Francisco Seixas da Costa até nem parecia ser um mau embaixador. Mas é – sejamos claros! – um javardo. Deixemo-nos de eufemismos. E os políticos que se revêem no seu estilo são isso mesmo – uns javardos.
Para além de javardo, é cobarde. Atira a pedra e esconde a mão. Não gostou que lhe respondessem à letra no Twitter, vai daí fez-se de calimero (como se os primeiros insultos não tivessem partido dele) e a seguir bloqueou a sua conta.
Para além de javardo, não sabe escrever. Revêem-se escreve-se com dois e. Com um e, fica revêm-se – se não sabe o que significa, pergunte ao seu colega Jorge Ritto.
Quando penso em Francisco Seixas da Costa, penso num dos coveiros da Linha do Tua. A mando de Sócrates e de Mexia, prestou junto do ICOMOS um trabalho essencial para a construção da barragem e para a destruição de uma das mais belas linhas férreas do mundo. Espero que tenha sido recompensado em conformidade.
Entretanto, muito atento ao fenómeno futebolístico, ficamos a saber por si que os adeptos do FC Porto são javardos e que todos os sportinguistas apoiantes de Bruno de Carvalho também o são. De fora da sanha javarda de Francisco Seixas da Costa fica Luís Filipe Vieira. Pelos vistos, o discurso por ele proferido na Assembleia Geral do Benfica há pouco tempo – «Não comprámos o filho da puta de um resultado», «Jorge Mendes não tem um caralho de um jogador, caralho» ou «Isso é merda» – não é suficiente para ser apelidado de javardo.
Pois é, senhor embaixador, o respeitinho é muito bonito.
Francisco Seixas da Costa é um javardo
Seixas da Costa retractou-se
disto [imagem tirada daqui]: no futuro do presente composto, como é da praxe, e com o cê bem subjacente, apesar de tudo (e revêem em AO90 é reveem, mas, pronto, acontece).
Aqui estamos
Isabela
Aqui cheguei um dia ao Aventar por acaso ( ou não ) e o certo é que por aqui fiquei convosco, com visita ”obrigatória” diariamente no meu recanto de intervenção muito limitada/condicionada e pessoal, mas firmada em princípios, alguns agora apelidados de conservadores, segundo a minha circunstância familiar, …eu que, desinformada e um tanto ingénua por educação “castradora”, marcada igualmente pela utopia dos saudosos anos sessenta, comecei a tomar consciência da complexidade do mundo só tardiamente lendo por ex. Roger Garaudy e posteriormente em convívios a outros níveis que não só familiar e restrito, atrevendo-me agora a comentários de acordo sobretudo com essa minha sensibilidade e vontade de acreditar ainda que é possível mantermos a esperança e teimosia simbólica de querer “ouvir as pedras a cantar ” (conforme poeta grande nosso e quase esquecido, José Gomes Ferreira) .
Apesar das pragas trazidas pelos vendavais, a capacidade de ter consciência do mundo que nos rodeia, socialmente interveniente e defensora das minhas opiniões mesmo que nem sempre escutadas ou pelo menos consideradas, ousando até agora contra essa coisa esquisita do política/socialmente correcto. [Read more…]
Mudança horária
Por norma não aprecio que a UE dite regras sobre a forma como Portugal decide viver. Mas lá diz o ditado, não há regra sem excepção e neste caso da mudança horária, não percebo a teimosia do governo e mais algumas pessoas em Portugal, quer-me parecer que se está a partir de errada premissa.
Muitos se lembram que no início dos anos 90, o governo de Cavaco Silva decidiu alinhar a hora com as capitais europeias, resultando a decisão no amanhecer perto das 09h00 durante os meses de Inverno. Mas o facto é que a hora de Verão na qual entramos hoje, está mais afastada da hora solar, logo da realidade, o que provoca nos meses de Verão que anoiteça perto das 22h00. [Read more…]
Respigar*
Glória Sacer*
Celebrando os 10 anos do Aventar, em que respigamos o que o dia nos traz de novo, trago o meu poema Respigar, também ele uma homenagem à cineasta belga falecida ontem: Agnes Varda.
