Não é caca, é mesmo merda

eat shit

Anda a nossa extrema-direita neoliberal numa desmesurada lufa-lufa tendo por alvo a Raquel Varela. Não procurem uma linha que seja onde se critique o que tem a moça publicado sobre o país onde estamos – não há. Mas já teclar sobre a personalidade, o clássico argumentum ad hominem, floresce-lhes nos dedos com uma dimensão inesperada.

Ele foi a Helena Antena1 Matos, por conta do guarda-roupa de Passos Coelho, a beata Maria João Marques desenvolvendo o tema dos trapos, sobre o que imagina nos seus piores pesadelos ser o socialismo, e agora André Azevedo Alves em pleno estilo Ramiro Marques, a que pelos vistos não segue só a linha censória de comentários, caindo na velha argolada de invocar o socialista e notável anti-estalinista George Orwell para meter uns bacóros ao barulho.

Ainda pensei que tanto trabalho vindo de quem despreza o papel da sua força se deveria a uma pepinada televisiva que a rapariga frequenta, e nunca consegui ouver dadas outras presenças intelectualmente repulsivas. Mas parece ter a coisa explicação mais prosaica. Escreve este último:

Se alguma coisa distingue a investigadora Raquel Varela, não é o seu maior grau de radicalismo, mas sim o ter um discurso mais articulado e uma imagem mais cuidada e apresentável do que muitos dos seus pares que pensam basicamente da mesma forma, mas não possuem dotes nem projecção comunicacional comparável.

Ora lá está: uma imagem mais cuidada e apresentável. O drama, o pavor, a tragédia. É um facto que a Raquel Varela sempre teve modos de tia, manifestos no vestir e não só. Uma beta de esquerda, o que se reflecte em disparates menores que solta aqui e ali, mormente sobre mercearias de bairro. Uma questão de classe, podia dizer-se deste lado, coisa que nunca impediu muito bom filho da burguesia, por origem de classe ou opção de vida, de ser de esquerda.

Uma questão de classe, sem classe nenhuma, grita-se do outro lado, ofendidíssimo porque uma que poderia passar como sua se empenha politicamente no que eles acham ser o lado contra natura.

O horror da burguesia à traição de classe não tem limites, é um sabido clássico. Malta de esquerda mal-vestida (sim, o mau gosto discute-se) como eles andam, dando à apresentação a importância que não tem, somos o que fazemos e não aquilo que o dinheiro compra, é-lhes insuportável e estraga-lhes o cliché estereotipado; a burguesia é tão monótona nestas coisas que até chateia.

Uma linha sobre A Segurança Social é Sustentável que a Raquel Varela coordenou, e onde se desenvolve a tese de um notável mas discreto economista português? nem pensem. A nossa boa e velha burguesia encanita-se com os trapos, a aparência, as tiradas palermas sobre a mãe Ronalda, que sente como território seu, e nem entremos no campo do papel ideológico das casas dos segredos e outra mera propaganda do capitalismo em formato de lixo televisivo.

Deixo-vos com a resposta de Pablo Iglesias a uma tirada do porta-voz do PP, franquista e neoliberal, inimigo portanto do Orwell que na Guerra Civil seus ancestrais heroicamente combateu. Parece que na esmerada educação dos colégios privados se aprende a dizer caca por merda, como se chamar caca à merda lhe retirasse o odor. Mas é mesmo de merda a capacidade argumentativa da extrema-direita, faça-se caceteira ou arme-se em “liberal”. E cheira mal, tão hipocritamente mal como o velho hábito de disfarçar o naturalíssimo suor com refinados perfumes.

Comments


  1. Reblogged this on O Retiro do Sossego.


  2. velhos velhos velhos do tempo da união nacional…

  3. joao lopes says:

    “helena antena 1 matos” tá muito boa…vejam lá uma mulher “empreendedora”,”corajosa”,neoliberal e anti-estado ,e claro,com um odio desmesurado ao socrates(freud explica) …e que trabalha para o estado,com um programinha sobre as modinhas e irrelevancias do 25 abril,como por exemplo os gelados que se comiam em 24 abril de 74.