A eleição de Donald Trump é, até pela extensão do significado que tem além fronteiras dos EUA, matéria para todos os receios.
Todavia, convém não esquecer que Trump foi eleito e pelo mesmo sistema eleitoral que antes elegera Obama e, antes deste, Bush Jr., e antes deste, Bill Clinton, etc.
Continuo convencido que a eleição de Trump também se deveu, e muito, a uma má escolha chamada Hillary Clinton. Fosse o adversário Bernie Sanders, e estou em crer que Trump não estaria na Casa Branca.
Mas foi como foi, e deu no que deu. E Trump o que está a fazer é nada mais do que tentar cumprir o que prometeu. E espero que continue a tentar (mas sem conseguir). Pela simples razão que quanto mais tentar cumprir o que prometeu, mais norte-americanos perceberão o erro que foi elegê-lo. E nestes incluo empresários e banqueiros, que não querem arriscar o fim do multilateralismo comercial e financeiro de que depende fortemente a economia norte-americana e o próprio dólar. Para não falar do mal-estar das relações entre os EUA e seus aliados e parceiros económicos, como é o caso do México e da Austrália, que só prejudica os negócios. Bem como com um dos seus maiores credores internacionais: a China.
Será a sociedade norte-americana, com toda a sua mobilização civil, a imprensa, as garantias constitucionais, e as instituições estaduais e federais, desde a justiça até à administração pública, a força maior para derrubar Trump e impedir que conclua o seu mandato. De modo a dar um sinal claro que presidir aos EUA não é a mesma coisa que gerir um casino. Nem a Lei se manipula como se fosse uma roleta, para garantir o lucro da casa.
Mas, convenhamos, que é necessário que nos EUA surjam opções credíveis. Sem os habituais rostos do passado, que suscitem dúvidas se tudo não passa de um processo que apenas quer trazer o poder de volta às famílias do costume.
Como será necessário, também, que a Europa não se deixe contagiar. A começar pelas eleições francesas que se avizinham. Onde é imperativo travar o avanço da extrema-direita para o poder. O que implica coragem para assumir compromissos reais com os princípios humanistas de solidariedade e de justiça na distribuição da riqueza, e com a libertação da escravatura das lógicas de austeridade. Coragem para recuperar a essência humanista do Projecto Europeu.
Caso contrário, Donald será a armadilha perfeita. E a presa, somos todos nós.
Comentários Recentes