Sondagens minoritárias

Sondagem

Em períodos pré-eleitorais, os PS’s e os PSD’s desta vida têm dois tipos de reacções face aos resultados das sondagens: se a sondagem for de encontro aos seus objectivos, é motivo de entusiasmo e optimismo. No caso da sondagem dar a vitória ao adversário, desvalorizam-se as sondagens porque as sondagens valem o que valem e no dia da votação é que se vai ver. É conforme lhes convém.

Contra (quase) todas as expectativas, as sondagens mais recentes mostram a coligação à frente do PS, com vantagens relativamente confortáveis que demonstram que muitos portugueses estão prontos para voltar a entregar o país a um primeiro-ministro que mente, que foge aos impostos e que participa em esquemas de gestão clientelista de fundos comunitários e ao seu compincha que – perderia aqui um dia só para fazer um resumo “curricular” – simulou a sua demissão para ser promovido e com isso conseguir mais poder, custando milhões em juros ao Estado português sem ter sequer pedido desculpa. O suficiente para que já se abanem bandeiras de vitória para os lados da São Caetano, do Caldas e de todas as mansões por esse país fora onde habitem patrões apologistas da destruição dos direitos laborais.

Acontece que, as sondagens valem mesmo o que valem. E às vezes valem muito pouco. Olhemos para a Grécia: por altura do referendo, todos os dias surgiam sondagens que resultavam em empates técnicos ou diferenças residuais, chegando mesmo a haver uma sondagem que dava a vitória ao “Sim”. Os gregos foram às urnas e o resultado foi 61% – 39% com uma vitória esmagadora do “Não”. Mais recentemente, muitas foram as sondagens que apontavam para um empate técnico entre Syriza e Nova Democracia, com a sondagem dos oligarcas Bobolas a dar como certa a vitória de Meimarakis. Resultado final: Syriza vence, revalida a maioria absoluta com o ANEL, e deixa o Nova Democracia a 7,5%, vencendo desta forma não só a direita que arruinou o país como as próprias sondagens.

Mas existe um efeito perverso que decorre destas sondagens, que os partidos do regime têm sabido instrumentalizar a seu favor. Por um lado, existe a questão do suposto voto útil, a que o PS irá com certeza apelar nos próximos dias e que acabará por convencer alguns portugueses a transferir o seu voto de um partido à esquerda do PS para os socialistas para tentar evitar a catástrofe que será uma eventual reeleição do PàF. Por outro lado, haverá muito quem, olhando para estas sondagens diárias feitas com amostras residuais da população por telefone fixo (e você, costuma usar telefone fixo?), poderá sentir-se tentado a dar o seu voto à coligação. Se tanta gente o dá, porque raio não o há-de dar também você? Mas não caia nesta esparrela: perante um cenário quase inevitável da vitória de uma destas duas forças, o melhor que nos pode acontecer é que nenhuma tenha maioria absoluta. É que isto sem arbitrariedade deve doer menos um bocadinho.

Em 2009, após a sua demissão e pedido de intervenção externa, José Sócrates conseguiu, apesar de tudo o que já pendia sobre ele, vencer o PSD nas urnas e formar um governo minoritário a cujo definhar parlamentar fomos assistindo durante dois longos anos de PEC’s, cortes e subidas de impostos. Parece que o nosso masoquismo intrínseco nos encaminha para um regresso ao passado e Passos Coelho, que tão bem tem vindo a seguir as pisadas do seu antecessor, parece condenado a ficar refém de uma Assembleia da República que, a julgar pelas referidas sondagens, voltará a ser maioritariamente de esquerda. Que assim seja. Se a maioria prefere gente do calibre de Sócrates, Passos ou Portas, que se amanhe e não se venha queixar depois.

Foto@Jornal do Algarve

Comments

  1. Nightwish says:

    Os portugueses querem mais do mesmo ou um governo minoritário que terá dificuldades em fazer mais do mesmo? A escolha é sua.

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