E que dizer do ‘casar bem’ de Rodrigues? Reparem ainda que a esfera doméstica da opinadora do facebook não inclui cozinhar ou limpar casas de banho. Não, é decorar e receber. O trabalho doméstico é feito pela criada. Ora, claro que escreveu para o mundo upstairs (malgrado usar o piroso ‘esposa’). Mas queriam que se preocupasse com a vida da criadagem?
E agora o choque com a realidade. Portugal é um país onde as mulheres têm uma alta participação no mercado laboral. Porque, com salários baixos, são necessários dois ordenados e, como foi mostrado na apresentação do recente estudo da FFMS sobre as mulheres portuguesas, apreciamos a independência financeira. (As mulheres portuguesas têm a sorte de não conhecerem ‘a Mulher’ de Rodrigues.) Por outro lado, temos muitas famílias monoparentais sustentadas pela mãe.
Ora Joana Rodrigues legitimiza um mundo onde as mulheres têm menores rendimentos que os homens. Se esta defesa é problemática nos casais com dois baixos ordenados, nas famílias monoparentais é infame. É uma defesa do empobrecimento de famílias e de menores oportunidades para as crianças.
Geralmente quem tem atividade política persegue a sua visão própria de bem comum. Que uma tendência (mesmo que irrelevante) de um partido político defenda a pobreza e a infelicidade alheia é algo que nunca tinha visto. É repugnante. Mas são só os integristas católicos a fazer política. Estrebucham furiosamente contra uma medida que aumenta a participação política feminina, contra a igualdade salarial, chamam nomes às feministas, mas, olha, distraem-se de dizer coisas sobre pobreza (que incide mais sobre mulheres), violência sexual ou doméstica. Prioridades. Quem quer saber se as mulheres downstairs levam umas traulitadas ou são molestadas?
Maria João Marques no Observador a propósito do artigo de Joana Bento Rodrigues que me escuso a citar para não dar audiências.
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