Juncker e o charme do défice francês

1929 Innocents of Paris (Maurice Chevalier) 01Numa entrevista ao canal televisivo do Senado Francês, Jean-Claude Juncker declarou que a França não deverá ser sujeita a sanções, apesar de ter um défice superior a 3%, porque “é a França”. No texto da Reuters, utiliza-se, de modo quase não-jornalístico, o advérbio “candidly” (‘candidamente’) a propósito destas declarações.

Provavelmente, Juncker olha para o défice português do mesmo modo que José Cid olha para os transmontanos: o défice tuga é feio, desdentado, deixou crescer a unha do mindinho e coça o rabo. O défice francês tem a voz e o charme de Maurice Chevalier, cheira a perfumes caros e não entra em restaurantes sem duas estrelas Michelin. É claro que isto é apenas uma questão de aparências, porque, na realidade, ambos estão acima dos 3%.

A obsessão do tecto do défice é uma das causas para os vários problemas sociais e económicos vividos por muitos europeus, que são apenas pessoas, entidades com menos direitos que muitos conceitos económicos.

Qualquer  pessoa sensata sabe que não deveríamos imitar os luíses montenegros deste mundo e que, portanto, a vida dos cidadãos deveria pesar mais nas decisões de Bruxelas e de todas as outras capitais da União Europeia.

Desejando, assim, que todos os países estejam a salvo desta mentalidade que pune as gentes, é importante lembrar que Jean-Claude Juncker faz parte de uma pandilha que aproveita o poder para exigir mais a uns países do que outros, tendo o descaramento, e não a candura, de o afirmar em público.

Aproveitemos para lembrar que os meninos do PSD e do CDS estão ao lado de Juncker. Parecendo que não, faz alguma diferença.

Comments


  1. O que se espera deste corrupto?
    Quantas empresas fraudulentas negociaram acordos secretos com Juncker quando ele era o 1º ministro do Luxemburgo e fugiram aos impostos em muitos outros países?
    Já houve reacção do governo ou do papagaio Presidente da República à declaração deste mafioso?
    Não me apercebi.

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  1. […] De acordo com o Institute for Economic Research, já houve 114 violações das metas estabelecidas e, neste momento, apenas Portugal e Espanha estão sujeitos a possíveis sanções. Essas 114 (por extenso: cento e catorze) violações não foram levadas a cabo apenas por Portugal e Espanha: o país que mais vezes falhou neste campeonato foi a França, mas Juncker já explicou por que razão a França não pode ser castigada. […]


  2. […] Se Durão fosse francês, Juncker tudo perdoaria, mas o que me traz aqui hoje é manifestar o meu regozijo, porque um reconhecimento tardio não deixa de ser reconfortante: é que o antigo primeiro-ministro português sempre foi um lobista. Na realidade, o que é que o homem esteve a fazer estes anos todos em Bruxelas que não fosse contribuir para que a Europa se pusesse ao serviço das grandes empresas mundiais e alemãs? […]


  3. […] num ambiente em que os políticos nem sequer precisam de ter vergonha na cara, bastando lembrar o amigo Juncker e o seu fascínio pelo charme do défice francês ou, há mais tempo, o Durão Barroso que jurou pela existência de armas terríveis no Iraque e que […]