Volto a deambular, indeciso entre o choro e a gargalhada, pela página que a Porto Editora criou para responder a dúvidas frequentes sobre o alegado acordo ortográfico (AO90).
Desta vez, houve duas entradas que me chamaram a atenção: 18. Já não é obrigatório colocar acento em formas do passado como ganhámos? e 21. A forma verbal dêmos do conjuntivo deixa de ter acento?
Em ambas as respostas, os autores remetem para o texto do AO90, o que está de acordo com os objectivos da página, aparentando coerência. Na verdade, o acento nas formas referidas era obrigatório e passou a ser opcional. O leitor acentuou? Está certo. Não acentuou? Está igualmente certo.
No que respeita ao cor-de-rosa, a Porto Editora defende que se possa escrever com ou sem hífenes, contrariando o texto oficial do AO90 e socorrendo-se do VOP, ou seja, quando o chamado acordo ortográfico obriga a que se mantenha a grafia de 1945, o VOP estipula uma dupla grafia, sendo que uma delas estaria sempre errada à luz de qualquer um dos dois acordos ortográficos mais recentes.
A mesma Porto Editora, confrontada com a possibilidade de não se usar acentos nas formas verbais acima mencionadas, recomenda, agora, que sejam acentuadas, mesmo que o AO90 seja preguiçosamente indiferente a isso.
A Porto Editora revela, nestes casos, uma nítida preferência pela grafia de 1945, apresentando argumentos consistentes a favor da manutenção dos acentos e criticando implicitamente a opção do AO90. Não é fácil a vida de uma instituição que quer aplicar o acordo.
E poderemos penalizar um aluno que prescinda dos acentos nas formas em análise? Não poderemos, por muito que a Porto Editora faça recomendações.
De qualquer modo, nos amanhãs ortograficamente cantantes imaginados pelos acordistas, é fácil adivinhar que os alunos, na realidade, passarão a usar cada vez menos acentos, porque o aumento de facultatividades é o patrão fora, a chave para a Caixa de Pandora. Nessa altura, a Porto Editora passará a ver o mundo de cor-de-rosa e decretará, contrariando o AO90, que o acento, afinal, é quando um homem quiser
Que grande palhaçada! Um país pobre com governantes intelectualmente paupérrimos, onde até a língua serve para dividir o povo!
A Porto Editora aconselha a ortografia legal? É bom, já que o Decreto nº 35.228 está em pleno vigor e não há outra.
Pelo menos se Portugal quer ser um estado de direito e uma democracia.
Caprichos de concubinas com força de lei era no “ancien régime.
Atenção, no seu texto: a possibilidade de se… poder ou não?
Tem toda a razão. Muito obrigado.