“Nos meus filmes quero fazer com que as pessoas vejam profundamente. Não quero mostrar as coisas, mas quero dar às pessoas o desejo de ver.”
Respigar – O que foi que eu fiz ao dia de festa
No, no. Yo no pergunto, yo deseo. (Lorca)
O que foi que eu fiz ao dia de festa,
como uma flor deitada à beira do morto
imagina como morro
familiarmente e devagar,
devagar celebra – de ontem – o acerbo
e deseja relâmpago
a terra ou eu a tua água
aveludada sede
o poema
meu
esse pomar no filão de sóis
entardecendo-nos lado a lado,
e a vontade: não, não
chegar o quanto antes
a esse lado que nos traz ioiô;
ali o boomerang-amor
impedindo-nos a fuga fácil
a esse fluxo de fastio,
e a surpresa reacendo-nos
os olhos e o ventre
lado a lado: o gozo da caça,
os risos das noites de chuva arrancando
da puberdade o mar,
o coração exposto ao veneno
múltiplo das palavras
e no grupo de cães as cadelas
lambiam o próprio pêlo e o sexo
e bailavam atrás de nenhum rabo
e estabeleciam o preceito
e a intensidade da dentada
e o tão profundo medo de olhar
o sol vazado sob a areia,
veias de terror, as pegadas
tatuando dias e noite:
até morrerem – deslumbradas –
com a carne;
e a dor fecunda como a lua,
no seu movimento peculiar,
os olhos da infância,
o gozo e o riso dos olhos da infância
extinguindo-nos
diamante o sentido livre;
e o imprevisto viveu outra vez
a carne, o frio, e neles a ficção
ficando aquém de todo o sangue –
esse momento disseminando-nos
em agora: bailarina ou soldado,
e a metáfora embala, lambe
o coração em bala mata
o impossível nas forças armadas
e as nossas forças blindadas,
de visita ao corpo de batalha;
outra vez, já enternecido desse dia, fica
segando inevitáveis colmeias ou o coração
escorrendo ou discorrendo
– o quanto gostes –
exclui o mel – sem esquecer – o quase
familiar compacto
adoecer da noite.
[Continua]* poema de 2002/3
- A Glória, em 2009, foi a autora do primeiro post da história do Aventar. Dez anos depois, dá início à nossa segunda década…
Faz hoje dez anos
Faz hoje DEZ anos que o Aventar nasceu e daqui a menos de um mês, os mesmos dez que por aqui comecei a andar, cheio de orgulho, que tinha, em pertencer a esta casa.
Os anos foram passando, e … acabei por rumar a outras paragens sem que alguma vez esquecesse o maravilhoso grupo de que fiz parte, e sem que alguma vez me deixasse de sentir aqui, como em minha casa.
Parabéns Aventar, pelo teu aniversário.
Parabéns Aventar porque a par dos teus dez brilhantes anos, também conseguiste manter a qualidade a que inicialmente te propuseste.
Parabéns Aventadores, pela qualidade que fez com que tanta gente viesse para “nos” ler.
Obrigado Ricardo Ferreira Pinto por me teres convidado nos idos de 2009.
Continuemos!
A aliança ortográfica
Linguistics is the field that tries to figure out how human language works — for example: how the languages of the world differ, how they are the same, and why; how children acquire language; how languages change over time and why; how we produce and understand language in real time; and how language is processed by the brain.
— David Pesetsky
***
Depois de Santana Lopes ter promovido os fatos, através do famoso “agora facto é igual a fato (de roupa)“, vem agora o Expresso (num intervalo das aulas) dar uma notícia sobre a Aliança com contatou:
Na quinta-feira, dia deste excelente artigo de Nuno Pacheco, o Diário da República trouxe-nos os habituais fatos
e andou a promover contatos [Read more…]
João
Mais mês, menos mês, faz dez anos que o João me convidou para o Aventar.
Ao João não se podia recusar um convite sem ele se tornar chato. Um chato especial, é certo, mas chato.
