Liberdade para Educar

Logo do SPN, concurso de professoresA viagem foi de transporte público e o hospital que a recebeu também. Quem a despachou foi o privado, esse reino maravilhoso dos BES e BPN’s. E, ao contrário de alguns camaradas aqui da casa, nada tenho contra o privado, desde que não funcione à pala dos dinheiros públicos o que, em boa verdade, acontece com quase todos os grupos económicos. Serve esta regra também para a Educação: se há pessoas que querem para os seus filhos uma formação com uma forte dimensão religiosa devem ter o direito de o fazer. Não podem é exigir que seja eu a pagar, isto na base do argumento da direita, o famoso utilizador / pagador.

Não era por aqui que eu queria levar o post, mas saberá o caro leitor que a competência na escrita não é uma coisa matemática. Vamos lá então colocar as palavras no eixo para que vieram ao mundo.

As confusões que Pedro Passos Coelho plantou nos concursos de professores levaram um conjunto de ignorantes a tomar como certo um conhecimento que, manifestamente, não faz parte das suas propriedades e, a ignorância é uma coisa do C….! O concurso teve uma fase nacional que correu bem, uma centrada nas escolas que correu como todos sabem e qual é a proposta que nos chega da direita? Acabar com o concurso nacional ( o que correu bem!) e ampliar o concurso local (o que correu mal).

São muitos e variados os motivos que me levam a defender um concurso nacional, único e onde a graduação seja respeitada. Aliás, partilho de tudo o que aqui foi escrito.

Mas, há uma dimensão que gostaria de desenvolver e que se prende com a autonomia do exercício da profissão.

Uma das marcas que distingue um funcionário privado de um que presta serviço público é a independência que este último deve ter, nomeadamente do poder político. Um médico não pode ser condicionado a escolher a técnica A ou B em função da decisão do político, o que infelizmente acontece mais vezes do que seria desejável. Um funcionário das finanças não pode actuar em função do cartão partidário de quem manda, o que também e tal…

Ora, um Professor não pode estar preso a amarras partidárias, até porque uma parte muito grande dos Diretores das Escolas foi escolhida pelos partidos. As opções que cada um tem para tomar no âmbito do trabalho docente têm que estar completamente submissas aos interesses dos alunos  e nunca aos interesses do poder. E, deixo apenas alguns exemplos:

– os exames nacionais são um erro CRATO e condicionam de forma estúpida todos os processos de ensino e de aprendizagem. Mesmo considerando que estou a fazer mal, tenho que preparar os meus alunos para os fazerem, mas não abro mão de gerir o processo de ensino do modo que acho mais adequado para os alunos e esse, não contempla exames.

– os programas das disciplinas são, nos países decentes, um instrumento estável, em alguns casos, durante décadas. Ora, nós por cá, andamos completamente ao contrário. No caso da matemática, desde 2007, vamos já no terceiro programa. Os alunos que estão no 9º ano passaram por 4 versões diferentes. Perante tanta instabilidade só a independência profissional dos docentes consegue garantir a tranquilidade que os alunos precisam. Isto é, as aulas funcionam, apesar do Ministério da Educação, dito de outro modo, os alunos aprendem porque os professores não ligam às parvoíces que os Ministros publicam. As Escolas funcionam apesar do Ministério da Educação.

– a sociedade exige hoje à escola um conjunto de responsabilidades que, manifestamente, não são património natural desta instituição. Mas, na ausência das famílias e até da própria sociedade, sobra para a escola: sexualidade, ambiente, educação rodoviária, etc…  Parece que é à escola que compete fazer o tratamento de todas estas matérias. Mas, permita-me que o questione, caro leitor: perante um caso, por exemplo, de uma gravidez precoce numa menina com 15 anos, dará prioridade às revisões para o teste ou ao tratamento da questão no contexto da turma?

São estas e outras questões, como os autores a serem escolhidos em Português, as matérias a serem destacadas em História, etc, etc… Um conjunto tão grande de questões que mostram claramente como não é possível tornar o Professor, no seu sentido mais amplo, como um simples assalariado ( e que falta me faz o que me roubam todos os meses) dependente do patrão. A única submissão de um docente só pode acontecer na dependência dos interesses dos alunos.

É esta a Liberdade que Cavaco & Passos querem extinguir.

É esta a Liberdade que os meus alunos exigem!

 

Comments

  1. Por que carga de água os professores (as) de religião e Moral são pagos com o dinheiro dos contribuintes? São as dioceses que os escolhem e colocam nas escolas, quais controleiros da moral alheia. E o contribuinte paga-lhes os ordenados, goste ou deixe de gostar. São milhares deles em todo o país.
    O Ministério da educação corta em tudo o que é despesa, por que não corta nestes inúteis? Quem quiser vícios que os pague.

  2. Obrigado pelo comentário. Creio que essa questão está incluída no acordo entre o Estado Português e o Vaticano (concordata). Creio…

    • Que esteja. Mas não estamos em tempo de poupanças? Porque temos de pagar pelas crenças alheias? Têm todo o direito a ter educação religiosa, se a quiserem pagar. Não deve é ser o Estado (laico) a pagar essas opções pessoais. E se eu quisesse que os meus filhos tivessem Karaté (p exº) na escola? O Estado pagava a um professor para lho ensinar ou tinha de ser eu a pagar do meu bolso?

      • JMC, sim, ok. Eu limitei-me a responder à pergunta. Confesso que não tenho reflexão sobre isto, mas sou tentado a concordar. Sendo que, repito, não sei o que se passa em relação a outras religiões.
        JP

  3. Nightwish says:

    “Não podem é exigir que seja eu a pagar, isto na base do argumento da direita, o famoso utilizador / pagador.”

    Curiosamente, nunca se queixam de que as portagens são completamente desproporcionadas relativamente aos pesados, que são basicamente os únicos a afectar a estrada…

  4. O que eu noto é que a Educação em Portugal tem estado prisioneira dos problemas laborais dos professores e dos trezento mil votos que isso represanta.
    Uns carpinteiros , engenheiros, enfermeiros meus amigos tambem gostavam que ninguem com menos anos de profissão lhes passasse a frente mas pobres não se souberam guindar no centro do mundo da sua profissão.

    • Meu caro, eu por estar mal, não quero que outros fiquem mal. Isto é, por ver a minha profissão sem regras, não vou subscrever que outros percam regras que fazem sentido. O contrário também será verdade, isto é, se há regras que me parecem adequadas na gestão dos recursos do MEC, então que sejam ampliadas a outros. Por mim, na boa. Aliás, estou convencido que teríamos menos cunhas e mais transparência. JP

  5. Para além da mudança constante dos manuais escolares, o novo acordo ortográfico como imposição e em tão pouco tempo é completamente prejudicial para os alunos, já o é normalmente por ser um um acordo sem sentido nenhum, e sendo obrigatório e imposto em tão pouco tem pior ainda. E mais nada tenho a acrescentar, pois vossa excelência diz tudo sobre o que tem destruído a escola.

  6. Habt ihr еinen Kօntɑkt bei euch?

Trackbacks

  1. […] Liberdade para Educar. […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading