Agir com base na solução e não na prevenção – a actuação diplomática portuguesa no caso de Almaraz

nuclear

O Ministério dos Negócios Estrangeiros Português retirou a queixa que mantinha desde dia 16 de Janeiro contra o governo espanhol na questão de Almaraz. Em troca da retirada da queixa, o governo espanhol concordou em tomar algumas medidas provisórias (não avançar com o processo de construção enquanto nos próximos 2 meses não ceder toda a informação sobre o assunto ao governo português; técnicos portugueses e da Comissão Europeia irão realizar uma vistoria técnica à central), o que levou o Ministro Artur Santos Silva a declarar-se disponível para realizar uma nova queixa se o governo português entender daqui a 2 meses que continua a ter motivos:

“Ao fim dos dois meses, faremos o balanço. Se Portugal entender que continua a ter motivos para que a queixa prossiga o seu curso, a mesma mão que assina a carta a retirar a queixa, assina a carta a repô-la” – retirado aqui.


A diplomacia portuguesa voltou a demonstrar com esta decisão a sua extrema habilidade para agir com base na solução imediata e não na estratégia da prevenção. Por mais que o Sr. Ministro considere que esta decisão não é um recuo em relação às pretensões do nosso país, em diplomacia, as alavancas de pressão colocadas nas instâncias internacionais só se retiram depois de satisfeitos os critérios que Portugal entende como correctos para assegurar que a central não apresenta riscos para milhares senão milhões de Portugueses. Prevenção é precisamente continuar a pressionar o governo espanhol nesta questão até que hajam 100% de certezas.

Agir na solução imediata é precisamente isto: vamos lá ver se aquilo tem condições primeiro e depois voltamos a pensar se actuamos ou não. Para já não podemos manter a queixa porque os espanhóis até foram nossos amigos e comprometeram-se a ouvir as nossas pretensões. De boas intenções está o inferno cheio. Espanha ganha obviamente algumas semanas para preparar as visitas dos técnicos para embelezar a caduca central nuclear, e, espero estar enganado, voltará a cumprir História, aquela História do nosso passado que bem conhecemos no que concerne às relações diplomáticas com os castelhanos: cumprem uma operação de cosmética, enviam-nos estudos encomendados para dizer que está tudo bem e que não há problema nenhum, enganam os nossos técnicos e responsáveis diplomáticos com meia dúzia de palavreados e de promessas para conseguir o nosso aval e a certeza de que não continuaremos a pressionar nas instituições europeias, para depois, no dia seguinte à vistoria técnica, a questão voltar ao seu ponto de partida. Nesta estratégia dos espanhóis, já só cai quem quer.

 

Comments

  1. Paulo Só says:

    Já baixaram as calças, o resto vem daqui a alguns meses, se possível sem que se fale mais no assunto. Se esta era a situação há anos para quê mudar agora? Um outro governo que o faça.


    • O problema é que o perigo daquilo é iminente. Há uns anos atrás passei lá ao lado e pude reparar que aquela central nuclear está a ficar muito decadente.