O João podia ser um chato maravilhoso, cheio de doçura e candura, insinuante e convincente, e podia ser ríspido e cortante como um x-acto. Era capaz de ser chato quando falava e tataramudeava, e era capaz de ser chato quando se calava e nos olhava com olhinhos trocistas e aquele sorrizinho fuinha.
O João era capaz de ser chato até quando nos encantava. Se alguém não acredita que se pode ser chato e encantador, não conheceu o João. Mas também podia ser um adversário terrível, persistente até ao tutano, determinado como só um grande chato o pode ser.
O João, para dizer a verdade, até na morte foi chato. Não apenas porque morreu, porque essa é a suprema chatice, mas também pela forma como não morreu. Os outros muito nossos que morreram, o Tó, o Rui, o Paulo e mais alguns, ficaram postos em sossego e, depois de devidamente chorados, só aparecem raramente, de longe em longe, numa imagem fugaz, numa frase que recordamos, numa história que contamos, e regressam de novo ao seu repouso lá para os lados obscuros da eternidade. É como se tivessem morrido antes de nós para nos ensinar como se morre, como se permanece imóvel e ausente na penumbra, como, afinal de contas, se comporta um morto depois depois de ter morrido.
O chato do João, não. Está sempre a aparecer quando vamos na rua, quando bebemos um copo, quando discutimos uns com os outros. É inconveniente, interrompe-nos a leitura de um livro sem pedir licença, distrai-nos quando vemos um filme, espreita por cima do ombro se escrevemos um texto, fala-nos ao ouvido quando estamos em silêncio, põe-se a dizer larachas, a fazer advertências, a responder sem ser perguntado. E continua a mandar-nos à merda sem respeito nenhum. “Porra, pá, nunca mais aprendes”, “eu tinha-te avisado”, “és sempre a mesma merda mas já estou habituado”, “se eu não te conhecesse, até era capaz de te dar razão”, “se queres ir aí, vai, mas é só porque não percebes nada do assunto”, “Já te disse mil vezes onde é que se come o melhor cabrito aqui perto, isto se conseguisses imaginar o que é um cabrito a sério”.
O João é tão chato, aliás, que me obriga, para além de o ouvir, a falar com ele quase todos os dias, a fazer-lhe perguntas, a dar respostas por ele, a interrogar-me sobre o que ele acharia disto ou daquilo, a desatinar com ele e apanhar-me a dizer em voz alta “tá as a ver, meu cabrão, aconteceu exactamente como eu te tinha dito”, “olha, João, vai à merda mais o teu cabrito. Descobri um muito melhor que o teu, mas tu é que percebes de cabrito”, ou, quando ele, só para chatear, me vem falar do FCP, “epá, João, às vezes consegues ser quase tão fanático como o Pinto da Costa”. E leva-me regularmente a desabafos “Percebes, João? Esta treta não é fácil”, “Já viste isto?…”, “Repete lá aquela cena…”
As 33 perguntas que o Aventar gostaria de fazer ao Presidente da República
No âmbito das comemorações dos 10 anos do Aventar, o nosso blogue convidou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para uma entrevista em data aberta, ou, em alternativa, para um texto de opinião a ser publicado pelo Chefe de Estado.
Dado que ambas as hipóteses foram recusadas, o Aventar aproveita o dia do seu aniversário para publicar em forma de post as perguntas que gostaria de fazer ao Presidente da República.
Por ser um trabalho colaborativo, que contou com a participação dos vários autores do blogue (e que aguarda também a participação dos leitores), optámos por não seguir qualquer critério na ordenação das perguntas. [Read more…]
A patética comparação de Estrela Serrano
Quem me conhece e acompanha o que escrevo, certamente saberá que não tenho grande simpatia por Francisco Pinto Balsemão, o embaixador do sombrio Clube Bilderberg em Portugal. Mas uma coisa é não simpatizar (no meu caso é mais repúdio) com o indivíduo. Outra, muito diferente, é alinhar com comparações absurdas como esta, protagonizada por Estrela Serrano.
