como Semedo-Catarina.

Comments

  1. António Duarte says:

    Estou politicamente distante do PS, partido com que nunca simpatizei e muito menos nos tempos socratinos. Mas ainda simpatizo menos com a mentira.

    Percebo que dê jeito a uma certa “narrativa” de direita associar os “socialistas” e a esquerda em geral ao “instinto do emprego à pala do Estado” e outros vícios ainda piores, enquanto a direita seria a favor do “trabalho”, da iniciativa privada, e de outras coisas supostamente virtuosas.

    A fábula é bonita mas não é verdadeira. Por muitas balelas que se escrevam e desejos que se tenham, a realidade é esta:

    “Passos supera Sócrates em nomeações em dois anos de mandato”

    E o link é este, para quem tiver dúvidas:
    http://sicnoticias.sapo.pt/incoming/2013/06/02/passos-supera-socrates-em-nomeacoes-em-dois-anos-de-mandato

    • Joaquim Carlos Santos says:

      António, ainda ontem aludia a isso que vem aqui recordar. Estou de acordo e reconheço a freima-febre nomeacionista do Governo Passos, o que é profundamente desapontador, tendo em conta o que se paga, o que pagamos, a inexperientes putos acabadinhos de perder a fralda e a chucha.

      Os frequentes no Bloco Central governam-se com o nosso Orçamento em forma de Queijo Sumiço. Tem sido assim em quarenta anos de deserto moral, no País Político. Sucede que, como o PS teve década e meia de experiência de Poder recente e um longo dejecto-trajecto de Poder na Capital, a coisa teve, porque teve tempo para ter, foros de total e absoluta desvergonha, casas grátis, abusos de toda a sorte até formar um padrão consistente de escândalo continuado e no supremo fruto-sinal de tudo o resto, pelo qual os conhecemos: uma Bancarrota… Deu para tudo. Basta pesquisar e ler notícias, coisa que este seu blogger, moi, já faz vai para sete anos quando se viu mais desempregado que empregado, mais próximo de sem-abrigo que de mais um português com vida digna e orgulhoso da sua mátria infanticida.

      Não se negue, porém, a disposição maior dos socialistas para contentar uma pesada casta de habituais à bica dos recursos inesgotáveis dos orçamentos camarários ou de Estado. A Capital tem vícios que a nossa vã fantasia desconhece. As relações são intrincadas, velhas, favoráveis à grande aventura despesista nacional: «… todos os principais protagonistas da democracia que vituperam o regime de Salazar [estou a pensar em Soares, Soares e também Soares] vivem à grande e à francesa, geralmente à custa do Orçamento. Uma boa parte deles, os principais que ocuparam cargos de poder em diversos sectores, têm depósitos milionários (centenas de milhar de euros em depósitos a render) e auferem rendimentos mensais substanciais, para além de património que acumularam ao longo de décadas. Deixam para os filhos e netos um pecúlio que Salazar não tinha quando morreu…»

      • António Duarte says:

        Se me fala em Bloco Central, aí já é outra conversa. Porque eu não vejo diferenças substanciais entre os dois partidos na forma como usam o Estado para arranjar empregos e fazer negócios em benefício das clientelas partidárias.

        Nos últimos tempos é que as coisas se tornaram especialmente indecorosas, porque passámos a ver os arautos do Estado gordo, do Estado falido, a cortar salários e pensões para preservar o bolo das negociatas e dos financiamentos aos correligionários políticos e aos bancos e empresas do regime. Os defensores do liberalismo a promover a economia encostada ao Estado.

        E depois há aquela raiva contra o socratismo que este PSD ressabiado não consegue perdoar, e que não é tanto por terem deixado o país falido, mas sobretudo porque se governaram, e governaram os amigos, a um ponto que estes agora não conseguem, rapando o fundo ao tacho, encontrar forma de satisfazer também as suas clientelas próprias.

        A verdade é que não há um modelo de desenvolvimento para o país, nunca houve. Na época áurea dos fundos europeus e das privatizações, com dinheiro a entrar por todos os lados, com crescimento económico e baixo desemprego, a coisa ia-se aguentando, apesar do muito dinheiro que era pura e simplesmente desviado e esbanjado. Agora ficou-nos a miragem dos “investimentos” que se pagavam a si próprios e do desenvolvimento que nascia do betão e do alcatrão, mas também as contas por pagar…

  2. António Duarte – que tristeza que revela o seu texto – mas se é do grupo dos professores sabe que, quando é muito bom pode levar a que tenha alunos (discípulos) ainda melhores – pois o PSD aprendeu muito mais do que o PS ensinou que por sua vez já trazia umas luzes da década de 80, do cavaquismo que já era o preâmbulo do que agora se faz – Zeinal Bava e o sr da Telecom mas que sociedade que nasceu em S.Bartolomeu de Messines – ali ao lado da terra do actual PR – temos a 9ª troika à porta e durão zurra ali na tvi 24H e que o pais pode morrer na praia (odeio frases comumente vulgares) e também esse senhor que dá pelo nome de Psdeiista – UEista parlamentarista – Paulo Rangel – eu é que ranjo dentes – o país está sijíssimo e nem a chuva lava -nem com sabão Cuf

  3. As eleições autárquicas mostraram bem como o PSD está para durar – tem muitos comilões – e não tem opositores excepto aquele indiano que tem o rabo colado a cadeiras de plástico

  4. António Duarte says:

    Maria Celeste, se quer contestar aquilo que escrevi, por favor tente de novo, agora com argumentos inteligíveis e evitando os “zurros” e as referências racistas.

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  1. […] menos no País e no Porto e cada vez o voto é mais idoso ao ponto de se poder dizer que foi uma minoria maioritária que entronizou Moreira. A esmagadora maioria dos portuenses não votou em porra nenhuma. O partido […]

  2. […] menos no País e no Porto e cada vez o voto é mais idoso ao ponto de se poder dizer que foi uma minoria maioritária que entronizou Moreira. A esmagadora maioria dos portuenses não votou em porra nenhuma. O partido […]

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