A UE pretende em breve assinar dois acordos comerciais de longo alcance : um com o Canadá (CETA = Comprehensive Economic and Trade Agreement) Canadá e outro com os EUA (TTIP = Transatlantic Trade and Investment Partnership). A linha oficial é que os acordos irão criar empregos e aumentar o crescimento económico. No entanto, os beneficiários destes acordos não são de facto os cidadãos, mas grandes corporações.
O acordo tem sido negociado secretamente, ao nível da UE, sem intervenção dos parlamentos nacionais. Mais um belo exemplo da democracia da “europa”, que permitirá, neste caso, a imposição do acordo a cada país, sem resistência.
Os investidores estrangeiros (ou seja, as empresas canadianas e norte americanas), se acharem que sofreram perdas por causa de leis ou medidas da UE ou dos estados membros da UE, passarão a ter o direito de processar a UE ou esses estados por perdas e danos. Esta possibilidade também poderá abranger as leis que foram promulgadas no interesse do bem comum, como a protecção ambiental e do consumidor.
Este tratado é um passo de gigante em direcção ao fim do Estado soberano, a favor da governação pelas multinacionais. O parlamento de um país, representativo da vontade dos seus cidadãos, decide que não embarcará, por exemplo, na aventura transgénica? Logo a Monsanto, só para citar uma multinacional, poderá processar esse país por perdas. Limites à exploração comercial em zonas ambientais protegidas? Processo. Interdição de uso de determinados pesticidas e antibióticos na cadeia alimentar? Milhões por supostas perdas. Proibição ao tabaco? Indemnização.
É isto e muito mais que se negocia nos gabinetes da UE, entre burocratas e multinacionais, sem que a sua vontade seja considerada.
E por cá, o que faz o Parlamento quanto ao TTIP?
Muito pouco tem sido discutido publicamente sobre o TTIP. O tema não tem passado na comunicação social, a oposição não coloca o TTIP na agenda política e o Governo/Assembleia da República fazem de paus mandados:
Resolução da Assembleia da República n.º 74/2014
Adopção pela Assembleia da República das iniciativas europeias consideradas prioritárias para efeito de escrutínio, no âmbito do Programa de Trabalho da Comissão Europeia para 2014.
A Assembleia da República resolve, sob proposta da Comissão de Assuntos Europeus, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, adoptar, para efeitos de escrutínio durante o ano de 2014, as seguintes iniciativas e temas constantes do Programa de Trabalho da Comissão Europeia para 2014 e respectivos anexos e aí identificados:
(…)
Temas
(…)
2. Negociações da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP).
(…)
A questão que se coloca é onde é que está esse escrutínio?
Assine a iniciativa contra TTIP e CETA
Apelamos às instituições da União Europeia e seus estados membros que suspendam as negociações com os EUA acerca do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (APT, ou TTIP em inglês) e que não assinem o Acordo Económico e Comercial Global (CETA em inglês) com o Canadá.
Mais informação: vídeos, O TTIP do Pacifico não é melhor que o nosso, Resolução 74/2014, de 6 de Agosto
[Adenda]
Sobre o TIIP em PT
- STOP TIIP – Somos cidadãos e organizações, membros da sociedade civil portuguesa, que partilham uma profunda preocupação pelas várias ameaças decorrentes da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, também conhecida como Acordo Transatlântico de Comércio Livre ou TAFTA).
- Governo de Portugal – “Um relatório independente sugere que a conclusão de um acordo ambicioso poderia resultar em milhões de euros de poupança para as empresas e criar cerca de dois milhões de empregos”. Os amanhãs que cantam.
- A FLAD e a Câmara do comércio, a par com o Observador, também publicitam a vertente americana da questão.
Reblogged this on O Retiro do Sossego.
Como sempre nas costas dos cidadãos, porque esta matéria deveria ser referendada.
Por isso, estou cansado de “representantes” que à primeira oportunidade se borrifam nos representados.
Vou mais além. Nem deveriam ser precisos referendos porque os eleitos estão no parlamento para defender os cidadãos.
Reblogged this on Ana Costa – Escritora and commented:
Querem o mundo (ainda mais) dominado pelas multinacionais? Não? Então leiam isto e informem-se.
O secretismo pretende impedir oposição fundamentada. A guerra ainda só agora começou.
Só na agricultura familiar perder-se-iam mais de 90.000 postos de trabalho.
perder-se-iam, com certeza, ambiente, natureza, saúde pública, alimentação de qualidade e soberania alimentar.
E ninguém fala dos benefícios? Vai acabar a chulice da alfandega portuguesa com o IVA e taxas cada vez que fazemos compras na internet de coisas dos estados unidos.
Eia! Vamos deixar de ter IVA para os produtos importados. Muito bom o seu humor.
Sejamos sérios. https://www.google.pt/?gfe_rd=cr&ei=zkt_VZGbPIKs8wfciYDACw&gws_rd=ssl#q=PCP+TTIP Oposição não é o ps, nunca foi, nem nunca será. Há partidos que são verdadeiramente oposição.
https://www.google.pt/?gfe_rd=cr&ei=zkt_VZGbPIKs8wfciYDACw&gws_rd=ssl#q=Bloco+de+Esquerda+TTIP
https://www.google.pt/?gfe_rd=cr&ei=zkt_VZGbPIKs8wfciYDACw&gws_rd=ssl#q=Partido+Ecologista+os+Verdes+TTIP
Você não fez o trabalho de casa e não está a dizer a verdade sobre a oposição.
Não conhecia essas iniciativas.
Em todo o caso, permita-me o preciosismo, pois o que escrevi foi “a oposição não coloca o TTIP na agenda política” e o facto é que a agenda política não tem sido marcada por este assunto, apesar das iniciativas do PCP e do BE.
Não lhe sei responder se têm posto em agenda ou não. Obrigado pela sua resposta.