Estrela Serrano, para quem não sabe, faz lembrar um daqueles bloggers formatados do socratismo, sempre pronta para dar o peito às balas por qualquer donzela socialista em apuros. Como é seu direito. Daí a comparar o regabofe familiar-partidário que se instalou no governo à condução dos destinos de uma empresa privada, onde, naturalmente, os filhos do dono e fundador da empresa têm lugar na sua administração, é patético. Pura e simplesmente patético.
Futuro próximo, numa escola portuguesa…
Pai: – Filho, como foram as tuas notas este período?
Filho – Pai, tive negativa a português e matemática, mas nota máxima a andar de bicicleta.
Há que acabar com a ditadura do politicamente correcto. Certo?
Pois então, sempre que ouço falar em Zeca Mendonça, vem-me à memória o caso do pontapé no jornalista.
Neste caso, é ressabianço
Mesmo quando, pontualmente, toma decisões acertadas, a Alemanha tende a receber má nota.
Razões há muitas e certeiras para criticar a política alemã – o tema é, sem dúvida, fértil. Agora, esta decisão – “a Alemanha impôs, em outubro de 2018, um embargo às exportações de armas para a Arábia Saudita, incluindo vendas já aprovadas, na sequência do assassinato do jornalista saudita Khashoggi Jamal, no consulado da Arábia Saudita em Istambul” – não é um desses posicionamentos dignos de crítica, muito pelo contrário. O destaque dado nesta notícia à falta de entendimento entre os partidos, e não ao resultado objectivo – por muito que irrite a França e o Reino Unido, que querem continuar o negócio e precisam de umas peças alemãs para montar nas suas armas -, é tendencioso. Por uma vez, a decisão vai contra os interesses económicos alemães com a finalidade de impedir “exportações de armas para zonas de crise e ditaduras“, ou seja, em favor dos tão badalados e tão descurados valores europeus. Há-de ser temporário, mas, ao menos, vigora desde Novembro.
Vede a unificação ortográfica e pasmai!
O chamado acordo ortográfico (AO90) foi criado para uniformizar a ortografia lusófona e para acabar com uns alegados desentendimentos gráficos entre falantes intercontinentais da língua lusa e dar início a um universo editorial cheio de edições únicas do Minho a Timor. Escolheu-se o chamado “critério fonético”, o que garantiu, logo à partida, a impossibilidade de criar uma ortografia única. A incúria e a falta de rigor juntaram a essa impossibilidade a possibilidade de, dentro do mesmo país, poder passar a escrever-se “expectativas” e “expetativas”, em nome do estranho critério acima referido.
Os defensores do AO90, diante do caos, dizem que não era bem uniformizar, era só aproximar ainda mais, o que levou a que nascessem diferenças outrora inexistentes, como “receção” e “recepção”. [Read more…]
Nem tudo pode ser atribuído à natureza – o corrupto governo moçambicano tem a sua quota-parte de culpa
Michael Hagedorn
Sem dúvida que a ajuda às vítimas do ciclone IDAI é imperiosa e premente. Mas nem por isso há que fechar os olhos ao contributo do governo moçambicano para esta tragédia e para a situação miserável em que o país se encontra.
A última grande catástrofe com fortes cheias em Moçambique foi há quase 20 anos e, nesta época do ano, o país é regularmente fustigado por devastadores ciclones.
Mas o que foi feito, depois da calamidade ocorrida em 2000, para evitar que as consequências das próximas fossem tão dramáticas? Nada. Uma elite corrupta não fez nada para assegurar que na segunda maior cidade do país, que está praticamente ao nível do mar, fossem realizadas medidas concretas e eficazes para proteger as pessoas dessas devastações cíclicas. Desde o fim da guerra em 1992, o nível de vida da população pouco melhorou. No relatório da ONU sobre a pobreza, Moçambique ocupa o 180º lugar entre 186 países. [Read more…]
Rui Pinto, vilão ou herói?
As minhas costelas benfiquistas poderão levar a que leitores mais apressados vejam nesta minha breve opinião a defesa de um clube. Apesar de saber que isso vai ser ignorado, desejo deixar claro que sou adepto do Benfica durante os 90 minutos que dura um jogo, que não encontro nenhuma superioridade moral no meu clube, que não me espantaria que houvesse ou que haja muitos esquemas mafiosos associados directa ou indirectamente ao Benfica, o que quiserem, assim fique provado em tribunal, mesmo sabendo que pode haver uma grande distância entre tribunais e Justiça.
Ora, parafraseando Churchill, a propósito da democracia, é forçoso reconhecer que o nosso sistema de Justiça é o pior que há, à excepção de todos os outros. Por isso, enquanto Luís Filipe Vieira, o Benfica ou o diabo a quatro não forem condenados, serão inocentes, por muito que nos custe.
Rui Pinto, para quem não gosta de futebol ou para quem não gosta do Benfica, dois sentimentos respeitáveis e compreensíveis, é um herói. Se da sua actividade resultar a condenação de criminosos, óptimo, independentemente da cor clubística, partidária ou da roupa interior. [Read more…]
Government mob
São frequentes os casos de nepotismo em países do terceiro-mundo. Em Portugal longe vão os tempos em que um secretário-geral do PS, em vésperas de se tornar primeiro-ministro, alertou os correligionários que governar não era distribuir jobs pelos boys.
Nos últimos 24 anos, o PS governou 17, governando também a maioria das autarquias. A Juventude Socialista tornou-se na maior incubadora de empregos pagos pelo erário público, aos quais há que somar um infindável rol de pareceres, estudos, ajustes directos e afins. [Read more…]
Ganhou o lobby das editoras. Os tótós dos autores acham que foram eles que ganharam.
Quando vir um autor mostrar a fortuna, ou uns trocos, até, com a nova lei da rolha, garanto que como um chapéu (*).
Directiva dos direitos de autor é aprovada numa vitória para as indústrias de conteúdos
Como votaram os eurodeputados portugueses na nova directiva dos direitos de autor? Um enganou-se
Por exemplo, com a nova lei, para publicar os links em cima, o Aventar teria que pagar uma comissão ao Público. O que vai acontecer? Aqui no blogue não temos receitas, isto é mantido por carolice, pelo que se chegar a vias de pagamentos, bye-bye links (é a minha opinião e não a do Aventar – ainda não discutimos o assunto). Quanto aos gigantes, como Google e Facebook, farão, muito provavelmente, aquilo que o Google já fez em situações semelhantes. Adeuzinho hiperligações.
Quanto aos tais filtros, quem já tentou contactar o Youtube ou o Facebook sabe perfeitamente que do outro lado não há ninguém.
O elogio da saudade
João Branco
Certo dia, Jean-Paul Sartre afirmou que “cada palavra proferida surte as suas consequências, mas, cada silêncio também”. O silêncio mata mais do que um berro, do que uma discussão acalorada, fruto do momento. O silêncio é a arte da tristeza, os píncaros da solidão, o maior inimigo humano. Antoine Saint-Exupery pintou o quadro construtivista da nossa existência enquanto ser social, quando ditou que “somos responsáveis por todos aqueles que cativamos”.
O tempo, esse magnífico escultor de Yourcenar, não perdoa e avança a galope pela estrada fora, qual Julian Alaphillippe nos cumes dessa Europa. Se a minha vida fosse uma subida ao Muur-Kapelmuur ou ao Muur de Huy, certamente nunca teria passado da base.
Como um dia cantou Kate Bush: “se eu pudesse fazer um acordo com esse Deus de mil faces, e o convencesse a mudarmos de posições, eu subiria com todo o gosto essa estrada, essa colina, esse edifício” vezes sem conta, mesmo se não fosse para cortar a fita na primeira posição, porque saberia de antemão que estaria a chegar e a aspirar sempre a um mundo melhor.
Tu és e sabes que és o meu mundo melhor. A crítica mais certeira e aquela que me doeu mais nos últimos anos, porque de facto roça a obscenidade da verdade, esse valor tão raro nos dias que correm e como tal tão obsceno para tantas pessoas, foi proferida por uma das pessoas descritas neste breve exercício de ajuste de contas com o meu passado, com esse tenebroso monstro que por vezes não nos deixa avançar: “Tu prometes mundos e fundos às pessoas e depois nunca cumpres, não porque não queiras ou porque não trabalhes para isso, mas porque as tuas expectativas são sempre superiores à tua capacidade de trabalho”. Passaram 10 anos sobre a formação desta casa aberta por uma das pessoas com as quais me pretendo reconciliar nesta casa com este texto, o Ricardo. Porém, antes de passar ao Ricardo, que ainda está vivinho e de boa saúde, vêm-me à mente duas outras pessoas do meu passado com quem me quero reconciliar: uma infelizmente não está entre nós. A outra ainda está mais presente do que nunca, apesar da distância. Este post é dedicado ao Ricardo, ao João José e à Natascha, três das pessoas que mais rasto deixaram na minha existência, três das pessoas que mais marcas me deixaram no corpo.
“Eu sei que a saudade está morta… Quem mandou a flecha fui eu” – Conan Osiris
A grande família socialista e a hipocrisia dos restantes aristocratas do regime
Concordo com as críticas que têm sido feitas à excessiva predominância de laços familiares no governo de António Costa, com ramificações no Parlamento, em empresas públicas e noutros domínios da vida pública portuguesa.
Não se trata de questionar a competência de A ou B. Trata-se, acima de tudo, de questionar o processo de selecção, que numa sociedade democrática não se pode assemelhar ao de uma monarquia. [Read more…]
Carta de amor e de eutanásia
[Pata Negra]
Amélia,
Espero que esta carta te vá encontrar de saúde que por cá a guerra não deixa que te dê boas notícias.
Estranharás a falta da palavra “querida” antes do teu nome mas reconhecerás certamente a caligrafia. Sou o Janardo, o amigo a quem o teu Bernardo tem ditado todas as cartas de amor que tens recebido. Sei que também tu és uma analfabeta e peço, por isso, à interposta pessoa que faça guarda do que te vou contar e que, tal como eu sempre faço, tenha com este serviço uma fidelidade inabalável ao dito e ao lido e um voto de segredo tão sagrado como o dum padre confessor.
Bem sabes, das missivas passadas, como é a vida da tropa no inverno das trincheiras mas o Bernardo nunca te disse que, por vezes, as ânsias de sair da podridão são tantas que recebemos com alívio as ordens para uma missão de reconhecimento nas hostes ou mesmo para fazer um avanço com fogo sobre as suas linhas. No passado dia 10 de Fevereiro, eu, o Bernardo e mais dois camaradas partimos, destemidos, para uma dessas arriscadas incursões. Os boches atacaram-nos, os outros dois caíram que nem tordos, o Bernardo ficou desfeito e moribundo mas ainda com vida para me fazer um último pedido. [Read more…]
E de nós, quem cuida?
Carla Catarina Neves
Comecei a pensar neste texto, a 26 de Fevereiro. E comecei a traçar umas linhas “orientadoras”, precisamente nesse dia. Mas… tal como expliquei a quem me desafiou, o mais provável é que isto demorasse a sair. Nessa semana, estava ainda mais sobrecarregada. Aos meus dependentes habituais (tia e avó), juntava-se mãe (recentemente operada a uma catarata e a exigir acompanhamento) e pai (com conjuntivite infecciosa). Ou seja: o trabalho que era dividido habitualmente por 3, passou a ser desempenhado por um.
Diariamente, subo/desço 920 degraus. Nessa semana, contabilizei 16 kms diários (entre as 8h30 e as 2h da manhã). Banhos, refeições, tratamento de roupas, compras SOS, farmácia, consultas, etc. Conseguem ter uma ideia do que isto é? Se calhar, por muito boa vontade que tenham, não conseguem.
Quando foi a última vez que foram ao café, ao cinema, jantar fora ou dar um passeio sem terem de olhar para o relógio ou para o telemóvel (para saber se alguém tinha ligado a pedir ajuda)? O Cuidador já nem se lembra do que é ir comprar pão sem ser à pressa. Multipliquem isto 24h/dia, 365 dias/ano.
Mas o que é, afinal, um Cuidador Informal? Cuidadores informais são todos aqueles que prestam cuidados aos outros, de forma continuada e sem qualquer remuneração.
Normalmente, são familiares mas – e ao contrário do que saiu da proposta do Governo – , também são frequentemente assumidos por vizinhos e amigos. É também graças a eles, que não se ouvem mais notícias trágicas sobre pessoas encontradas mortas, nas suas casas, ao fim de dias. [Read more…]
Por trás das palavras – Huawei, Cisco, 5G, NSA e os EUA (6) – conclusão
No post anterior demonstrou-se a enorme dimensão da ameaça de cibersegurança que os EUA constituem para o resto do mundo.
Prestes a perder o controlo tecnológico sobre a nova infra-estrutura de telecomunicações, baseada no 5G, os americanos decidiram bloquear a Huawei no seu território e procuram que o mesmo fosse feito pelas restantes nações sobre as quais têm alguma forma de ascendente. Ao longo de diversos posts, ficou claro que a motivação é um misto de motivações económicas e de garantir a supremacia tecnológica sobre o 5G, o que contribui para o argumento económico, mas também, não menos importante, para manter a capacidade de espiar outras nações.
A pressão americana em Portugal fez-se sentir em diversas frentes. Por um lado, o PSD, de repente, descobriu a ameaça chinesa, depois de não ter tido escrúpulos em entregar ao Estado chinês uma infra-estrutura nacional absolutamente estratégica para o país (a REN). Mas não esteve sozinho. Vimos jornalistas como Victor Ferreira, Karla Pequenino (aqui também), Manuel Carvalho, Francisco Correia, São José Almeida e Nuno Ribeiro, entre outros, fazerem apenas meio jornalismo. O jornal Público, onde estes artigos foram publicados, parece ter-se tornado na caixa de ressonância americana quanto a este assunto. O editorial de Manuel Carvalho, em particular, é todo ele um exercício de opinião transvestido de jornalismo, decalcando todos os argumentos que têm sido usados pelos EUA e apontando apenas como ponto negativo os “casos escandalosos de entrega de dados privados por parte da Google ou da Facebook”, quando este tópico nem sequer é aquele de facto relevante quanto às ameaças de segurança em causa.

Destaque do Jornal PÚBLICO no dia 21 de Março de 2019
Carla Diaz, uma actriz brasileira transformada em perfil falso de apoio ao PNR
Inspirado, quiçá, no sucesso da saudosa Maria Luz, entretanto falecida, um activista da extrema-direita portuguesa decidiu apostar numa fórmula clássica e entrou no mundo dos perfis falsos de disseminação de propaganda política, usando como isco virtual fotografias da actriz brasileira Carla Diaz. [Read more…]
Resumindo: “atividades que provoquem vibrações” e “a actriz deitada na cama”
Quando? Onde? Hoje, no Expresso. Efectivamente, no Expresso. Exactamente.
Registem, caramba!

Foto AFP
Registem que Rui Pinto fez “um trabalho extraordinariamente importante para a defesa do interesse público”.
A Doyen “é um dos actores mais duvidosos do futebol de topo europeu e obteve lucros exorbitantes ao longo de muitos anos, investindo em jogadores e clubes. Muitos dos fundos da empresa foram canalizados através de paraísos fiscais.” e sabe-se que tem por detrás uma organização mafiosa cazaque dos irmãos Arif envolvida em todo o tipo de negócios escuros.
Ronaldo, condenado por evasão fiscal com base em dados da Football-Leaks, pagou 19 milhões de euros e foi condenado a dois anos de prisão – mas em liberdade condicional, porque foram bonzinhos.
Já o pequeno Rui Pinto é que é o grande criminoso, digno de indignação e que só merece prisão! Pelo menos em Portugal.
P.S.- “Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas esta máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem de que ninguém se deve meter com eles.”- Rui Pinto, aqui.
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